Coluna

Denis R. Burgierman

Temer, o monstro

22 de junho de 2017

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Quem sabe esse presidente desastroso não possa ao menos deixar esse legado positivo para o país: o de nos ensinar a evitar outros como ele

Difícil imaginar um símbolo mais bem acabado da falência institucional brasileira do que o triste presidente da República, Michel Temer. Flagrado em mentira, gravado sendo subserviente ao poder econômico, acusado de uma longa lista de crimes, vilipendiado por um país inteiro, indigno da confiança de quase todos os brasileiros, ao menos tem gerado bons memes. Xingar Temer tem sido uma das pouquíssimas satisfações cívicas que nos restou no Brasil.

Diante disso, ele olha para nós com firmeza e grita indignado que tem autoridade para fazer tudo isso e seguir presidente da República. E grita com tal convicção que todos nós tocamos a vida em frente, como que aceitando que ele tenha mesmo essa autoridade, conferida a ele pelo título que ele carrega. Pela instituição que ele representa.

E, no entanto, ele está saqueando essa instituição. Eleito por tabela após se esconder na campanha, ele despreza a vontade popular – orgulha-se aliás de poder prescindir dela. Descrito por seu comparsa Joesley Batista como o “chefe da maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil”, ele muito claramente trabalha para interesses privados. Enfim, tudo o que ele faz contraria logo de cara o parágrafo único do artigo primeiro do primeiro capítulo da principal lei da nação, a Constituição, que começa dizendo que “todo o poder emana do povo”. Está na cara que o poder de Temer não emana do povo. Óbvio que emana de algum outro lugar.

Em outras palavras, o presidente do país é essencialmente o oposto do que deveria representar a instituição que ele comanda. Óbvio que ele não deveria ser presidente. Óbvio que tem algo profundamente errado num sistema que permite que ele seja.

Quando penso no futuro que este momento atual da história nos legará, consigo imaginar dois cenários possíveis. Em um deles, aprendemos com os erros, encontramos as imperfeições do país e melhoramos. Em outro, o esfacelamento das nossas instituições acabam com elas e ficamos presos num redemoinho de instabilidade e autoritarismo, cometendo sempre os mesmos erros, nas mãos de velhacos como Temer.

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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