Coluna

Denis R. Burgierman

Já é Ano Novo (mas só na Califórnia)

04 de janeiro de 2018

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Com a legalização da maconha, esta semana, o principal estado americano sai em vantagem na disputa pela indústria que mais vai crescer na próxima década. Como de hábito, o Brasil vai ficar de fora

Segunda-feira, a Califórnia legalizou a maconha. Quatrocentas lojas já estão licenciadas para vender a erva e uma infinidade de produtos feitos dela para qualquer um que mostrar um documento provando que tem ao menos 21 anos – o mesmo que se exige de alguém que queira comprar uma cerveja.

A notícia nem foi dada com muito destaque por aí, porque ela é um passo a mais no lento processo de legalização da maconha nos Estados Unidos, que vem ocorrendo gradualmente há mais de 20 anos, desde que a mesma Califórnia legalizou o uso medicinal, em 1996. Hoje, a grande maioria dos estados americanos – 29 dos 50, fora o distrito de Columbia, onde fica a capital federal – permite o uso medicinal. E o número de estados que regulamentou a droga, não só para pacientes mas para qualquer adulto, não para de crescer – Colorado, Washington, Oregon, Alaska e Nevada já tinham dado esse passo antes da Califórnia, e Maine e Massachusetts serão os próximos, provavelmente ainda em 2018.

Dito assim, parece que o que aconteceu esta semana nem é tão importante assim. Só que é – e muito. E não só para quem usa maconha – por razões médicas ou sociais –, e nem só para os americanos. A legalização da Califórnia torna o processo praticamente irreversível e cria um novo mercado bilionário na economia mundial.

É que a Califórnia é enorme. Com 40 milhões de habitantes, é de longe o principal estado americano, e sua economia é maior do que a de qualquer país do mundo, com a exceção de cinco (EUA, China, Japão, Alemanha e Reino Unido). Ela sozinha tem mais que o dobro da população e da economia de todos os estados americanos que legalizaram a maconha antes, somados. Ou seja: no dia 1 de janeiro de 2018, a indústria da maconha deixou de ser uma curiosidade limitada a alguns cantos obscuros do mundo para se tornar uma realidade praticamente irreversível.

A regulamentação da droga nos EUA tem sido um sucesso evidente. O uso não cresceu significativamente, os estados passaram a arrecadar centenas de milhões em impostos e a fiscalização diminuiu claramente os efeitos nocivos da maconha. Com isso, 64% dos americanos já são a favor da legalização – uma maioria tanto entre os democratas quanto entre os republicanos. Tudo isso leva a crer que mais e mais estados vão seguir os passos da Califórnia nos próximos anos, ainda mais porque agora as campanhas pela legalização serão financiadas por uma indústria bilionária.

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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