Coluna

Denis R. Burgierman

Abril e o Brasil

15 de agosto de 2018

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Roberto Civita sabia que diversidade é a maior riqueza que ele podia buscar. Mas parece que sua empresa esqueceu disso

Conheci Roberto Civita numa tarde há 12 ou 13 anos. Eu já o havia visto muitas vezes, pelos corredores da empresa, onde eu trabalhava e ele dava ordens. Mas, até então, eu era só um entre os milhares de rostos impressos nos crachás com o logotipo da árvore verde. Naquela tarde, pela primeira vez, sentei à frente dele.

Eu tinha acabado de assumir o comando de uma entre as dezenas de revistas de sua propriedade, a “Superinteressante”. Fui à sua vasta sala envidraçada no 26° andar acompanhado de meu chefe de então, o Adriano Silva, que tinha cometido a temeridade de me entregar a responsabilidade, eu mal passado dos 30.

Entrei, sentei com São Paulo aos meus pés, ele abriu um daqueles sorrisos imensos dos quais era capaz e, com seu improvável sotaque meio americano, perguntou: “Quando vocês escolhem as ilustrações, vocês querem que seja feio ou erram mesmo?”

A conversa seguiu daí para baixo: ele começou a discordar de quase todas as escolhas que fazíamos. Na época, eu tinha bem mais arrogância que juízo, e discordei enfaticamente. Eu tinha índices de satisfação em alta para exibir – e também números crescentes de venda.

“A revista não é para você, doutor Roberto. É para gente mais jovem que você”, concluí, e ouvi escorregar a frase da minha boca com uma agressividade maior do que a que eu pretendia. Senti o Adriano soltar um meio suspiro ao meu lado, como quem folheia mentalmente uma lista de editores no mercado, pensando em alternativas à disposição.

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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