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Lilia Schwarcz

Como e por que vou votar neste segundo turno

22 de outubro de 2018

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Defender que os dois candidatos se equivalem é tomar parte de uma espécie de cegueira nacional. Por isso mesmo, não tenho dúvidas sobre o meu voto

Esta é uma coluna escrita no calor da hora. Faltam poucos dias para o segundo turno e, a essas alturas, é hora de assumir uma posição política e escolher um dos presidenciáveis. Na minha opinião, alegar neutralidade ou abstenção é uma forma de tomar partido.

Não estamos diante de uma eleição convencional. Em primeiro lugar, esta é a primeira vez que as mídias digitais desbancam a televisão e a imprensa, e que um candidato as utiliza recusando outros espaços e debates públicos. Em segundo, esta é também a primeira vez que dois candidatos chegam ao segundo turno com índices de rejeição tão elevados, o que indica que uma parte considerável dos brasileiros não se sente representada pelos presidenciáveis que estão disputando uma vaga na chefia do Executivo.

Como disse ao final da minha última coluna, não restam dúvidas de que os dois candidatos que concorrem à Presidência representam dois polos da política brasileira. No entanto, não me parece correto afirmar que ambos tenham o mesmo compromisso para com a democracia, ou que cada um deles tenha desempenhado o mesmo tipo de papel durante os anos em que vêm se dedicando ao exercício da política representativa.

De um lado está o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que em seus 28 anos como deputado federal só teve duas propostas aprovadas na Câmara e jamais incluiu na sua agenda política temas ligados à saúde, ao meio ambiente e à educação. Bolsonaro se concentrou em lutar por benefícios para militares e em apresentar-se como o líder daqueles que acreditam na volta da ditadura, da censura e da violência. Se ele não é uma novidade na política, seu partido com certeza é: ganhou espaço no Legislativo e no Executivo apenas depois das eleições do primeiro turno.

No seu programa de governo Jair Bolsonaro deixa em aberto muitas rubricas, para se concentrar, sobretudo, em duas: segurança e educação. Comecemos pelo começo, pela segurança. Segundo o documento disponibilizado pelo PSL, o objetivo maior de seu presidente é “reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos”; “facilitar a compra de armas por meio da revisão do estatuto de desarmamento”; lograr uma “atuação mais ampla das Forças Armadas” e a “imunidade aos militares”. Para a educação, o projeto concentra-se em “reforçar o ensino de disciplinas de ciências exatas e de português”; introduzir “ensino técnico em universidades”, prevê “a retirada da influência do pensamento de Paulo Freire do currículo escolar”; e pretende “criar escolas militares em todas as capitais brasileiras no prazo de dois anos”. Por fim, o documento “defende a ‘escola sem partido’, ao criticar a educação sobre questões de gênero”. Já nas áreas de habitação e meio ambiente, por exemplo, não há propostas registradas.

Lilia Schwarczé professora da USP e global scholar em Princeton. É autora, entre outros, de “O espetáculo das raças”, “As barbas do imperador”, “Brasil: uma biografia”, "Lima Barreto, triste visionário”, “Dicionário da escravidão e liberdade”, com Flavio Gomes, e “Sobre o autoritarismo brasileiro”. Foi curadora de uma série de exposições dentre as quais: “Um olhar sobre o Brasil”, “Histórias Mestiças”, “Histórias da sexualidade” e “Histórias afro-atlânticas". Atualmente é curadora adjunta do Masp para histórias.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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