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Este ano o Banco Mundial fez o seu relatório anual “World Development Report” inteiramente dedicado ao tema de educação em países em desenvolvimento . A crise de aprendizagem que assola o Brasil, apesar de aumentos significativos nos recursos dedicados à educação na última década, não é exclusividade nossa. Diversos países passam por dificuldades similares. Para dar uma ordem de magnitude ao problema, o relatório do Banco Mundial utiliza o exemplo de um jovem brasileiro de 15 anos. Dada a atual taxa de melhoria na aprendizagem medida pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, na sigla em inglês), teremos que esperar 75 anos para que um jovem brasileiro chegue ao nível de conhecimento de matemática de jovens residentes em países ricos com boas escolas.
Mas não são somente os jovens de 15 anos que estão ficando para trás. Em 2016 o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) realizou a terceira edição da Avaliação Nacional de Alfabetização. Ela foi aplicada a 2,2 milhões de estudantes cursando o terceiro ano do ensino fundamental em aproximadamente 48 mil escolas (90% dos alunos têm 8 anos de idade). Menos da metade dos alunos tiveram um resultado suficiente em leitura, 34% dos estudantes apresentaram proficiência insuficiente na escrita e mais da metade dos alunos apresentaram resultados insuficientes em matemática. Além desse quadro trágico, os resultados médios camuflam uma grande desigualdade. Nas regiões Norte e Nordeste, 70% dos alunos atingiram um resultado insuficiente em leitura e matemática.
O déficit de aprendizagem tem consequências diretas sobre a produtividade dos nossos trabalhadores, a distribuição de renda, a criminalidade, a saúde da população e o exercício da cidadania. Como podemos melhorar? O primeiro passo para formular políticas públicas efetivas deve ser um diagnóstico sério do que está errado. Temos que deixar de lado essa palhaçada de culpar professores marxistas e defensores da ideologia de gênero pelas mazelas do nosso sistema escolar e focar nossas energias em entender o problema. Organizações como o Todos pela Educação têm repetidamente apontado alguns dos nossos problemas nos últimos anos. E trabalhos mais antigos como os de Barbara Bruns e coautores e o relatório recente do Banco Mundial nos ajudam a sistematizar esses problemas.
Primeiro, as crianças chegam à escola despreparadas para aprender. Um grande número delas, especialmente as mais pobres, recebe pouco investimento em nutrição, saúde e estímulos nos primeiros anos de vida. Déficits cognitivos e socioemocionais, alinhados a ambientes repletos de estresss e violência, fazem com que a aprendizagem seja muito mais difícil para essas crianças. Além disso, muitas delas não têm acesso à educação infantil ou, quando têm, é de baixa qualidade. Há ampla evidência de que crianças com acesso à educação infantil têm melhor desempenho cognitivo na escola primária conforme mostram Berlinski, Galiani e Gertler para o caso da Argentina e diversos outros estudos para o caso brasileiro.
Segundo, muitos professores não têm as habilidades nem a motivação para lecionar de forma efetiva. A formação de professores no Brasil é extremamente teórica e não ensina como lidar com alunos dentro da sala de aula, como estimulá-los, e como evitar que alguns deles fiquem para trás. A pesquisa feita pelo Todos pela Educação com professores no Brasil mostra que 45% não receberam formação em gestão de sala de aula e 33% não têm conhecimento sobre métodos de avaliação da aprendizagem dos alunos. Além disso, professores são mal remunerados e ao longo da carreira, suas promoções e salários não dependem do esforço colocado na preparação de aulas e nas atividades executadas na escola.
Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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