Coluna

Claudio Ferraz

Do que falamos quando falamos em gestão escolar?

02 de maio de 2018

Temas

Compartilhe

Diversos estudos feitos nos Estados Unidos mostram que é possível melhorar os níveis de aprendizagem com mudanças práticas no cotidiano das escolas

Em 2018 19 mil estudantes brasileiros na faixa etária dos 15 anos farão provas do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), avaliação feita em vários países e coordenada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os resultados servirão de insumo para uma comparação internacional sobre aprendizagem nas áreas de leitura, matemática e ciências. O Brasil participa do PISA desde 2000 e o retrato que aparece nos últimos 15 anos não é bom. O desempenho dos alunos brasileiros é ruim, e está muito abaixo da média dos alunos em países da OCDE em ciências, leitura e matemática. A tendência também não é boa. A nossa média em ciências e leitura se manteve estável desde 2006. Na área de matemática, houve uma melhoria significativa entre 2003 a 2015, mas o desempenho continua muito ruim.

Parte do mau desempenho se deve à grande distorção idade-série existente no Brasil. Muitos jovens de 15 anos estão atrasados em pelo menos dois anos e desconhecem muito do que é perguntado na prova. Mas essa não é a principal causa dos nossos resultados ruins no Pisa. Conforme aponta o relatório da OCDE , apesar de o Brasil ter aumentado os investimentos em educação nas últimas décadas, a focalização desses gastos ainda é muito falha: “Aumentos no investimento em educação precisam agora ser convertidos em melhores resultados na aprendizagem dos alunos. Outros países, como a Colômbia, o México e o Uruguai obtiveram resultados melhores em 2015 em comparação ao Brasil muito embora tenham um custo médio por aluno inferior.”

Mas por que o Brasil tem retornos tão baixos com seus gastos educacionais? Parte da explicação está na forma equivocada com que gastamos os recursos educacionais. Numa pesquisa publicada em 2015 , Nick Bloom (Universidade de Stanford) e coautores coletaram dados de 1.800 escolas de ensino médio em oito diferentes países incluindo o Brasil. Eles entrevistaram os diretores das escolas e construíram medidas de gestão em quatro grandes áreas: operações, monitoramento, metas e pessoal. Enquanto as escolas do Reino Unido, Suécia e Canadá apresentam os melhores índices, as escolas do Brasil e da Índia apresentam os piores índices de gestão. Além disso, ao cruzar essas informações com medidas de desempenho escolar (resultados do Enem e Prova Brasil para o caso brasileiro), eles mostram que níveis mais altos de gestão escolar estão associadas com melhor desempenho dos alunos em provas padronizadas. Que práticas de gestão são associadas com melhor aprendizagem? Redes escolares que se saem melhor nos indicadores de aprendizagem são as que usam dados para acompanhar aprendizagem dos alunos ao longo do ano e planejar as aulas; usam métodos de monitoramento das atividades feitas por professores na sala de aula; estabelecem metas de aprendizagem; e usam algum tipo de premiação para bons professores. No Brasil, as redes estaduais ou municipais que mais melhoraram seu desempenho educacional na última década, como no estado do Ceará ou municípios como Sobral, adotaram várias dessas práticas.

A pesquisa descrita acima documenta relações entre gestão escolar e desempenho dos alunos em provas padronizadas, mas não nos diz nada sobre políticas específicas que podem ser adotadas pela redes para a melhoria da qualidade educacional. Um crescente número de estudos avalia intervenções educacionais com foco em melhoria da gestão.

Num trabalho publicado em 2013 no American Economic Journal , Will Dobbie e Roland Fryer, professores de Princeton e Harvard, usaram dados detalhados do funcionamento de 39 escolas charter na cidade de Nova York para entender o que faz essas escolas se diferenciarem. Eles entrevistaram os diretores, professores e alunos sobre temas relacionados com o desenvolvimento dos docentes, tempo de aula, uso de dados para as lições, comunicações com os pais e cultura escolar, políticas da escola,  e como medir o aprendizado dos alunos. Além disso algumas aulas foram filmadas e utilizadas para entender o tempo gasto nas diferentes atividades. Eles encontraram que metade da variação em desempenho escolar pode ser explicada por um índice de cinco tipos de políticas:feedback frequente dos professores, sessões com tutores para estudantes com dificuldades, aumento do tempo de aulas e foco positivo no bom desempenho acadêmico. Surpreendentemente, vários dos insumos tradicionalmente considerados importantes como tamanho de turma, gasto por aluno e proporção de professores com diploma avançado não parecem importar depois de considerar as medidas de gestão.

Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

Navegue por temas