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Escolher um tema para inaugurar minha coluna não foi fácil. A dúvida foi grande entre reflexões constantes, que vou chamar aqui de “temas antigos” e temas mais atuais. Optei pela segunda opção, que é na verdade uma mistura de reflexões novas e antigas. Para aproveitar o calor do momento, vou falar sobre raça, classe e gênero nos debates acerca da questão ambiental.
Algo me chamou atenção nos protestos que aconteceram pela internet e nas marchas em defesa da Amazônia que ocorreram nas grandes capitais. A cara da indignação era pouco diversa, racial e socialmente. Isso me faz pensar que a questão ambiental não é uma questão neutra, pois ela está inscrita num forte campo de disputas político-sociais. O que quero dizer é que falar de questão ambiental é falar de racismo, de classe, de território e de desigualdade de gênero.
Nos Estados Unidos, grupos de ativistas da causa da defesa do meio ambiente, compostos por mulheres negras, indígenas e latinas, têm demonstrado os limites daquilo que chamam de eco-feminismo. Segundo elas, os processos de tomadas de decisão e negociações entre governo, organizações não governamentais e empresas devem contar com sua participação. Sendo elas as maiores afetadas por essas decisões, essas mulheres têm insistido que o debate sobre meio ambiente deve ser composto por diferentes segmentos da sociedade, que não só grupos social e economicamente privilegiados. Mulheres ambientalistas de diversos grupos raciais e classes sociais querem estar na mesa de decisões sobre a melhor forma de garantir desenvolvimento sustentável, preservação da natureza e qualidade de vida para comunidades pobres.
Luciana Britoé historiadora, doutora em história pela USP e especialista nos estudos sobre escravidão, abolição e relações raciais no Brasil e EUA. É professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e autora dos livros “O avesso da raça: escravidão, racismo e abolicionismo entre os Estados Unidos e o Brasil” (Barzar do Tempo, 2023) e “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista” (Edufba, 2016), ganhador do prêmio Thomas Skidmore em 2018. É também autora de vários artigos. Luciana mora em Salvador, tem os pés no Recôncavo baiano, mas sua cabeça está no mundo. Escreve mensalmente às terças-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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