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Nos últimos dias, com o aparecimento de novos fatos relacionados à execução política da vereadora Marielle Franco, ficou ainda mais evidente o quanto esse crime que abalou o Brasil tem produzido efeitos decisivos sobre o momento histórico que estamos atravessando.
Conforme noticiado pela imprensa, as investigações sobre o caso chegaram a um possível envolvimento da família Bolsonaro com os assassinos, em uma trama que desencadeou imediatamente reações desesperadas do presidente da República, do ministro da Justiça e do procurador-geral da República, entre outros atores bolsonaristas, que trataram de desqualificar a denúncia sem que houvesse uma conclusão definitiva do processo investigatório.
Independentemente dos desdobramentos que se seguirão e da verdade sobre os fatos, a morte premeditada de Marielle e, por consequência, do seu motorista Anderson Gomes, é um marco que sintetiza a fermentação de profundos abalos na estrutura da sociedade brasileira. Presenciamos um cenário em transformação.
Forças conservadoras e autoritárias se debatem raivosas, mas também atualizam formas mais racionais e organizadas de infiltração na vida cotidiana. As esquerdas convencionais têm pouca capacidade demonstrada, até o momento, de coordenar esforços e promover ações de base para retomar a democracia institucional. Emergem experiências inovadoras de feição antissistêmica a partir das lutas feministas, antirracistas, LGBTI, indígenas, entre outras, por condições dignas de existência. O símbolo de Marielle interpela tudo isso.
Detratores da memória de Marielle insistem, sem sucesso, em negar a sua extraordinária projeção política. Espalham mentiras, tentam abafar o caso como se fosse mais um número para as estatísticas de violência, querem esvaziar a pergunta insuportável para eles – quem mandou matar Marielle? – com a pergunta estúpida de quem teria mandado um homem em sofrimento psíquico dar uma facada em Bolsonaro. Eles fracassam em todas essas investidas porque é impossível corromper o significado de Marielle. Não podem conter a energia das lutas que ela evoca e potencializa.
Áurea Carolina
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