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O Brasil todo se chocou na semana passada quando nove militares do Exército fuzilaram com 80 tiros um carro onde viajava uma família. Segundo algumas explicações, os militares teriam confundido as vítimas com bandidos. No começo do ano a Polícia Militar do Rio de Janeiro deixou 13 mortos numa operação em favelas de Santa Teresa e Catumbi. Aparentemente as mortes aconteceram quando os suspeitos já estavam rendidos, sugerindo que houve execuções por parte da polícia.
Esse tipo de violência patrocinada pelo Estado não acontece somente no Rio. Recentemente a polícia de São Paulo matou 11 pessoas em Guararema quando um grupo de 25 suspeitos realizaria roubo a agências bancárias. No ano passado, circulou um vídeo onde aparentemente a PM de São Paulo executa quatro suspeitos de roubar um carro . Em 2015, 12 pessoas morreram na Cabula, em Salvador, em confronto com a PM baiana e o Ministério Público Estadual da Bahia acusa a polícia de execução .
Esses casos, longe de constituírem eventos isolados, ilustram um problema estrutural: o crescimento da violência policial no Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sugerem que a letalidade policial mais que dobrou nos últimos 5 anos . O Brasil tem hoje a segunda polícia que mais mata seus cidadãos na América Latina , perdendo apenas para El Salvador.
A violência policial, que afeta principalmente cidadãos mais pobres, negros e residentes de favelas traz custos incalculáveis para a sociedade. O custo direto para as famílias envolvidas é enorme com perdas de vida e esperança. Mas além disso há diversos outros custos difíceis de mensurar e pouco discutidos, que podem gerar grandes perdas para a sociedade brasileira no longo-prazo.
A primeira grande consequência do excesso de violência policial é a perda de confiança da população na polícia e a perda de legitimidade do Estado. O Estado deveria exercer seu monopólio da violência para proteger o cidadão e a polícia deveria ser a primeira a cumprir a lei. Na prática, a polícia muitas vezes faz sua própria lei e a executa. Na mais recente pesquisa do Latinobarômetro, feita em 2018, mais da metade dos brasileiros respondeu que têm pouca ou nenhuma confiança na polícia. Uma pesquisa recente do Datafolha aponta que metade dos brasileiros tem medo da polícia . Mas por que isso importa?
Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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