Coluna
Randolfe Rodrigues
O que fazer diante das crescentes incertezas e desigualdades?
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Desde a crise de 2008, o sistema econômico é uma máquina acelerada de geração e aprofundamento das desigualdades sociais. O último relatório do banco Credit Suisse sobre a riqueza global, datado de 2019, informa que 10% da população concentra 85% dessa riqueza enquanto 50% detêm 1%. Essa concentração acompanha uma riqueza crescente –em meados de 2018 o mundo acumulava mais renda e patrimônio do que nos 12 meses anteriores, com um incremento de cerca de 5%. O novo coronavírus é o combustível que faltava para elevar essa tragédia à última potência.
No Brasil, a desigualdade é dramática, segundo o relatório citado, e o 1% mais rico da população detém 49% da riqueza. Diante dessa realidade, é incontestável a necessidade de lutarmos por um sistema de proteção social gratuito e universal. Estamos falando de saúde, educação, Previdência, assistência social, emprego e renda mínima universal. Tenho colocado o meu mandato a serviço dessas políticas. Fomos contra a PEC do Teto, contra a reformas trabalhista e previdenciária, e apresentamos emendas que reduziram alguns dos danos impostos aos trabalhadores nessas propostas.
Recentemente, apresentamos, entre outros, os Projetos de Lei sobre o fortalecimento do SUS e a valorização dos profissionais de saúde (PL 1529/2020) e o Projeto de Renda Básica de Cidadania Emergencial (PL 873/2020), aprovada em 23 de abril no Senado e que seguiu para sanção do Presidente da República. Nesse projeto, expandimos a renda básica para cerca de 100 categorias, entre elas taxistas, mototaxistas, trabalhadores da cultura e de cooperativas. Porém, acredito que haverá necessidade de estender a renda mínima para ao que virá pós-pandemia, considerando o cenário econômico traçado pelos principais organismos internacionais que indicam aumento do desemprego e da desigualdade em todo o mundo.
A economia brasileira, que já não caminhava bem antes da crise, sofrerá mais ainda com a forte recessão mundial e a queda do comércio internacional que serão consequências prováveis dessa pandemia. O impacto sobre o modelo atual de globalização será muito forte. O mundo pós-covid-19 deverá ser mais multilateral e aponta no sentido contrário ao que vem sendo construído por Jair Bolsonaro que cada vez mais subordina o destino do Brasil aos interesses regionais dos EUA. O Banco Mundial estima uma contração de 5% no PIB brasileiro e vários dos nossos economistas já preveem uma queda de até 10%.
Para reverter esses efeitos, são insuficientes as últimas propostas apresentadas pelo governo no Plano Pró-Brasil, que estima investimentos médios anuais de R$ 30 bilhões, e o plano de privatizações que propõe a venda de empresas como a Eletrobras, a Embrapa, a EBC e os Correios, entre outras. Quem vende patrimônio em um momento de recessão, quando os ativos estão profundamente desvalorizados? Isso sem falar que, neste momento, vários países estão se preparando para estatizar suas empresas fortemente atingidas pela crise, no movimento de proteção interna em reação às investidas especulativas.
Randolfe Rodrigues
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