Coluna
Marta Arretche
Sobre popularidade e eleições: Bolsonaro ganhará o Nordeste?
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Causou grande impacto na opinião pública a divulgação dos resultados da mais recente pesquisa Datafolha, feita em 11 e 12 de agosto. A aprovação do governo Bolsonaro cresceu cinco pontos percentuais em menos de dois meses. Sua taxa de rejeição caiu dez pontos percentuais, de 44% para 34% entre os que consideram seu governo ruim ou péssimo. A reversão é digna de nota.
Olhares menos atentos atribuíram ao resultado uma causa suficiente — o auxílio emergencial — e um ator principal — os pobres do Nordeste. A despeito de sua declarada inapetência para governar, de seu desprezo pela tragédia sanitária em curso, de sua renitente grosseria, Bolsonaro teria sido mais uma vez premiado pela sorte. Ganhou de presente do Congresso a mesma “bala de prata” que teria dado origem ao lulismo: um programa de renda para chamar de seu. Vai ganhar a próxima eleição e vai quebrar o Estado, temem os progressistas e os liberais.
Bolsonaro mordeu a isca. Vestiu um chapéu de couro e saiu por aí. Não aceita menos que um programa com piso de R$ 300. Paulo Guedes que se vire.
Uma leitura mais atenta dos dados mostra que não é bem assim. Comecemos pelo corte por renda. Veja o gráfico abaixo. Apresenta quem avalia o governo Bolsonaro como ótimo/bom. Esta apreciação cresceu, de modo homogêneo, em todos os segmentos de renda (representados pelo número de salários mínimos). Não foi apenas entre os pobres. Estaria o auxílio emergencial sendo tão mal administrado a ponto de beneficiar todos os segmentos de renda? Não creio. Logo, não é razoável atribuir a recuperação do governo Bolsonaro apenas aos pobres beneficiados pelo auxílio.
Marta Arretcheé professora titular do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole. Foi editora da Brazilian Political Science Review (2012 a 2018) e pró-reitora adjunta de pesquisa da USP (2016 a 2017). É graduada em ciências sociais pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), fez mestrado em ciência política e doutorado em ciências sociais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e pós-doutorado no Departamento de Ciência Política do MIT (Massachussets Institute of Technology), nos EUA. Foi visiting fellow do Departament of Political and Social Sciences, do Instituto Universitário Europeu, em Florença. Escreve mensalmente às sextas-feiras.
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