Coluna

Randolfe Rodrigues

O indefectível 2020 e o que queremos construir em 2021

02 de janeiro de 2021

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O ano que se passou representa um período bem atípico em nossas vidas, mas graças a ele pudemos reexaminar o nosso lugar na história e refletir sobre como podemos contribuir para a vida no planeta

Chegamos ao final de mais um ciclo e a sensação é a de que 2020 foi um ano ímpar na história humana. Não será fácil encontrar paralelos na ciranda de acontecimentos vividos e desafios impostos à humanidade. Bissexto, 2020 reservou para nós 366 dias em que misturou angústia, medo, perdas e esperança. Afinal, após as incertezas decorrentes da pandemia do novo coronavírus, o ano termina com diferentes campanhas de vacinação contra a covid-19, devolvendo confiança aos povos e países na retomada da vida cotidiana.

Em março, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que vivíamos uma pandemia, tínhamos poucas informações sobre o novo coronavírus e as consequências da sua contaminação em humanos. Sabíamos que era perigoso, que tinha alta facilidade de transmissão e que poderia levar à morte.que era transmitido facilmente Vimos, então, no isolamento social e na restrição da circulação e concentração de pessoas importantes ferramentas de combate à doença.

A rapidez com que o coronavírus se espalhou pelo mundo assustou autoridades sanitárias, especialmente pela inexistência de um protocolo de tratamento para a covid-19. Diferentes abordagens e medicamentos foram utilizados e até o momento não existe uma rotina médica específica para o tratamento, sendo cada caso analisado de acordo com padrões observados e descritos em publicações científicas dedicadas à investigação do novo coronavírus.

O contágio facilitado e a persistente taxa de óbitos relacionados à covid-19 imprimiram ainda mais urgência na obtenção de meios que evitem a sua propagação e as múltiplas consequências associadas à pandemia. A busca por vacinas contra o novo coronavírus virou um desafio compartilhado por diversos laboratórios e cientistas espalhados ao redor do globo. E, cerca de nove meses após a explosão das contaminações, os primeiros imunizantes começam a ser disponibilizados e aplicados nas pessoas.

As vacinas em utilização tiveram sua segurança e eficácia aferidas em testes laboratoriais conduzidos de acordo com as exigências sanitárias celebradas em acordos internacionais. Até o momento, três imunizantes cumpriram todos os requisitos de biossegurança e estão sendo administrados em diferentes países da Europa, Ásia e América do Norte. Outros países aguardam o recebimento de suas doses para darem início às suas campanhas de vacinação.

A chegada da pandemia do novo coronavírus evidenciou que, assim como outros seres vivos, também estamos sujeitos à extinção

Além das vacinas, outro tema relacionado à pandemia do novo coronavírus merece destaque neste peculiar 2020: o ressurgimento do debate acerca de uma renda mínima cidadã com o objetivo de evitar a miséria extrema e fomentar a economia. As restrições de circulação das pessoas e o isolamento social tiveram profundo impacto na atividade econômica. O que impediu uma quebra e miserabilidade generalizada foi justamente a distribuição de recursos para aqueles que perderam seu ganha-pão devido à pandemia.

A injeção deste dinheiro nos orçamentos familiares garantiu a compra de alimentos durante o período crítico do isolamento social e ajudou a manter abertas as portas de milhares de pequenos negócios espalhados pelo Brasil. Neste sentido, propusemos no parlamento que o pagamento do auxílio emergencial fosse estendido a outras categorias profissionais que não estavam previstas inicialmente no projeto do governo federal. O Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, entendeu a necessidade e ampliou o benefício, que chegou a ser pago a mais de 50 milhões de brasileiros e brasileiras. Uma vitória de todo o povo.

É muito comum reservarmos este período para fazermos inventários para o ano que se inicia e examinarmos o ano que passou. Elaboramos listas com os objetivos alcançados e criamos novos, renovando a própria esperança e lapidando os talentos que nos fizeram chegar até aqui. E, embora 2020 tenha sido bem atípico, foi um ano que proporcionou à humanidade reexaminar o seu lugar na história e refletir sobre como contribuir para a manutenção da vida no planeta Terra.

A espécie humana se diferencia das demais pela sua capacidade de raciocínio, contextualização e entendimento da realidade, o que permitiu à humanidade perpetuar os seus genes. Mas, a exemplo dos demais seres vivos, também estamos sujeitos à extinção. A chegada da pandemia do novo coronavírus evidenciou esta nossa fragilidade. E é justamente por sermos dotados de raciocínio e contextualização da realidade que nos circunda que venceremos mais este desafio.

O feliz ano novo pode carregar um certo amargor ou mesmo azedume diante de tantas perdas acumuladas em um curto espaço de tempo. Mas são votos que habitualmente renovam a esperança e exprimem o nosso desejo de fazermos sempre o melhor. Feliz 2021!

Randolfe Rodrigues

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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