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O “apagão” que no dia 4 de outubro tirou do ar por longas horas todo o “império” do Facebook pareceu simbolizar o momento negativo por que passa a companhia de Mark Zuckerberg. As denúncias da ex-funcionária Frances Haugen, em rede nacional de TV e perante o Congresso norte-americano, deram mais força à visão de que o Facebook tem sido uma força negativa, amplificando conteúdos polarizadores e nocivos à saúde mental dos usuários.
O mais impressionante deste momento é o contraste com a perspectiva de dez anos atrás. No bojo da “Primavera Árabe” que derrubava regimes ditatoriais no Oriente Médio, a percepção era de que as redes sociais – e o Facebook em particular – eram uma arma poderosa em benefício da democracia.
Não é difícil entender a lógica. O fato é que a indústria de mídia tem uma importância peculiar no cenário político: ela fornece informação, e é através desta que os cidadãos conseguem monitorar seus governantes, e assim puni-los ou recompensá-los por seu desempenho. Não é à toa que ditadores pelo mundo afora sempre procuraram censurar ou capturar os veículos de mídia.
Tal como argumentaram estudiosos do tema, essa dinâmica torna a presença de concorrência e diversidade de oferta nesse setor ainda mais importante do que em outros: capturar a mídia se torna bem mais caro quando é preciso silenciar diversos veículos. Em outras palavras: se a concorrência no mercado de biscoitos contribui para preços mais baixos e uma melhor satisfação dos desejos dos consumidores, no caso do mercado de mídia ela garante a democracia.
O Facebook e assemelhados representaram uma explosão sem precedentes na diversidade e abundância de oferta nesse mercado. Ipso facto, as redes sociais augurariam uma era de expansão democrática.
Filipe Campanteé Bloomberg Distinguished Associate Professor na Johns Hopkins University. Sua pesquisa enfoca temas de economia política, desenvolvimento e questões urbanas e já foi publicada em periódicos acadêmicos como “American Economic Review” e “Quarterly Journal of Economics”. Nascido no Rio, ele é PhD por Harvard, mestre pela PUC-Rio, e bacharel pela UFRJ, todos em economia. Foi professor em Harvard (2007-18) e professor visitante na PUC-Rio (2011-12). Escreve mensalmente às quintas-feiras.
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