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Clientes bolsonaristas da XP Investimentos pressionaram a corretora para que os resultados de uma nova pesquisa eleitoral não fosse divulgado . Isso parece esquisito já que o único motivo pelo qual uma corretora teria incentivos para fazer pesquisas eleitorais seria para informar seus tomadores de decisões e clientes. Imagino que essa informação sirva para que eles tomem melhores decisões financeiras. Então por que a corretora e alguns de seus clientes acreditam que menos informação é melhor do que mais informação?
O medo deles é que o resultado de uma pesquisa eleitoral que seja muito desfavorável ao seu candidato possa afetar o resultado final da eleição de outubro. Ou seja, que ao saber que Lula está próximo de ganhar a eleição no primeiro turno mais pessoas apareçam para votar e outras mudem seu voto de forma estratégica para derrotar Bolsonaro logo de cara. Mas será que isso faz sentido? Uma pesquisa que mostra que um candidato está na frente pode fazer com que as pessoas decidam votar nele?
Apesar de existir uma vasta evidência empírica com experimentos de laboratório mostrando que indivíduos respondem à competitividade eleitoral , até pouco tempo atrás a evidência com dados reais era limitada e muitos economistas e cientistas políticos não acreditavam que eleições concorridas pudessem explicar a decisão de votar. Um trabalho recente do economista Leonardo Burztyn e coautores traz uma nova luz para esse debate. Os autores usaram dados de alta frequência de pesquisas eleitorais na Suiça e diversas votações em referendos . Eles descobriram que a informação de que uma eleição será apertada afeta de forma significativa a decisões dos eleitores de se deslocarem para votar. Os dados mostraram que o efeito de pesquisas eleitorais é magnificado quando jornais locais usam essa informação em suas notícias, como seria esperado. É claro que no Brasil o voto é obrigatório então esse fenômeno tende a ser menor. Mas mesmo assim ele pode ser relevante. Primeiro porque as taxas de participação em eleições caíram na última década. Segundo porque grupos de jovens, em que o voto não é obrigatório, podem fazer uma grande diferença em uma eleição apertada.
Mas não é só na decisão de votar ou não que pesquisas de opinião podem ter efeito. Temos ampla evidência empírica de que um grande grupo de eleitores vota de forma estratégica . Ou seja, muitas vezes vota em um candidato que não seria sua primeira opção para evitar que o outro que está muito longe de sua preferência ganhe. Nesse contexto, resultados de pesquisas eleitorais podem servir como mecanismo de coordenação. Ao saber que outras pessoas também estão pensando em votar num candidato, você vota por esse candidato.
Esse efeito de bandwagon, como é chamado nos EUA, pode acontecer ao longo de uma campanha eleitoral quando pesquisas de intenção de voto dão resultados diferentes do esperado e funcionam como mecanismo de coordenação. Nos EUA, as eleições primárias servem muitas vezes como mecanismo de coordenação, como mostraram Brian Knight e Nathan Schiff . Num trabalho muito criativo chamado “ Exit polls, turnout, and bandwagon voting: Evidence from a natural experiment ”, Rebecca Morton e coautores usaram um experimento natural no contexto da França. Antes da mudança de legislação, eleitores de territórios franceses votavam depois de resultados de boca de urna já terem sido divulgados em território francês. Assim, elas testaram se essa informação afetava a decisão de votar e em quem as pessoas acabavam votando. Elas constataram que o conhecimento do resultado diminui o comparecimento às urnas. Mas também descobriram que as pessoas que compareceram às urnas votaram mais no candidato que liderava as pesquisas de boca de urna, o que é compatível com um efeito manada a favor do ganhador.
Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.
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