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Filipe Campante
Por que Jair Bolsonaro precisa ser punido de forma rigorosa
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As recentes revelações obtidas pela Polícia Federal, e divulgadas pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo, não deixam dúvidas: o Brasil viveu em 2022-23 uma tentativa de golpe de Estado. Aliado a segmentos das Forças Armadas, o governo de Jair Bolsonaro tramou para subverter o resultado das eleições. A tentativa fracassou, como era provável que fracassasse, mas ela ocorreu, e não era impossível que tivesse êxito.
Diante do insucesso, é natural pensar que a melhor opção é seguir em frente sem mexer em vespeiros, fardados ou não. Tudo está bem se acaba bem, como disse o bardo, não há por que ficar revirando o passado e correr o risco de desestabilizar o cenário político e institucional após os anos conturbados que vivemos.
Esse impulso é tão natural quanto equivocado. Punir Jair Bolsonaro e seus colaboradores não é um ato de revanchismo voltado para o passado; ao contrário, trata-se de uma medida preventiva, com o olhar fixo no futuro.
Para entender o porquê, é preciso ter em mente a fragilidade inerente à democracia enquanto arranjo institucional. Partindo do princípio de que políticos têm por objetivo adquirir poder, e de que quem está no poder tem à disposição recursos valiosíssimos para a tarefa de lá se manter, fica evidente a tensão: a democracia pressupõe o desarmamento voluntário em caso de derrota eleitoral.
O que torna a democracia viável é um equilíbrio delicado: quem está no poder topa sair, confiando que será possível retornar no futuro. Isso pressupõe que quem entra não irá abusar das vantagens potencialmente conferidas a quem está no comando, e assim por diante.
Filipe Campanteé Bloomberg Distinguished Associate Professor na Johns Hopkins University. Sua pesquisa enfoca temas de economia política, desenvolvimento e questões urbanas e já foi publicada em periódicos acadêmicos como “American Economic Review” e “Quarterly Journal of Economics”. Nascido no Rio, ele é PhD por Harvard, mestre pela PUC-Rio, e bacharel pela UFRJ, todos em economia. Foi professor em Harvard (2007-18) e professor visitante na PUC-Rio (2011-12). Escreve mensalmente às quintas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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