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Pensei que não ia me interessar muito por “Ripley”, seriado de suspense que faz sucesso na Netflix. Afinal, eu já tinha lido o livro de Patricia Highsmith que lhe serviu de base; já tinha visto “O sol por testemunha”, filme de René Clément com Alain Delon feito em 1960; e também a versão mais recente de Anthony Minghella, com Matt Damon e Jude Law.
Em matéria de atores bonitos, portanto, a Netflix não tinha muito como sair ganhando. Parece até de propósito: o papel de Tom Ripley, o impostor da história, foi confiado a Andrew Scott, excelente ator no gênero “interiorizado” e “tenso”, mas com baixíssimo coeficiente de sedução física. O playboy milionário Dickie Greenleaf, que era Jude Law em 1999 e Maurice Ronet em 1960, agora é um americanão loiro sem graça nenhuma, Johnnie Flynn.
Depois, a série é em preto e branco, esnobando o inesquecível azul das praias mediterrâneas que brilhavam no filme de Clément. Concordo, entretanto, que é ótima a fotografia soturna da Netflix, explorando vielas descascadas e hotéis de última numa Itália bem pouco turística.
A personagem Maggie, que em 1960 tinha Maria Laforêt para fazer da história um triângulo amoroso para lá de quente, e que no filme de Minghella era Gwyneth Paltrow num grande desempenho dramático, praticamente desaparece na Netflix. Vira uma espécie de chata procurando o tempo todo pelo namorado desaparecido.
Apesar de todos esses pesares, não desgrudei da série. Já sabia o que ia acontecer, mas em nenhuma das três versões do livro as coisas acontecem do mesmo jeito.
Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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