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Luiz Augusto Campos

Algumas razões para não votar em branco nessas eleições

02 de outubro de 2024

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Voto em grupos desfavorecidos agregam à política não apenas interesses e ideologias determinadas, mas também um conhecimento vivido e específico de diversos problemas sociais

No domingo (6), o Brasil vai às urnas escolher seus representantes municipais. Apesar de o senso comum em geral considerar as eleições locais menos importantes, as responsabilidades constitucionais dos municípios têm enorme peso no nosso cotidiano. Cabe aos governos locais gerir o ensino fundamental, da creche ao nono ano de estudo, a atenção básica de saúde, a infraestrutura urbana, do pavimento das ruas e calçadas à iluminação pública, passando por parte dos sistemas de transporte e mobilidade.

É por esse motivo que as campanhas municipais tendem a focar mais em problemas locais do que nas grandes pautas nacionais. Na campanha deste ano, contudo, essas fronteiras entre o local e o nacional ficaram ainda mais nebulosas. Os desastres ambientais, da névoa de fumaça em São Paulo às enchentes no Rio Grande do Sul, tornaram bem palpáveis as mudanças climáticas, tema cada vez mais abordado pelos candidatos municipais. O mesmo, contudo, parece não se aplicar aos debates sobre desigualdades de raça e gênero, ainda restritos nas campanhas municipais.

Pode-se argumentar que os governos municipais podem pouco em relação às desigualdades raciais e de gênero e que, portanto, tais temas deveriam ser mais salientes na política nacional ou, no máximo, nas grandes metrópoles. Isso, contudo, reflete um entendimento estreito da democracia e, especialmente, da representação política.

Idealmente, votamos em políticos que defendem determinados interesses e/ou ideologias políticas que valorizamos. E nesse aspecto, o sistema eleitoral brasileiro é pródigo em fornecer aos eleitores e eleitoras um sem número de nomes e projetos políticos distintos. Com todos seus limites e iniquidades, temos mais de 400 mil candidatos e candidatas à vereança só este ano, o que torna as eleições municipais brasileiras uma das maiores do mundo. São também uma das mais diversificadas eleições em termos de pluralidade ideológica e de interesses representados, algo promovido pelo sistema eleitoral multipartidário e de lista aberta.

Mas não são só interesses e ideologias que importam na política contemporânea. Grande parte dos debates políticos atuais demandam o conhecimento vivido por diferentes grupos que experienciam de modo particular os problemas cotidianos que atravessam nossas cidades. Não é preciso ter uma enorme carga de empatia para perceber que as mazelas sociais que assolam o Brasil atingem desproporcionalmente parcelas específicas da população.

Luiz Augusto Camposé professor de sociologia e ciência política no IESP-UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), onde coordena o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, o GEMAA. É autor e coautor de vários artigos e livros sobre a relação entre democracia e as desigualdades raciais e de gênero, dentre os quais “Raça e eleições no Brasil” e “Ação afirmativa: conceito, debates e história”.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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