Coluna

Marcelo Coelho

O pior de celulares e redes sociais é que destroem vida social

13 de novembro de 2024

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Sociabilidade está em crise completa. E, ironicamente, seus sintomas já se expressam com muita força no próprio mundo dos aparelhos telefônicos, dos emails, dos whatsapps

Proibir celular nas escolas, para mim, é uma iniciativa tão óbvia que nem chego a entender por que precisou ser discutida e ser objeto de uma lei. Deveria ser automático: qualquer professor ou diretor de colégio haveria de ter, imagino, autoridade para decidir isso. 

No recreio, já não sei; mas em sala de aula, como é possível que se tenha chegado a uma situação em que conversinhas e instagranzinhos competissem com a palavra do professor?

Li em algum lugar que os efeitos positivos da proibição se tornam visíveis imediatamente, e que as próprias atividades do horário de intervalo se tornam mais “normais”: crianças correndo, por exemplo; “brincando” à moda antiga, ou pelo menos se aventurando a olhar o rosto uma da outra, sem fixar-se na telinha.

Vejo que o problema do celular e dos computadores não é só o de que alterem nossa concentração ou de que mudem, para bem ou para mal, o desempenho do cérebro. A questão é de sociabilidade.

A bem dizer, as redes sociais são bem pouco “sociais” num sentido mais amplo. Com certeza, nós nos comunicamos com mais frequência e rapidez. Só que “socializar” e “comunicar” são coisas bem diferentes.

Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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