Em matéria de teatro, não sou muito amigo da “loucurada”. Prefiro as peças explicadinhas, com boa troca de argumentos, e se a coisa tiver ressonância política e moral, acho melhor ainda.

Mas também é preciso abrir algumas exceções. Faço isso com enorme alegria no caso de “Telúrica”, espetáculo da Companhia Teatral Ueinzz, que fica em cartaz na Casa do Povo, em São Paulo, até dia 12 de maio.

O que temos aqui não é a loucurada normal. A loucurada normal me irrita porque é forçada; o ator, ou o escritor da peça, sabem perfeitamente que não têm nada de loucos, no sentido clínico, e se fazem de loucos por opção estética.

Você conhece o gênero. Não citarei nomes, mas é comum o caso daquele poeta que resolve contar um passeio noturno pela cidade de São Paulo, e aí escreve versos mais ou menos assim: “bebo na alma dos travestis as luzes vermelhas do meu delírio”.

Além de bastante egocêntrico, esse tipo de coisa me irrita porque quem escreve isso está fazendo um jogo duplo. Diz que está “delirando”, mas se ele próprio sabe que está delirando, então ele está consciente do seu estado mental, e portanto… não está delirando.