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Ana Claudia Santano, Flávia Pellegrino, Igor Pantoja e Marcio Black
O número de abstenções nas eleições municipais vem crescendo desde 2004 e pode atingir patamares sem precedentes no pleito de 2020. Exercer o direito ao voto talvez seja, hoje, a ação mais assertiva ao alcance do cidadão frente aos efeitos da pandemia
Embora os holofotes se voltem às candidaturas e aos partidos políticos durante períodos eleitorais, o protagonismo desse rito vital à democracia é de outro ator: o eleitorado. Este ano, porém, corremos um imenso risco de os protagonistas desse processo optarem por não exercer seu papel e seu direito ao voto nos 5.570 municípios brasileiros.
O receio do contágio pelo novo coronavírus deve se somar aos motivos pelos quais a participação eleitoral vem caindo ano a ano no país. Tudo indica que o descrédito na política, o ceticismo quanto à integridade dos atores políticos, o sentimento de falta de representatividade e a insatisfação com a própria democracia vêm se ampliando e refletindo na ausência de votantes nas eleições municipais desde 2004. Naquele ano, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a abstenção chegou a 14,22%; no pleito seguinte, em 2008, a 14,5%; em 2012 a taxa foi de 16,41%; mais recentemente, em 2016, atingiu-se o maior índice até então: 17,58% (dados referentes aos primeiros turnos das eleições).
Em 2020, esses números podem atingir patamares sem precedentes em razão da pandemia, e a sociedade civil organizada está preocupada. Reconhecemos, evidentemente, a gravidade da atual crise sanitária e a importância de que os protocolos estabelecidos pelo TSE sejam seguidos à risca por cada cidadão e cidadã ao se dirigirem às urnas. Mas acreditamos que a democracia deva ser encarada como atividade essencial e que votar talvez seja, hoje, a ação mais assertiva ao alcance do cidadão frente aos efeitos da pandemia, uma vez que muitos dos atuais representantes nos deixaram à nossa própria sorte nesses longos meses em que, só no Brasil, mais de 160 mil vidas findaram, vítimas do contágio desenfreado pelo coronavírus.
Diante da desoladora calamidade sanitária em curso em nosso país, torna-se possível afirmar: neste momento, a maior insegurança reside em se abster e abrir mão da escolha daqueles que conduzirão o combate à pandemia e a suas múltiplas consequências a partir do ano que vem. Ter a chance de eleger novos representantes em tempos de grave crise como a atual é, na realidade, uma enorme e valiosa oportunidade, sobretudo em âmbito municipal, esfera responsável por políticas públicas que afetam tão diretamente nosso dia a dia, inclusive pelo atendimento básico de saúde. Votar em candidaturas efetivamente comprometidas com a vida e com o enfrentamento aos efeitos perversos gerados pelo novo coronavírus parece ser o caminho possível para que finalmente possamos contar com políticas públicas mais consistentes para trilharmos a retomada dos nossos cotidianos de maneira realmente segura.
Desde maio, dezenas de organizações uniram-se na campanha “Eleições Seguras 2020 – Democracia é atividade essencial”, que em suas primeiras etapas lutou pela garantia da realização do pleito de forma suficientemente segura ao redor do país. Agora, o chamado é simples e único: no dia 15 de novembro, vote! Em 2020, mais do que nunca, o exercício desse direito terá um amplo impacto na vida de cada brasileiro, independentemente da sua cidade de residência — afinal, o coronavírus não respeita fronteiras. Nosso futuro como indivíduos e sociedade está em nossas mãos, eleitores e eleitoras. Eleger representantes comprometidos com a vida e o bem-estar social é urgente e vital.
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