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Giane Moeckel Caetano
A proatividade e a determinação de profissionais têm garantido atendimentos efetivos e determinantes para a qualidade de vida e o bem-estar da população
Mudar métodos é uma forma de inovar no serviço público. Com isso, é possível desenvolver ações que dão visibilidade e valorizam tanto as equipes quanto os usuários dos serviços. Desenvolver projetos que ofereçam palestras interativas através de dinâmicas e jogos, que disponibilizem também a possibilidade de parcerias com o comércio local, com escolas, ONGs, empresas e instituições religiosas fazem parte da inovação.
O PSF (Programa Saúde da Família) tem como objetivo a assistência integrada, a humanização das práticas de saúde e a contribuição para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença de forma integrada e contínua. Nele, há propostas de orientações em grupos, que são formados por mães, gestantes, idosos, adolescentes, hipertensos e diabéticos, entre outros. Foi por meio desse programa do Ministério da Saúde que realizei projetos e ações de minha autoria, tanto dentro de instituições quanto em empresas, ONGs e colégios. Esses projetos focam a educação e a prevenção em saúde utilizando a arteterapia como estratégia.
Um dos projetos, por exemplo, se chama “Veredas, um novo caminhar”. Ele surgiu após um membro de um grupo da terceira idade que vinha com frequência na Unidade de Saúde em que trabalho ter se suicidado. A realização do projeto, que existe desde 2014, foi possível devido às parcerias entre as secretarias de Assistência Social e Agricultura, comércio local e voluntários. Os objetivos do projeto são muitos, mas entre eles estão realizar ações de saúde sob o ponto de vista multiprofissional junto aos idosos contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida, manter o tratamento das comorbidades, realizar oficinas terapêuticas para estimular a memória e aumentar a capacidade de compreensão e desenvolver a coordenação motora e as funções cognitivas.
Muitos dos objetivos dos projetos que realizo são conquistados por meio da arteterapia. A partir de uma oficina, por exemplo, é possível mostrar como buscar o autoconhecimento e a valorização pessoal através da aplicação de técnicas de pinturas, é possível também ampliar a rede de sociabilidade e comunicação, além de reconhecer e valorizar as histórias pessoais de cada participante e trabalhar a coordenação motora.
A metodologia empregada nas oficinas leva em conta a concentração, a reflexão e a ação nas quais se pretende superar os problemas, fazendo com que a pessoa consiga expressar através da arte os seus sentimentos internos, resgatando a autoaceitação e a autoestima.
Mudar métodos é uma forma de inovar no serviço público. Com isso, é possível desenvolver ações que dão visibilidade e valorizam tanto as equipes quanto os usuários dos serviços
Durante os encontros do grupo de idosos em Martinópolis, em São Paulo, uma das atividades propostas foram as oficinas de artesanato e pinturas chamadas de “Saúde em cores”. As oficinas surgiram após notarmos o interesse dos participantes nas oficinas de pintura, e envolvem diversas técnicas. A cada trabalho terminado o idoso se mostrava feliz e contava uma história de sua vida. Assim, realizamos uma exposição interna para expor as pinturas, elevando a autoestima do grupo e, pensando neste resgate de identidade, sugerimos uma exposição em local público, onde os saberes desta geração poderiam ser compartilhados e valorizados. A princípio, este era um projeto voltado para os idosos, mas se estendeu a outros grupos.
Entre os inúmeros projetos que realizamos, estão também o trabalho com gestantes, como o “Gestando o futuro: mãe orientada, bebê saudável”, que consiste em um grupo de mulheres grávidas que se encontra mensalmente para dar e receber orientações. O objetivo do grupo é auxiliar a mulher nesta etapa de sua vida, estreitando o vínculo entre o profissional da saúde e as futuras mães. Para o projeto, nós ministramos palestras com temas voltados à saúde da mãe e do bebê. Desenvolvemos também um trabalho de prevenção quanto a pré-eclampsia e eclampsia, diabetes gestacional, complicações na amamentação, cuidados com a dentição, parto e pós-parto, além de outros temas que surgem conforme o interesse das participantes.
O cenário atual exige mudanças desafiadoras em todos os contextos. Na atenção primária em saúde, essas mudanças estão sendo intensas, mas a proatividade e a determinação de profissionais têm garantido atendimentos efetivos, de qualidade, resolutivos e determinantes para qualidade de vida e bem-estar da população. É possível promover a educação em saúde quando a equipe da percebe as possibilidades de execução de ações que levem à prevenção em parceria com os próprios usuários.
Giane Moeckel Caetano é técnica em enfermagem e graduanda em tecnologia em gestão de organizações do terceiro setor. Trabalha como auxiliar de enfermagem na Unidade de Saúde Martinópolis (São Paulo).
Este conteúdo é parte da cobertura especial “a serviço do público”, que tem o apoio da república.org, um instituto apartidário e não-corporativo, dedicado a melhorar a gestão de pessoas no serviço público, em todas as esferas de governo.
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