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José Paulo Martins Junior e Gabriel Ribeiro
Olhando para além da disputa na capital, municípios fluminenses, antes dominados pelo MDB, devem sair das urnas em 2024 do mesmo jeito como entraram
Por muito tempo, o MDB (antigo PMDB) exerceu uma quase hegemonia no estado do Rio de Janeiro. Foram 40 anos de predomínio que desmoronaram em torno das crises social, política e econômica dos anos 2010. A erosão do partido de centro abriu espaço para a expansão dos partidos de direita e para a consolidação do bolsonarismo no estado.
As eleições municipais de 2020 foram marcadas pela vitória dos partidos de direita. Naquela ocasião, o país era governado pela extrema direita, que se empenhou em eleger seus representantes nas principais cidades do país. O apoio de Bolsonaro não ajudou muito as candidaturas nas grandes cidades, contudo, um olhar mais amplo sobre o Brasil revelou o avanço expressivo dos principais partidos de direita (PSD, PTB, DEM, Republicanos, Progressistas, PSC e PSL), que passaram de 28,5 milhões de votos em 2016 para mais de 39 milhões em 2020. Os partidos de esquerda e, principalmente, os de centro perderam quase 15 milhões de votos.
A situação do Rio de Janeiro não destoa da do resto do país. A direita venceu as eleições de 2020 e 2022 no estado e está em vantagem na campanha de 2024
As eleições municipais costumam ser entendidas como um preâmbulo das eleições estaduais e nacionais, que ocorrem dois anos depois. Prefeitos e vereadores são importantes cabos eleitorais nos municípios em que exercem seus mandatos. Dessa forma, o desempenho dos partidos de direita em 2020 foi um prenúncio do desempenho desses partidos em 2022. Apesar de ter perdido a eleição presidencial, a direita venceu todas as demais votações, ganhou os principais estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e ganhou as eleições legislativas no Senado Federal, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias estaduais. Esse é o cenário no qual se realizam as eleições municipais de 2024. A esquerda tem o presidente da República, mas a direita controla a grande maioria dos cargos eletivos no país, domina também no legislativo federal, onde conta com parcelas cada vez mais expressivas do orçamento público.
A situação do Rio de Janeiro não destoa da do resto do país. A direita venceu as eleições de 2020 e 2022 no estado e larga para a campanha de 2024 em situação de vantagem. Hoje, partidos de direita governam a maioria dos municípios do estado, com destaque para União Brasil, PP, PSC, PL, PSD e Republicanos. A capital é comandada por Eduardo Paes (PSD). São também de partidos de direita a maior parcela dos 47 candidatos à reeleição neste ano, sendo 13 candidaturas do PL, oito do União Brasil e seis do PP.
Os 92 municípios do Rio de Janeiro contam com 357 nomes em disputa, dos quais 244 em coligações – nenhuma com PL e PT juntos. As maiores coligações são encabeçadas por Netinho Reis (MDB/Duque de Caxias) e Dr. Serginho (PL/Cabo Frio), com 13 partidos. A média de candidatos por município é de 3,9. A grande maioria segue o perfil clássico dos detentores de cargos eletivos no Brasil: são homens (83%), brancos (73%), casados (64%) e se declaram heterossexuais (99%). Entre os partidos, o destaque fica para o PL, de Bolsonaro, que lançou candidato próprio em 47 das 92 prefeituras, o único a cobrir mais da metade dos municípios. Na sequência aparecem União Brasil (33), MDB (32), Republicanos (30), PP (28), Novo (25), PT (22), Psol (21), Solidariedade (21), PDT (14) e PSB (10).
Outro elemento importante que merece ser analisado são as alianças partidárias. Além das 47 candidaturas próprias, o PL apoia outras 39 candidaturas encabeçadas por outros oito partidos, dentre os quais se destacam o PP (14) e o União Brasil (11). Por outro lado, o PT, além das suas 22 candidaturas próprias, apoia outras 24 candidaturas de 11 partidos, entre eles PDT, Republicanos e MDB, com 4 apoios cada um. Isso mostra que o PL é a principal força aglutinadora da direita no estado, enquanto o PT, além de ser menos expressivo no número de candidaturas próprias e coligadas, dispersa seu apoio entre mais partidos e com maior ecletismo ideológico.
Ainda que a vitória do PT nas eleições presidenciais no Nordeste tenha sido apontada como decisiva, a verdade é que o desempenho do partido nas grandes cidades do país recuperou, em 2022, muito do que havia sido perdido em 2018. Nessa perspectiva, o estado do Rio de Janeiro tem 11 cidades em que pode haver decisão em dois turnos. São elas: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Campos dos Goytacazes, Magé, Petrópolis, Duque de Caxias, Volta Redonda, Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti.
Nas grandes cidades do estado, o partido mais presente é o Novo (oito), seguido por PP, PSB, Psol (seis cada um), PL, União Brasil (cinco cada um), PSTU e PT (quatro cada um). O PL completa sua participação em todas as 11 cidades, apoiando PP, MDB e União Brasil. Já o PT está fora da disputa em São João do Meriti e, além das quatro candidaturas próprias, apoia em seis dos grandes municípios seis diferentes partidos: Republicanos, PV, PP, PDT, PSB e PSD. De estado controlado pelo MDB para o berço do bolsonarismo, o Rio de Janeiro provavelmente sairá das urnas em 2024 como entrou, controlado pela direita.
José Paulo Martins Junior é professor de ciência política da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Gabriel Ribeiro é graduando em ciências sociais na UFF.
Este artigo faz parte das análises do Observatório das Eleições 2024, iniciativa do IDDC-INCT (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação).
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