Como as fases da vida da mulher podem afetar a saúde mental

Ensaio

Como as fases da vida da mulher podem afetar a saúde mental
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil - 25.JUN.23

Compartilhe

Temas

Ana Carolina C D’Agostini


05 de agosto de 2023

Cuidados permeiam diversas esferas da vida em sociedade e são (ou deveriam ser) uma questão coletiva

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

Uma das questões em debate de maior destaque na atualidade é a saúde mental. Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que cerca de uma em cada quatro pessoas desenvolverá um transtorno mental ao longo da vida. Olhando mais de perto para esses dados, as mulheres são mais afetadas que os homens, com uma em cada cinco delas apresentando algum transtorno mental durante a vida, contra um em cada oito homens.

Falar sobre a saúde mental da mulher é um tema complexo. Existem diversos fatores que podem impactar os comportamentos, pensamentos e sentimentos de uma mulher, tais como raça, fatores genéticos, socioeconômicos, vivências traumáticas e a disponibilidade de uma rede de apoio. No entanto, apesar de tantas nuances, há muitos temas compartilhados quando falamos em saúde mental que se estendem por todas as fases do desenvolvimento.

Na adolescência, embora as preocupações excessivas com a imagem corporal afetem meninos e meninas, pesquisas indicam que as meninas se mostram quase duas vezes mais preocupadas com a aparência que os meninos. Questões com a imagem corporal, se não cuidadas, podem evoluir para transtornos alimentares e podem ser um indício de sofrimento mental intenso que causa prejuízos, como evitar fazer atividades físicas e evitar eventos sociais. A insatisfação corporal muitas vezes é resultante da internalização de corpos “ideais” comumente exibidos nas mídias sociais e tem sido associada a sintomas de depressão, transtornos alimentares e transtornos como ansiedade social e pânico.

Na vida adulta, o transtorno mental mais enfrentado pelas mulheres é a depressão, cujos principais sintomas são mudanças significativas no sono, alterações nos hábitos alimentares, perda de prazer em atividades que costumavam ser satisfatórias e oscilações de humor. Podemos nos questionar sobre a dificuldade de realizar tal diagnóstico em homens pelo fato desse público buscar menos ajuda quando o tema envolve falar sobre sentimentos e enfrentar estigmas por estar “frágil”. Contudo, o índice de mulheres diagnosticadas com o quadro é o dobro quando comparado aos homens.

Apesar das nuances, há muitos temas compartilhados quando falamos em saúde mental que se estendem por todas as fases do desenvolvimento

Já na velhice, muito tem se discutido sobre os impactos na saúde mental do etarismo , que é o preconceito e a discriminação com base na idade, especialmente das mulheres, que sofrem maior pressão estética. Fazer parte de uma população estigmatizada pode resultar em uma série de experiências negativas que podem gerar estresse elevado e potencializar, mais uma vez, casos de depressão e ansiedade.

Tão importante quanto falar sobre sofrimentos e transtornos mentais é falar sobre promoção e prevenção. Afinal, transtornos mentais não começam “do nada” e podem ser prevenidos. Contudo, essa não deve ser uma tarefa solitária. Os cuidados com a saúde mental da mulher permeiam diversas esferas da vida em sociedade e são (ou deveriam ser) uma questão coletiva. O cuidado começa e se mostra presente nas palavras que usamos ao falar da aparência de uma mulher, ao garantir oportunidades iguais de trabalho, ao não culpabilizá-las por violências sofridas e na garantia de respeito e segurança. Está também na representatividade nas diferentes mídias. Cuidar também é combater estigmas quando falamos em saúde mental, afinal, dizer que depressão ou ansiedade sãofrescura ou loucura apenas afasta a busca por ajuda e faz com que casos mais graves, por vezes, sejam invisibilizados.

Fica o convite à reflexão sobre temas que impactam a saúde mental da mulher. “Ser mulher” também é uma construção social, e tudo aquilo que historicamente foi um dia concebido, pode ser revisitado e reconstruído de formas mais saudáveis e coerentes. São esses importantes motivos para lutar e celebrar.

*Este artigo aborda algumas diferenças entre homens e mulheres. Nem toda identidade de gênero se encaixa em uma dessas categorias e este artigo não exclui nem desconsidera a validade e as experiências daqueles que se identificam com outros gêneros.

Ana Carolina C D’Agostini é psicóloga e pedagoga, coordenadora de formações do Instituto Ame sua Mente e gerente de conteúdo da Semente Educação.

Os artigos publicados no nexo ensaio são de autoria de colaboradores eventuais do jornal e não representam as ideias ou opiniões do Nexo. O Nexo Ensaio é um espaço que tem como objetivo garantir a pluralidade do debate sobre temas relevantes para a agenda pública nacional e internacional. Para participar, entre em contato por meio de ensaio@nexojornal.com.br informando seu nome, telefone e email.