A importância de testar a população para enfrentar a covid-19

Debate

A importância de testar a população para enfrentar a covid-19
Foto: Juan Medina/Reuters

Raquel Guimarães e Marília R. Nepomuceno


23 de abril de 2020

Os países que conseguiram controlar as fases iniciais da pandemia devem parte de seu sucesso à expansão maciça de testes para detectar os infectados

Mais de 270 membros da comunidade acadêmica que estuda e pesquisa sobre demografia e saúde da população fazem um alerta aos países da América Latina e do Caribe: é necessário aumentar a cobertura dos testes de covid-19 na região enquanto há tempo. Estudiosos afirmam que os países que conseguiram controlar as fases iniciais da pandemia devem parte de seu sucesso à expansão maciça de testes para detectar os infectados e às medidas drásticas de distanciamento social. A experiência desses países pode servir de guia aos países da América Latina e do Caribe, onde os primeiros surtos da pandemia se iniciaram dois meses após a China e um mês após a Europa. Ainda temos tempo, mas pouco. Se os governos da América Latina e do Caribe não agirem, outros países podem experimentar situações dramáticas, como a vivida pelo Equador nos últimos dias .

Nossa pesquisa , com base nos dados disponíveis para alguns países, revelou que, na América Latina e no Caribe, os números de testes por milhão de habitantes está muito abaixo do número médio de testes realizados na Europa. Enquanto a Singapura e a Coreia do Sul conduziram mais de 7.000 testes por 1 milhão de habitantes, esse número é em torno de 600 testes por 1 milhão na América Latina e no Caribe. No Brasil, há informações de que esse número seria de 297 por 1 milhão de habitantes .

Sem testes, o monitoramento das políticas é precário. Um levantamento realizado pela Open Knowledge Brasil endossa essa drástica situação no país. Ao avaliar os portais dos governos estaduais e federais segundo critérios de transparência e abertura das informações, constatou-se que 90% dos avaliados ainda não publicam dados suficientes para acompanhar a disseminação da pandemia de covid-19 pelo Brasil, inclusive o governo federal.

Em entrevista ao programa Fantástico no domingo 12 de abril, o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o Brasil não tem capacidade de fazer testes em 200 milhões de habitantes. Certamente o ex-ministro tem razão: nenhum país testou todos os seus habitantes. Ademais, nos países europeus e asiáticos, com menor extensão territorial, maior concentração populacional, mais recursos e maior coesão social , a testagem de uma maior parcela da população é mais factível.

Todavia, argumentamos que é necessário privilegiar os esforços para uma ampla testagem, coordenada com rápida divulgação dos resultados. Sem o acompanhamento de estratégias agressivas de detecção de casos de covid-19, as medidas de isolamento social, que são muito caras e restritivas, serão pouco eficazes.

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