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Danielle Klintowitz, Felipe Moreira e Jéssica Tavares
Mesmo os governos locais não apresentaram políticas públicas de prevenção e contingenciamento específicas à realidade das favelas e comunidades, nem respostas para a crise econômica que essa população mais vulnerável enfrentará durante e após o período de isolamento social
“A estupidez insiste sempre”, disse Albert Camus no livro “A peste”. No contexto da pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a estupidez tem duas frentes: a primeira é a de minimizar ou negar a gravidade da situação. A segunda é (fingir) não compreender que o vírus não atingirá toda a população da mesma forma, já que a lógica das cidades capitalistas está assentada em estruturas que geram desigualdades.
Desigualdades no plural. Porque nosso sistema concentra poder político e tudo aquilo que é produzido pela sociedade nas mãos de grupos pequenos, e bem determinados, de acordo com as combinações dos marcadores sociais como gênero, raça e classe.
Em um mundo cada vez mais urbanizado, as cidades são um dos principais produtos das nossas sociedades. Sua distribuição, contudo, é segregada e extremamente desigual, e faz com que as pessoas vivenciem o cotidiano de formas muito diferentes, principalmente no contexto de pandemia.
A parte onde reside o grupo com maior poder político, econômico e social recebe os principais investimentos do poder público e do mercado. Ela concentra áreas com maior acesso a emprego, serviços, infraestrutura, espaços verdes e transporte público. São aquelas que chamamos de “perto de tudo” e que estão mais preparadas para atender às medidas de isolamento e proteção contra o coronavírus recomendadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
Entretanto, há também um vasto território com condições críticas de urbanidade onde moram os “longe de tudo”. A população desses lugares tem menor renda, está mais exposta às consequências da crise climática (como enchentes e deslizamentos), às muitas horas de deslocamento casa-trabalho, à maior dependência dos serviços públicos, à precarização das condições de moradia e da saúde física e mental, e à covid-19.
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