Debate
Gabriel Kohlmann
O Brasil deve se engajar na avaliação dos riscos socioambientais de seus projetos e obras, sob pena de não ganhar acesso aos recursos que estarão disponíveis para a retomada após a pandemia
A pandemia de covid-19 paralisou a economia mundial. Cadeias de valor entraram em colapso pelas dificuldades impostas em todas as etapas: produção, escoamento, logística, vendas e consumo. Estimativas indicam o tamanho do impacto. O FMI (Fundo Monetário Internacional), em seu relatório de junho , projeta queda de 5% no PIB mundial em 2020, enquanto a OMC (Organização Mundial do Comércio) estimou a redução do comércio global neste ano em mais de 13%, no cenário mais otimista. No Brasil, a expectativa do mercado é de queda de 6,5% no PIB para 2020.
Governos do mundo inteiro, bancos centrais e agências multilaterais de fomento e crédito já preparam planos de salvamento e recuperação para a economia. Tamanho impacto na atividade econômica global exigirá respostas volumosas e ousadas. O FMI contabilizou, ainda em junho, US$ 11 trilhões em recursos destinados pelos países para a saída da crise. No Brasil, as medidas anunciadas pelo Ministério da Economia já mobilizaram R$ 1,1 trilhão, segundo Paulo Guedes, e se prevê também um programa de investimentos em infraestrutura.
A União Europeia se organiza para alocar € 750 bilhões na recuperação econômica, e o desenho das políticas e programas foca no que se convencionou chamar de “recuperação verde”, ou seja, os recursos serão orientados para setores que dialogam com as políticas de combate às mudanças climáticas e empreendimentos sustentáveis com baixo impacto socioambiental. O plano faz parte do chamado “European Green Deal”, e visa não somente irrigar com dinheiro os projetos em território europeu, mas também em países parceiros.
Em geral, as medidas governamentais em todo o mundo vão em três direções principais, não sendo diferente no Brasil: 1) tentativa de manutenção de emprego e renda, 2) salvamento do sistema financeiro e setores estratégicos e 3) investimentos públicos e privados em infraestrutura. As duas primeiras frentes de atuação já estão sendo implementadas, por se tratarem de ações emergenciais, enquanto a última tende a ser desenvolvida após a crise sanitária mais aguda ser estabilizada, como uma ponta de lança para a recuperação econômica global, já que são investimentos intensivos em mão de obra, que mobilizam cadeias produtivas complexas.
Dessa forma, um volume significativo de recursos financeiros será reservado para investimentos estruturais — nas áreas de logística, energia, saneamento, desenvolvimento urbano etc. — e haverá países, empresas e projetos prontos para disputar e capturar essa liquidez.
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