Um laboratório para pensar inovação no setor público
Letícia Arcoverde
07 de setembro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h07)Luana Silveira de Faria fala sobre o La-bora! gov, iniciativa de desenvolvimento de projetos para a gestão de pessoas criada por servidores do governo federal
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Projeto desenvolvido pelo laboratório La-bora! gov
Promover formação profissional e desenvolver ideias inovadoras na gestão de pessoas do setor público são os objetivos principais do La-bora! gov, um laboratório criado por servidores do governo federal em 2019.
Idealizado no Ministério da Economia e hoje parte do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, o laboratório realiza pesquisas, oficinas e cursos, e dá apoio para o desenvolvimento de projetos em diferentes áreas do serviço público. Em três anos, 326 iniciativas foram realizadas para centenas de órgãos públicos.
“As pessoas ainda não enxergam o serviço público com o potencial inovador e transformador que ele tem. Isso precisa mudar”
Nesta série de entrevistas, o Nexo faz cinco perguntas a gestores sobre a origem, o processo e os aprendizados de projetos que são destaque em suas áreas no setor público. Luana Silveira de Faria, coordenadora-geral La-bora! gov, conta mais sobre a iniciativa.
LUANA SILVEIRA DE FARIA Em um ambiente de constante e acelerada transformação, inovar em governo não é mais uma opção. Além disso, existe uma expectativa crescente dos cidadãos e cidadãs sobre a efetividade dos serviços públicos. Do entendimento de que esses desafios só podem ser superados pelo engajamento dos servidores e servidoras, foi fundado, em 2019, um laboratório de inovação em governo: o La-bora! gov.
Ainda há um distanciamento entre o que servidores e servidoras fazem e a percepção da sociedade sobre isso. Por isso, precisamos nos aproximar dos cidadãos e cidadãs, aprender a nos conectar e comunicar com eles. Há pouco tempo, dei uma aula para adolescentes e a maioria achava que serviços como Pix, gov.br e próprio La-bora! gov tinham sido criados por empresas privadas, por startups. As pessoas ainda não enxergam o serviço público com o potencial inovador e transformador que ele tem. Isso precisa mudar e nós ajudamos a mudar essa percepção.
Luana Silveira de Faria A partir de pesquisas, entendemos que não faltam competências nem interesse dos servidores em aprender novas abordagens e ferramentas, em fazer diferente, em se reinventar. Então, o que falta para inovar em governo? Falta ambiência para inovação, falta confiança criativa, falta oportunidade, diversidade. Assim, criamos o La-bora! gov, que valoriza os colaboradores e colaboradoras como a força transformadora da organização e trabalha para uma mudança de modelo mental e comportamental e na forma de o governo interagir com os seus usuários internos, os próprios servidores e servidoras, criando soluções inovadoras que tenham mais aderência à realidade e às necessidades das pessoas.
Primeiro focado na melhoria da experiência do servidor (tradução livre de “employee experience”), o laboratório é um espaço de confiança criativa, experimentação e aprendizagem. Aqui, abandonamos soluções pré-concebidas — que não se baseiam em evidências e não consideram a perspectiva dos usuários —, para partir de problemas reais e chegar mais rapidamente a soluções efetivas para os desafios públicos.
Com uso de linguagem simples, comunicação empática e inclusiva, utilizamos abordagens de inovação, como ciências comportamentais, metodologias ágeis e design thinking, para resolver os desafios relacionados ao dia a dia de lideranças e dos servidores e servidoras públicos.
A cocriação e a perspectiva dos usuários estiveram na construção do laboratório, desde o princípio: o nome (La-bora! gov), o propósito, os valores e, inclusive, a carta de serviços foram desenhados com os servidores, em oficinas interativas e imersivas. O objetivo é cocriar, com inclusão e diversidade de perspectivas, a partir da necessidade dos próprios servidores e servidoras.
LUANA SILVEIRA DE FARIA Nos últimos três anos, realizamos mais de 326 serviços, entre oficinas de cocriação, desenvolvimento de soluções inovadoras, mentorias, palestras, pesquisas e cursos, nas modalidades presencial e virtual. Mais de 218 mil servidores foram impactados, de 298 órgãos da administração pública.
A avaliação anônima dos usuários quanto aos serviços reflete a percepção dos usuários: 99% avaliaram a experiência como boa (28%) ou excelente (71%) e 98% disseram que participariam novamente dessas ações.
Os serviços são desenvolvidos com base em pesquisas e nossas diversas parcerias consolidam a inovação pautada em evidências. Exemplos são as parcerias com o MIT GOV/LAB, do Massachusetts Institute of Technology (em andamento), e com o People in Government Lab, da Universidade de Oxford. Em 2023, instituímos o Comitê Científico La-bora! gov, com o objetivo de prestar assessoria técnica e científica nas temáticas de gestão pública, inovação e employee experience (experiência do servidor). Em três anos, vencemos nove prêmios nacionais e internacionais.
Luana Silveira de Faria A perspectiva de que a divergência é negativa e de que precisamos de ambientes harmônicos e de pessoas engajadas e felizes o tempo todo. Isso não é possível, nem desejável. Somos humanos, não estamos o tempo todo motivados, felizes e engajados. A dor é tão importante quanto a alegria. Podemos e devemos mostrar vulnerabilidades no trabalho. Não devemos separar sentimentos da vida profissional. Precisamos de pessoas que pensam diferente de nós, de divergências, de questionamentos, de diversidade para inovar. A harmonia aparente pode, na verdade, estar escondendo um ambiente tóxico e paralisado.
LUANA SILVEIRA DE FARIA Depois de dez anos como servidora pública, olho para o início e vejo que poderia ter sido melhor se eu tivesse tido mais coragem. Coragem para questionar, para divergir, em especial, de chefias tóxicas. Hoje eu entendo que isso está diretamente ligado a ambientes de baixa segurança psicológica. Em ambientes assim, o medo nos paralisa.
Hoje, no La-bora! gov, me sinto reconectada com meu espírito público, com meu dever como servidora. Por isso mesmo, tenho a obrigação de alcançar outros servidores e servidoras que não têm as mesmas oportunidades que eu tenho e apoiá-los a também se reconectarem, com coragem, com autonomia e visão de futuro, para transformar a realidade dos cidadãos e cidadãs.
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