Renato Cafuzo
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A convite da seção ‘Favoritos’, o designer, ilustrador e escritor Renato Cafuzo indica cinco livros infantis marcados pela representatividade negra e periférica
Otávio Júnior (ils. Vanina Starkoff, Companhia das Letras, 2019)
Se toda história fosse uma fotografia, “Da minha janela” também seria sobre as molduras. Narrando cada detalhe do que percebe uma criança em uma favela ao abrir a janela de casa, Otávio situa o olhar admirado de um menino favelado, olhando de dentro do seu território para tudo onde o olho alcança. De artes na parede ao banho de piscina na laje, das crianças na escola ao cachorro que late, de dias bons ou ruins, mas sempre com a propriedade que só quem é morador pode atribuir ao lugar em que vive.
Ps.: Toda a obra de Otávio inclui diversos livros na temática infantil afro periférica. Vale muito a pena buscar seus outros títulos
Jessé Andarilho (ils. Gabriel Ben, Malê, 2024)
Cadu quer brincar, e a história segue a partir daí. Circulando pela favela onde mora e reunindo seus amigos e amigas para uma partida de futebol. O livro de Jessé é um retrato quase cinematográfico do dia de uma criança negra na favela, revelando interações, surpresas e construção de valores baseados na convivência comunitária e na busca pelo direito ao lazer. Uma curiosidade interessante é como o protagonista e toda a dinâmica da história refletem bem a energia e personalidade de Cadu Barcellos, homenageado como protagonista, amigo meu e do Jessé, que ajudou na primeira versão dessa história.
Jessé, com dois romances periféricos consagrados, agora brinca muito na sua estreia como autor de livro infantil.
Juliana Correia (ils. Alexandre Silva, Aziza, 2021)
Juliana nos faz mergulhar nas aventuras de um grupo de crianças que, em um domingo de sol, no alto do Morro do Trapicheiro dos anos 1950 (atualmente conhecido como Morro do Salgueiro), se entrega à sua brincadeira favorita: jogar bola no campinho de terra batida. Após uma cobrança de falta, a bola vai parar longe, num local em que ninguém quer resgatá-la, porque dizem ser mal assombrado. A narrativa ágil e marcante de Juliana nos apresenta crianças felizes, criativas e que se mantêm unidas mesmo diante dos desafios.
A autora também é criadora do projeto Baobazinho, que fala de literatura infantil negra, ancestralidade e contação de histórias para crianças.
Magna Domingues (ils. Valquíria Cordeiro, Baú Encantado, 2022)
“Brincar na rua” é o único título não necessariamente favelado, mas ainda periférico. Escrito e ilustrado por duas educadoras de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o livro é indicado para a primeira infância e traz consigo a cultura de subúrbio da rua como extensão de casa. Descreve diversas brincadeiras e também um clima bucólico para os adultos que se aventurarem na mediação para as crianças. Magna Domingues é uma multiartista que trabalha em várias linguagens narrativas, com um repertório incrível do seu território e trazendo suas raízes em tudo que produz.
O livro é dedicado aos meninos Lucas, Alexandre e Fernando, que tristemente ficaram conhecidos como os meninos de Belford Roxo, desaparecidos enquanto viviam o que esse livro defende como um direito: brincar na rua.
Renato Cafuzo (Morulinha, 2024)
“Morro do dragão” é um diálogo entre um avô e sua neta, que quer saber o porquê de a favela onde moram ter esse nome. A narrativa transita entre as histórias sobre os mitos dos dragões em diversos povos e culturas pelo mundo, além de explorar como a favela, enquanto detentora de conhecimento, também se identifica com outras sociedades.
Renato Cafuzo é designer, ilustrador e escritor. Cria do Morro do Timbau, a favela mais antiga do Complexo da Maré, tem um histórico artístico marcado pela representatividade negra e territorial periférica. Já ilustrou livros infantis de Maíra Oliveira e Sinara Rúbia e, em 2023, escreveu seu primeiro livro infantil, “Moleque piranha” (Oriki).
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