Januária Alves
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A jornalista, educomunicadora e escritora estreia no dia 6 de agosto como colunista do ‘Nexo’. Seus textos serão publicados quinzenalmente às sextas-feiras. Ela indica cinco livros sobre a importância da educação midiática
Vivemos em um mundo onde tudo (ou quase tudo) é mediado – no sentido mais preciso da palavra, algo que está entre duas coisas – pelas mídias: a economia, a política, as artes, a vida pública e, mais recentemente, também a vida privada. Até nossas relações pessoais com amigos e familiares passaram a ser influenciadas pelos meios digitais. Sendo assim, compreender como as mídias atuam e influenciam nossas vidas e tomadas de decisões cotidianas já não é mais uma questão de escolha, mas uma necessidade.
Desde os anos 1980 venho me dedicando a pesquisar a relação das mídias com a educação, o que atualmente constitui a área denominada educomunicação. Nos últimos 15 anos, a questão de como preparar as crianças e jovens a entenderem a engrenagem da cultura digital e a atuarem criticamente perante as mídias, tornou-se mais urgente. No cenário que hoje se apresenta, em que a desinformação corrói as instituições democráticas e ameaça a vida humana, e no qual as redes sociais propagam bullying digital, discurso de ódio e manipulam nossos dados pessoais, é preciso ser midiaticamente bem formado e informado. A leitura dos livros a seguir poderá ajudar nessa tarefa.
Eugênio Bucci (Autêntica, 2021)
O livro recém-lançado do professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Eugênio Bucci, analisa o capitalismo atual em uma abordagem tão original quanto multidisciplinar, provocando uma reflexão sobre como as grandes empresas de tecnologia moldam nosso imaginário por meio das palavras e imagens que veiculam nas diversas mídias. De leitura complexa e profunda é uma obra imprescindível para quem deseja compreender mais a fundo o chamado capitalismo de vigilância e o capitalismo de dados.
Patrícia Campos Mello (Companhia das Letras, 2020)
A jornalista e repórter do jornal Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, narra, neste livro, detalhes de como sofreu na própria pele os efeitos nefastos da desinformação e das fake news. O período enfocado na obra é a eleição presidencial brasileira de 2018, palco de uma guerra de narrativas como nunca se havia visto antes neste país. De maneira clara e contundente a autora revela: “É este o novo mundo em que vivemos: fatos são moldáveis”. Esse libelo em defesa do jornalismo profissional é leitura importante para se compreender o momento atual do Brasil, bem como as investigações em curso sobre as fake news que circularam durante as eleições.
Matthew D’Ancona (Trad. Carlos Szlak, Faro Editorial, 2018)
O jornalista britânico Matthew D’Ancona traça um panorama bastante amplo e crítico sobre como chegamos até o que chamamos atualmente de a “era da pós-verdade”, em que as opiniões e emoções tornaram-se mais críveis do que os fatos. Além de descrever o panorama histórico que nos trouxe até aqui, o autor destaca o que a sociedade pode fazer para “requerer a veracidade e resistir a falsidade”, o que deixa o leitor motivado a combater a mentira e esperançoso de que a verdade sempre terá o seu lugar em nossa sociedade.
Meteoro Brasil (Planeta, 2019)
O Meteoro Brasil é um canal do YouTube criado em 2017 pelos jornalistas Álvaro Borba e Ana Lesnovski, para tentar desmistificar temas complexos ligados à cultura pop, política, ciência e filosofia. Com uma linguagem leve e também crítica, o Meteoro resolveu transpor para um livro explicações sobre as 24 teorias conspiratórias que mais têm circulado nas redes sociais brasileiras. Mantendo o tom didático sem ser superficial, os autores esclarecem a diferença entre o que é ficção e o que é realidade, provocando o leitor a olhar para além do texto/imagem. Leitura fundamental para que todos nós nos conscientizemos de que as redes sociais nos transformaram também em poderosos veículos de comunicação.
Salman Rushdie (Trad. Jorio Dauster, Companhia das Letras, 2021)
Inspirado em “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, um dos maiores clássicos da literatura universal, o escritor e ensaísta Salman Rushdie escreveu o seu “Quichotte”, um vendedor americano tão atrapalhado quanto gentil, que sonha em encontrar sua amada Salma, estrela de um reality show. A história é narrada por Sam DuChamp, um escritor de romances policiais fracassado, obcecado pelas telas de TV. Narrador e personagem se encontram na busca pelo que é real, em um mundo difícil de ser separado da ficção. A obra retrata com bom humor e maestria a crise que vivemos, em que a vida retratada nas redes sociais não passa de uma ilusão.
Januária Cristina Alves é mestre em comunicação social pela ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), jornalista, educomunicadora, autora de mais de 50 livros infantojuvenis, duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura Brasileira, co-autora do livro “Como não ser enganado pelas fake news” (editora Moderna), membro da ABPEducom (Associação Brasileira de pesquisadores e Profissionais em Educomunicação) e da Mil Alliance, a Aliança Global para Parcerias em Alfabetização Midiática e Informacional da Unesco.
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