Favoritos

Januária Alves


31 de julho de 2021
Foto: Divulgação

A jornalista, educomunicadora e escritora estreia no dia 6 de agosto como colunista do ‘Nexo’. Seus textos serão publicados quinzenalmente às sextas-feiras. Ela indica cinco livros sobre a importância da educação midiática

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

Vivemos em um mundo onde tudo (ou quase tudo) é mediado – no sentido mais preciso da palavra, algo que está entre duas coisas – pelas mídias: a economia, a política, as artes, a vida pública e, mais recentemente, também a vida privada. Até nossas relações pessoais com amigos e familiares passaram a ser influenciadas pelos meios digitais. Sendo assim, compreender como as mídias atuam e influenciam nossas vidas e tomadas de decisões cotidianas já não é mais uma questão de escolha, mas uma necessidade.

Desde os anos 1980 venho me dedicando a pesquisar a relação das mídias com a educação, o que atualmente constitui a área denominada educomunicação. Nos últimos 15 anos, a questão de como preparar as crianças e jovens a entenderem a engrenagem da cultura digital e a atuarem criticamente perante as mídias, tornou-se mais urgente. No cenário que hoje se apresenta, em que a desinformação corrói as instituições democráticas e ameaça a vida humana, e no qual as redes sociais propagam bullying digital, discurso de ódio e manipulam nossos dados pessoais, é preciso ser midiaticamente bem formado e informado. A leitura dos livros a seguir poderá ajudar nessa tarefa.

A superindústria do imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo o que é visível

Eugênio Bucci (Autêntica, 2021)

O livro recém-lançado do professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Eugênio Bucci, analisa o capitalismo atual em uma abordagem tão original quanto multidisciplinar, provocando uma reflexão sobre como as grandes empresas de tecnologia moldam nosso imaginário por meio das palavras e imagens que veiculam nas diversas mídias. De leitura complexa e profunda é uma obra imprescindível para quem deseja compreender mais a fundo o chamado capitalismo de vigilância e o capitalismo de dados.

A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital

Patrícia Campos Mello (Companhia das Letras, 2020)

A jornalista e repórter do jornal Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, narra, neste livro, detalhes de como sofreu na própria pele os efeitos nefastos da desinformação e das fake news. O período enfocado na obra é a eleição presidencial brasileira de 2018, palco de uma guerra de narrativas como nunca se havia visto antes neste país. De maneira clara e contundente a autora revela: “É este o novo mundo em que vivemos: fatos são moldáveis”. Esse libelo em defesa do jornalismo profissional é leitura importante para se compreender o momento atual do Brasil, bem como as investigações em curso sobre as fake news que circularam durante as eleições.

Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news

Matthew D’Ancona (Trad. Carlos Szlak, Faro Editorial, 2018)

O jornalista britânico Matthew D’Ancona traça um panorama bastante amplo e crítico sobre como chegamos até o que chamamos atualmente de a “era da pós-verdade”, em que as opiniões e emoções tornaram-se mais críveis do que os fatos. Além de descrever o panorama histórico que nos trouxe até aqui, o autor destaca o que a sociedade pode fazer para “requerer a veracidade e resistir a falsidade”, o que deixa o leitor motivado a combater a mentira e esperançoso de que a verdade sempre terá o seu lugar em nossa sociedade.

Tudo o que você precisou desaprender para virar um idiota

Meteoro Brasil (Planeta, 2019)

O Meteoro Brasil é um canal do YouTube criado em 2017 pelos jornalistas Álvaro Borba e Ana Lesnovski, para tentar desmistificar temas complexos ligados à cultura pop, política, ciência e filosofia. Com uma linguagem leve e também crítica, o Meteoro resolveu transpor para um livro explicações sobre as 24 teorias conspiratórias que mais têm circulado nas redes sociais brasileiras. Mantendo o tom didático sem ser superficial, os autores esclarecem a diferença entre o que é ficção e o que é realidade, provocando o leitor a olhar para além do texto/imagem. Leitura fundamental para que todos nós nos conscientizemos de que as redes sociais nos transformaram também em poderosos veículos de comunicação.

Quichotte: um romance

Salman Rushdie (Trad. Jorio Dauster, Companhia das Letras, 2021)

Inspirado em “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, um dos maiores clássicos da literatura universal, o escritor e ensaísta Salman Rushdie escreveu o seu “Quichotte”, um vendedor americano tão atrapalhado quanto gentil, que sonha em encontrar sua amada Salma, estrela de um reality show. A história é narrada por Sam DuChamp, um escritor de romances policiais fracassado, obcecado pelas telas de TV. Narrador e personagem se encontram na busca pelo que é real, em um mundo difícil de ser separado da ficção. A obra retrata com bom humor e maestria a crise que vivemos, em que a vida retratada nas redes sociais não passa de uma ilusão.

Januária Cristina Alves é mestre em comunicação social pela ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), jornalista, educomunicadora, autora de mais de 50 livros infantojuvenis, duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura Brasileira, co-autora do livro “Como não ser enganado pelas fake news” (editora Moderna), membro da ABPEducom (Associação Brasileira de pesquisadores e Profissionais em Educomunicação) e da Mil Alliance, a Aliança Global para Parcerias em Alfabetização Midiática e Informacional da Unesco.

*Caso você compre algum livro usando links dentro de conteúdos do Nexo, é provável que recebamos uma comissão. Isso ajuda a financiar nosso jornalismo. Por favor, considere também assinar o Nexo.