Favoritos

Diogo Bercito


08 de outubro de 2022

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Foto: Arquivo Pessoal

A convite da seção ‘Favoritos’, Diogo Bercito indica 5 livros que explicam os processos migratórios que trouxeram sírios, libaneses e outros árabes para o Brasil

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A imigração árabe é um dos episódios que mais me emocionam na história do Brasil. Entre 1870 e 1930, dezenas de milhares de pessoas chegaram ao país vindas do que mais tarde se tornaram os Estados da Síria e do Líbano. Os árabes fizeram parte de momentos-chave da história nacional, entre eles a urbanização e a industrialização de São Paulo. Eles aparecem no dia a dia do país — desde nas esfihas comidas de pé em um boteco até nos corredores de Brasília, povoados por descendentes como Paulo Maluf, Michel Temer, Fernando Haddad e Guilherme Boulos.

Estudo essa história há anos. Em 2021, publiquei o livro-reportagem “Brimos: imigração sírio-libanesa no Brasil e seu caminho até a política” (Fósforo). Em 2022, lancei o romance “Vou sumir quando a vela se apagar” (Intrínseca), sobre um jovem sírio na São Paulo dos anos 1930. Mas há muito mais o que ler para conhecer melhor esse fenômeno. Abaixo, dou algumas sugestões.

Patrícios: sírios e libaneses em São Paulo

Oswaldo Truzzi (Hucitec, 1997)

O livro de Oswaldo Truzzi é uma das pedras angulares dos estudos da imigração árabe no Brasil. Até então, historiadores se concentravam nas zonas rurais e nos imigrantes europeus. Truzzi se destacou ao tratar de um cenário urbano habitado por árabes. O livro aborda essa história a partir de preocupações da sociologia, como a integração e a ascensão social. O texto acerta, em especial, quando trata da contribuição dos árabes para o comércio popular e para a política brasileira.

Memórias da imigração: libaneses e sírios em São Paulo

Betty Greiber, Lina Maluf e Vera Mattar (Discurso Editorial, 1998)

Essa obra é, até hoje, única. Betty Greiber, Lina Maluf e Vera Mattar gravaram dezenas de entrevistas com imigrantes árabes e seus descendentes no Brasil. Os testemunhos foram registrados nos anos 1980, quando a história oral ainda engatinhava no país, o que faz desse livro algo ainda mais impressionante. A maior parte dos interlocutores das pesquisadoras já não está mais viva e, em muitos casos, essas entrevistas são a única fonte de informação disponível.

Dois irmãos

Milton Hatoum (Companhia das Letras, 2000)

Apesar de não ser um estudo acadêmico, o romance de Milton Hatoum toca em questões fundamentais da história dos sírio-libaneses no Brasil — como a intersecção com as populações locais e as trajetórias no comércio. É um retrato sensível da comunidade árabe na Amazônia, que os pesquisadores ainda pouco conhecem. É impensável tratar da história dos sírio-libaneses sem pensar na obra de Hatoum e de outros descendentes, como Raduan Nassar e Marcelo Maluf.

Um outro arabesco

John Tofik Karam (Trad. Denise Bottmann, Martins Fontes, 2009)

Publicado inicialmente em inglês, este estudo avança no tempo e se debruça sobre a história recente da comunidade árabe no Brasil. Karam trata os sírio-libaneses como subalternos de elite, com alguns de seus membros ocupando os mais altos escalões. Em uma das passagens mais interessantes do livro, o autor analisa a construção de estereótipos negativos sobre os árabes no Brasil, que, na virada do século 20 para o 21, acabaram estigmatizados como políticos corruptos.

Between the Ottomans and the Entente

Stacy Fahrenthold (Oxford University Press, 2019)

Este livro é para quem domina bem o inglês e tem alguma familiaridade com os debates historiográficos mais recentes. Vale o esforço. É um excelente exemplo das novas direções que os estudos da imigração árabe estão tomando no exterior. Stacy Fahrenthold escreve uma história social das três principais diásporas árabes nas Américas no início do século 20, que se estabeleceram no Brasil, na Argentina e nos EUA.

Diogo Bercito é jornalista formado e mestre em estudos árabes pela Universidade Autônoma de Madri e pela Universidade Georgetown, na qual cursa um doutorado em história com especialização na história do Oriente Médio.

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