Ana Carolina de Assis Nunes
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Ana Carolina de Assis Nunes sugere cinco livros que trazem a produção acadêmica brasileira de ciências sociais sobre o mundo digital
Qual a contribuição brasileira para as discussões sobre inteligência artificial e tecnologias digitais? O que o contexto sul-americano traz de diferente para as conversas relacionadas à regulação desse campo? Nesta lista, procuro oferecer uma perspectiva diversa à que foi construída com base em pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos e China, países líderes no desenvolvimento de inteligências artificiais.
Ao organizar a seleção, priorizei obras recentes e com acesso aberto. Também dei preferência a livros que podem ser lidos tanto por leitores iniciantes quanto por aqueles familiarizados com o tema. Além disso, a lista apresenta uma leitura brasileira do tema a partir do trabalho de pesquisadores das ciências sociais, especialmente da antropologia e sociologia. Você vai notar que a produção acadêmica sobre inteligência artificial no Brasil é (ainda) bastante masculina. Isso, entretanto, não ocorre em áreas como redes sociais, desinformação e outras relacionadas ao mundo digital, como você pode conferir aqui e aqui .
Deivison Faustino e Walter Lippold] (Boitempo, 2023)
Deivison Faustino é professor da Universidade Federal de São Paulo e um dos maiores especialistas na obra de Frantz Fanon no país. Walter Lippold é pesquisador na área de ciência e tecnologia em diversas instituições. Neste livro, eles exploram as bases do colonialismo digital, conceito que expõe uma forma específica de reprodução de divisões sociais e raciais nas relações digitais. Para eles, essa estrutura intensifica a opressão e exploração já existentes em outras épocas. Os autores sugerem o hacktivismo anticapitalista como uma possível alternativa para superar o colonialismo digital.
Tarcízio Silva (Edições Sesc, 2022)
Pesquisador filiado à Universidade Federal do ABC, Tarcízio Silva explora o conceito de racismo algorítmico para ilustrar práticas discriminatórias em contextos digitais, em especial os que fazem uso de inteligência artificial. O autor aponta que o poder de decisão dos algoritmos é determinado por seus criadores e apresenta uma leitura inovadora sobre o assunto no cenário brasileiro.
Jean Segata e Theophilos Rifiotis (org.) (ABA Publicações, 2016)
Organizado por antropólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, este livro possui sete capítulos que tratam de diferentes aspectos do mundo digital no contexto brasileiro. A obra também funciona como uma introdução à antropologia digital e conta com a tradução de dois importantes textos da área: “Bem-vindos à Cyberia: notas para uma antropologia da cibercultura”, do antropólogo colombiano Arturo Escobar, e “Faturas/Fraturas: da noção de rede à noção de vínculo”, do recém-falecido filósofo francês Bruno Latour. O livro está disponível gratuitamente neste link .
Leonardo F. Nascimento (Edufba, 2020)
O livro do pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia Leonardo F. Nascimento é uma excelente introdução à discussão sobre o mundo digital pelas lentes da sociologia. O autor do livro é familiar com métodos quantitativos e dirige o Laboratório de Humanidades Digitais da instituição em que atua. Neste trabalho, ele explora as possibilidades do uso de ferramentas digitais em análises sociológicas e oferece um panorama completo dessa área. A obra, que veio para ficar, pode ser encontrada neste link .
Sérgio Amadeu da Silveira, Joyce Souza e João Francisco Cassino (org.) (Fundação Perseu Abramo, 2021)
Este livro é uma coletânea que explora o modo como tecnologias digitais tidas como novidade reproduzem velhas formas de opressão e divisão da estrutura social. De acordo com os organizadores, o colonialismo de dados combina as mesmas práticas predatórias do colonialismo histórico, com a adição de métodos computacionais que transformam tudo e todos em dados que podem ser usados para diferentes fins. Acesse o livro gratuitamente neste link .
Ana Carolina de Assis Nunes é doutoranda em antropologia aplicada na Oregon State University, mestra em antropologia social pela Universidade Federal de Goiás e graduada em ciências sociais na mesma instituição – trabalha com temas relacionados à culturas da computação e produz conhecimento na interseção da antropologia com os estudos de ciência, tecnologia e sociedade .
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