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Bruno Inácio


14 de novembro de 2024

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Foto: Divulgação/Lucas Orsini

A convite da seção ‘Favoritos’, o jornalista e escritor Bruno Inácio indica cinco livros que fazem refletir sobre os significados do silêncio

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Nos últimos anos, tenho refletido bastante sobre o silêncio. Como algo a princípio tão simples pode ter significados tão abrangentes e contrastantes? O silêncio que traz conforto não é o mesmo que angustia ou intimida. Também difere do silêncio da raiva ou daquele que é comum aos momentos de concentração. Esses tipos tão diversos estão nas casas, nos trabalhos, nos restaurantes e nas reuniões familiares, especialmente depois do jantar, quando cada um precisa do seu momento de introspecção para recarregar as energias. 

 

Recentemente, tentei abordar algumas formas de silêncio em “De repente nenhum som”, coletânea de contos publicada pela Sabiá Livros, com orelha de Marcela Dantés, prefácio de Monique Malcher e posfácio de Lilia Guerra. Também passei a prestar mais atenção nas diferentes formas em que o tema aparece em narrativas literárias, sobretudo nos romances brasileiros contemporâneos. Separei os cinco que mais me chamaram a atenção. 

 

Livro sem nome

Paulo Henrique Passos (Patuá, 2023)

 

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O romance narra a história de Layla, personagem que permanece em silêncio por 73 anos após perder a capacidade de fala, ainda na infância. A primeira parte da obra traz relatos de pessoas próximas à mulher, inclusive profissionais que tentam explicar o que aconteceu a ela. Já na segunda parte, Layla recupera a voz e passa a contar histórias que prendem a atenção de todos ao seu redor, com direito a referências a figuras da mitologia grega e, claro, a Scheherazade, de “As mil e uma noites”.

 

1+1=2 2-1=0

Fernanda Caleffi Barbetta (Cepe, 2023)

 

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Luiza, protagonista do livro vencedor do Prêmio Cepe de Romance, tem uma vida marcada por abandonos desde a infância. Não por acaso, refugia-se em seus pensamentos e na mania de fazer listas sobre sentimentos, preferências e desassossegos. A escrita poética de Fernanda Caleffi Barbetta aproxima leitores e leitoras de uma menina introspectiva com muito a dizer, embora prefira se calar na maioria das vezes.  

 

Todo mundo tem mãe, Catarina 

Carla Guerson (Reformatório, 2024)

 

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O silêncio também pode ser sinônimo de omissão, como acontece no enredo do romance de estreia de Carla Guerson. No livro, Catarina deseja saber mais sobre a própria mãe, mas sempre se depara com as respostas evasivas da avó. Diante disso, a protagonista cria novos métodos para romper, de uma vez por todas, o silêncio sobre quem foi (ou quem é) a sua mãe.   

 

Na intimidade do silêncio

Cintia Brasileiro (Aboio, 2023)

 

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Nesse romance de Cintia Brasileiro, a infância é revisitada sem idealizações, ao mesmo tempo que o silêncio passa a se reconfigurar a cada capítulo: é cumplicidade, proteção, distanciamento, repulsa, mentira, expectativa e autodefesa. Às vezes, tudo ao mesmo tempo, especialmente depois que uma caixa com segredos de família invade o dia a dia da protagonista e muda a sua vida para sempre.

 

Antes do silêncio

Rogério Pereira (Dublinense, 2023)

 

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Aquele silêncio que antecede a morte também tem espaço na literatura brasileira contemporânea. No enredo deste romance, o protagonista cuida da mãe com câncer terminal e acompanha um ser humano se desfazendo pouco a pouco, bem na sua frente. Aqui, as conversas pouco naturais aparecem como tentativa de romper um silêncio que insiste em voltar. 

 

Bruno Inácio é jornalista, mestre em comunicação e autor de “Desprazeres existenciais em colapso” (Patuá), “Desemprego e outras heresias” (Sabiá Livros) e “De repente nenhum som” (Sabiá Livros). É colaborador do Jornal Rascunho e da São Paulo Review e tem textos publicados em veículos como Le Monde Diplomatique, Rolling Stone Brasil e Estado de Minas.

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