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J. C. Marçal


31 de janeiro de 2025

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A convite da seção ‘Favoritos’, o escritor e professor de filosofia J. C. Marçal indica cinco livros para pensar a pós-modernidade

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Elaborar uma lista com cinco livros é uma tarefa que mexe com o coração de qualquer escritor. Há um universo de inteligência navegando nas páginas de tantas obras boas que parece até mesmo uma heresia indicar apenas cinco títulos. Mas o pedido do Nexo foi claro: indicar cinco livros sobre o tema que eu quisesse. Pensei, então, em elaborar uma lista que pontuasse alguns conteúdos que acho relevantes para nossa pós-modernidade, bem como instigasse a mente do leitor e da leitora sobre textos que acho inspiradores, profundos e necessários. 

 

Discurso sobre o colonialismo 

Aimé Césaire (trad. Claudio Willer, Veneta, 2020) 

 

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Este livro é uma declaração de guerra contra a “civilização europeia”, uma guerra contra o colonialismo e a hipocrisia dominante de uma certa classe de intelectuais brancos e europeus. A “Europa é indefensável”, clama Césaire. Obra que é simplesmente considerada a Bíblia de todo militante anticolonialista e um dos momentos fundantes do pensamento decolonial. Lúcido, poético, certeiro e profético, o “Discurso” de Césaire é obra incontornável para o século 21.

 

Por um feminismo afro-latino-americano

Lélia Gonzalez (org. Flávia Rios e Márcia Lima, Zahar, 2020)

 

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Incensada pela militância quando veio ao Brasil, Angela Davis instou a audiência a ler Lélia Gonzalez. Que reconhecimento. Este livro se vale da história, filosofia, antropologia e sociologia para compreender o Brasil desde a ditadura militar: o lugar do trabalho e da raça, o papel da mulher negra, o racismo e a exploração capitalista. Obra importantíssima para entender as dificuldades de ser negro e negra em um país que defende uma “democracia racial” e propaga, ao mesmo tempo, o branqueamento. Estes ensaios, intervenções e diálogos não devem faltar na biblioteca de ninguém que se creia inteligente no nosso país.

 

O feminismo é para todo mundo

bell hooks (trad. Ana Luiza Libânio, Rosa dos Tempos, 2018)

 

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Uma obra revolucionária porque é, antes de tudo, pedagógica. A definição de bell hooks é claríssima: “Feminismo é um movimento para acabar com sexismo, exploração sexista e opressão”. Um livro para qualquer pessoa porque nos educa sobre a relevância da luta das mulheres e o papel dos homens nessa luta. Um petardo contra o patriarcado. A escrita é tão límpida que é espantoso como ela consegue falar de assuntos tão profundos com uma linguagem tão direta. Para mim, para você, para qualquer um: temos que ler bell hooks.

 

Futuro ancestral

Ailton Krenak (Companhia das Letras, 2022)

 

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Seguindo o pensamento decolonial, Krenak nos brinda com um livro pequeno, mas enorme em alcance. Pensando a partir da epistemologia dos povos originários, ele nos faz ver que “a metamorfose é nosso ambiente” e como estamos indissociavelmente ligados à natureza. Nega o sofrimento e celebra a vida em toda a sua potência, reconhecendo essa mesma vida em tudo o que nos cerca: “o corpo de um rio é insubstituível”. Krenak exige uma cidadania universal e o respeito a todas as diferenças, além de fazer uma crítica poderosa contra a devastação colonial e o imperialismo capitalista. Imprescindível.

 

Grande sertão: Veredas  

João Guimarães Rosa (Companhia das Letras, 2019)

 

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Obra máxima da literatura brasileira, genial em todos os sentidos, cria um universo próprio – fincado no sertão – para se pensar a existência em toda a sua profundidade. Tudo isso antecipando as questões de gênero. O diabo-desejo, o amor ao outro personificado na pessoa de Diadorim e no amor sentido por Riobaldo, as questões da alma que permeiam todos nós são emolduradas por uma linguagem inovadora, revolucionária e única. “O demônio na rua… Viver é muito perigoso; e não é não”. A declaração de amor de Riobaldo no livro deve figurar entre um dos trechos mais belos de toda a história da literatura mundial. É tão absurdamente lindo que é um pecado não ler essa obra-prima.

 

J. C. Marçal nasceu no Recife, tem graduação, mestrado e doutorado em filosofia e atualmente é professor na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Ele já publicou ‘Diário de um percurso absurdo’ (romance, Odisseu), ‘Os ciclos tebanos’ (poesia, Odisseu), ‘Antologia da novíssima poesia pernambucana’ (poesia, Alighieri), ‘Saga cruciatus’ (contos, Alighieri), ‘A tempestade’ (romance, Scortecci), ‘Mauristaad’ (romance, Urutau) e ‘A moranga sagrada’ (contos, Cepe).

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