Expresso

O que as redes sociais fazem para coibir fake news em meio à pandemia

Cesar Gaglioni

16 de março de 2020(atualizado 28/12/2023 às 12h59)

Boatos e mentiras sobre o novo coronavírus têm se espalhado pela internet, muitas vezes com apoio de figuras influentes. Empresas de tecnologia criaram medidas para diminuir a propagação de informações falsas

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FOTO: PIXABAY

Uma tela de celular, com aplicativos de redes sociais

Responsabilização em casos de divulgação de fake news é dificultada pela própria natureza da internet

Em 12 de março, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou o estado de pandemia para o novo coronavírus. Até a manhã de segunda-feira (16), eram cerca de 173 mil casos ao redor do mundo, e 203 no Brasil.

A facilidade de contágio do vírus veio acompanhada pela propagação de notícias falsas e informações equivocadas nas redes sociais. A plataforma Saúde sem Fake News , do Ministério da Saúde, já desmentiu cerca de 30 boatos que ganharam força na internet – a maioria deles com supostos métodos de prevenção e cura da covid-19, doença causada pelo agente patogênico coronavírus.

Não é só nas redes que circulam informações incorretas sobre o coronavírus, como se viu nos protestos a favor do governo de Jair Bolsonaro e anti-Congresso de domingo (15).

Em São Paulo, na região da avenida Paulista, o bloco intitulado Movimento Direita Conservadora disse aos participantes do ato que a pandemia era uma mentira . Também na capital paulista, um manifestante segurava um cartaz com a frase “coronavírus pode até matar, já a corrupção, além de matar, tende a perpetuar. O mito [apelido de Bolsonaro dado por seus apoiadores] quer mudar”.

Aglomerações, caso das manifestações, foram desencorajadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde. Em Brasília, Bolsonaro ignorou as recomendações, desceu a rampa do Palácio do Planalto e esticou o braço para tocar nos manifestantes – o contato físico também é desencorajado pelas autoridades sanitárias. Na segunda-feira (16), o presidente minimizou o tamanho da crise que já matou mais de 6.500 pessoas ao redor do mundo.

Outras figuras influentes tentaram diminuir a gravidade da pandemia, em mensagens que acabam se propagando pelas redes sociais. Líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do grupo de comunicação Record, o pastor evangélico Edir Macedo, em vídeo que circula no WhatsApp, pede que a população não se preocupe com o novo coronavírus porque a crise de saúde pública seria “uma tática do Satanás”.

Logo após a fala de Macedo, o vídeo traz uma fala de Benny Schmidt, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) na qual ele diz que a baixa letalidade do vírus não justifica o alarde em torno dele.

Cerca de 3,7% dos que são infectados com o coronavírus morrem, número que varia de país para país, e de grupo para grupo. Em idosos, por exemplo, a taxa é de 14,8%. O cenário fica ainda mais preocupante pelo fato de que o coronavírus se espalha rapidamente.

As ações das empresas de tecnologia

Plataformas digitais têm tomado algumas medidas para coibir a propagação das notícias falsas sobre o coronavírus. O Nexo lista as principais:

Facebook

No Brasil, o Facebook, maior rede social do mundo, tem removido conteúdos falsos divulgados sobre o coronavírus e tem direcionado os usuários que buscam notícias sobre a pandemia ao site do Ministério da Saúde. “Procurando informações sobre o coronavírus? Veja as informações mais atualizadas do Ministério da Saúde do Brasil para você se prevenir e ajudar a evitar a disseminação do vírus”, diz a mensagem que aparece para os usuários na busca.

“Estamos removendo notícias falsas e teorias da conspiração que foram sinalizadas por organizações de saúde do mundo todo e que podem ser nocivas para as pessoas que acreditam nelas”, disse Steve Hatch, diretor do Facebook no Reino Unido, em comunicado oficial . Boatos são sinalizados pelos usuários, e a empresa faz a checagem de informações como forma de verificação.

No WhatsApp, aplicativo de propriedade do Facebook, a coibição da propagação se torna mais difícil, já que as conversas são criptografadas. Assim, a checagem dos fatos depende da capacidade e da boa vontade de cada usuário.

Twitter

Assim como o Facebook, o Twitter afirma estar removendo boatos e notícias falsas sinalizadas por usuários ou autoridades e direcionando aqueles que buscam informações à página do Ministério da Saúde.

“Conheça os fatos. Para garantir que você tenha as melhores informações sobre o coronavírus (covid-19), recursos do Ministério da Saúde estão disponíveis”, diz a mensagem que aparece para os usuários que buscam informações sobre a pandemia.

Instagram

O Instagram, de propriedade do Facebook, diz remover conteúdos falsos sobre o novo coronavírus, mas direciona os usuários para a página da OMS de maneira mais discreta: em vez de mostrar uma mensagem direta sobre a busca de informação qualificada, a plataforma apresenta o perfil da organização no topo dos resultados.

YouTube

O YouTube lançou uma página inteira dedicada ao coronavírus, na qual fornece informações de contato para as principais autoridades sanitárias do mundo e explica suas medidas para combater a desinformação sobre a pandemia.

A plataforma de vídeos está removendo conteúdos que foram sinalizados pela comunidade e que trazem informações falsas sobre o coronavírus.

Além disso, a plataforma não está permitindo a monetização de vídeos sobre o assunto, exceto em canais que são verificados. Nos conteúdos que tratam do tema, a plataforma também incluiu um link para a página da OMS.

A eficácia das medidas e a responsabilização pela divulgação

Para Casey Newton, jornalista especializado em política digital e colunista do site The Verge, as medidas das empresas são pequenas no contexto maior da pandemia, mas são um primeiro passo para combater a disseminação das fake news que colocam em risco a saúde pública. “É um progresso, e eu vou aceitar”, disse em coluna publicada no dia 5 de março.

Renee DiResta, gerente de pesquisas do Observatório de Internet da Universidade de Stanford, nos EUA, apoiou a checagem de publicações sinalizadas. “Essas plataformas certamente devem colocar a checagem de fatos para funcionar”, disse ao jornal The Washington Post .

DiResta também sugeriu a diminuição do alcance de publicações com teorias da conspiração. Por esse mecanismo, esse tipo de postagem pode até ser publicada, mas não chega até a timeline dos usuários.

Em termos de responsabilização pela publicação, nada está sendo feito. Nos EUA, a seção 230 do Ato de Decência nas Comunicações prevê que sites não podem ser responsabilizados mesmo que um de seus usuários faça a publicação de conteúdo considerado ilegal.

No Brasil, divulgar fake news só é considerado crime passível de punição se o ato ocorrer em contexto eleitoral. A pena é de dois a oito anos de prisão. A lei foi sancionada em novembro de 2019 .

Além da falta de dispositivos legais mais específicos, a responsabilização pela divulgação de fake news – mesmo em casos nos quais a desinformação ameaça a saúde pública – é dificultada pelo fato de que pode ser difícil encontrar os autores originais dos boatos. Muitas vezes, eles usam contas falsas e outras ferramentas para mascarar a própria identidade.

Boatos que já circularam

Diversos boatos sem comprovação sobre o novo coronavírus já circularam nas redes, e a maioria propões soluções milagrosas de cura ou prevenção.

Um deles diz que um chá de abacate com hortelã previne o contágio pelo vírus. Outro, também sem comprovação, afirma que pastilhas efervescentes de vitamina C com zinco criam uma barreira protetora.Circula também uma mensagem no WhatsApp de que massagem no tórax feita com óleo de orégano cura os sintomas causados pelo coronavírus.

Para reduzir os riscos de contágio e de transmissão, o Ministério da Saúde recomenda medidas como evitar contato próximo com os doentes, lavar frequentemente as mãos, cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir, evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca e manter os ambientes bem ventilados. O órgão tem recomendado evitar aglomerações e estados já decretaram medidas para incentivar o isolamento social.

Também há boatos que operam no campo das teorias da conspiração. Um deles sugere que o vírus seria uma arma biológica criada pela China para derrubar a economia global e se tornar a maior superpotência do mundo. Outro diz que cientistas já desenvolveram uma cura para o coronavírus, mas que estão escondendo a fórmula do resto do mundo.

O Ministério da Saúde tem uma página para reunir os boatos que já foram desmentidos sobre o coronavírus. Uma página similar, em inglês, é mantida pela OMS .

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