10 pontos-chave para entender a vacinação contra a covid-19
Cesar Gaglioni
17 de dezembro de 2020(atualizado 28/12/2023 às 13h01)Enquanto a ciência avança, discursos políticos e desinformação contaminam uma medida central para garantir a vida de milhões de brasileiros
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Mulher manipula seringa e frasco com substância usada em testes contra a covid-19
Há centenas de vacinas contra o novo coronavírus em desenvolvimento ao redor do mundo por diversos países e laboratórios. Há substâncias em fases adiantadas, com testes prestes a serem concluídos ou recém-finalizados. Há países que já começaram a imunizar parte da população. Há também muita desinformação sobre o tema. No Brasil, além disso, o debate científico vem sendo contaminado pelo debate político. Abaixo, o Nexo lista dez pontos sobre a vacinação a partir de dados disponíveis até 17 de dezembro de 2020.
Nacionalmente não há data específica, segundo o plano de vacinação do governo federal. A justificativa é de que só será possível saber após a aprovação de vacinas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), algo que ainda não aconteceu com nenhum imunizante. A promessa do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, feita em 16 de dezembro era, possivelmente, começar a vacinar em fevereiro de 2021. Em São Paulo, a promessa é de início da vacinação em 25 de janeiro de 2021. Mas tudo depende da conclusão dos testes e aprovação na Anvisa das vacinas.
No plano do governo federal, profissionais da saúde, idosos com mais de 75 anos, idosos com mais de 60 anos e que estão em instituições de longa permanência (como asilos e casa de repouso), presidiários, quilombolas, moradores de rua, caminhoneiros e indígenas são considerados grupos prioritários. Já no plano de São Paulo , os profissionais de saúde, indígenas e quilombolas serão os primeiros a receber as doses. Depois, outras populações serão gradativamente vacinadas, num processo que pode demorar meses.
A disputa é política. O presidente Jair Bolsonaro atacou a vacina desenvolvida por São Paulo em parceria com uma empresa chinesa usando um argumento anticomunista sem base em fatos. Ao mesmo tempo, tentou atingir o governador João Doria, tucano que já foi bolsonarista mas virou adversário do Palácio do Planalto e nutre pretensões presidenciais. Bolsonaro já disse publicamente que não compraria a “vacina chinesa” por não confiar na substância, mas o imunizante está nos planos de compra do Ministério da Saúde. Do outro lado, Doria estimula a descentralização da imunização diante da lentidão federal.
Países como Reino Unido, EUA e Canadá iniciaram a execução de seus planos de vacinação , já que fecharam contratos com antecedência e aprovaram emergencialmente vacinas que concluíram a fase de testes. No Brasil, a aposta principal do governo Bolsonaro foi no imunizante da Universidade de Oxford com a farmacêutica anglo-sueca Astrazeneca, mas os testes desse imunizante não estão concluídos, assim como os testes da Coronavac, vacina do governo paulista em parceria com uma empresa chinesa. Além disso, o governo Bolsonaro entrou tarde nas negociações com a Pfizer, que já tem testes concluídos. Agora, tenta garantir de última hora doses da empresa americana, mas sem garantias de sucesso.
Se a vacina tiver seu registro aprovado na Anvisa e em agências sanitárias de outros países, é porque o imunizante teve suaeficácia e segurança cientificamente comprovadas . Esse processo é feito a partir de três fases de testes com milhares de voluntários, que são monitorados pelas equipes de cientistas para garantir que o imunizante surta efeito sem trazer problemas para a saúde do indivíduo. Efeitos colaterais leves são comuns , mas não significa que se vacinar é arriscado.
Houve um esforço global de cientistas para o desenvolvimento da vacina. Com uma troca intensa de conhecimentos, o processo foi acelerado. Contribuiu também o fato de que o genoma — a estrutura — do vírus foi sequenciado rapidamente , passo essencial para o início do desenvolvimento de vacinas. Além disso, algumas das vacinas que estão em fase finais de teste já estavam sendo desenvolvidas anteriormente para outras doenças, como a Mers, condição causada por um outro tipo de coronavírus. O que os pesquisadores fizeram foi redirecionar os componentes para agir contra o novo coronavírus.
Desde o início da pandemia, teorias conspiratórias sem base em fatos comprováveis têm circulado. Elas afirmam que o novo coronavírus foi criado em um laboratório chinês com o objetivo da China se tornar a maior potência global. Com o início do desenvolvimento das vacinas, novas afirmações do tipo surgiram, como uma que diz que a vacina implantará um chip nas pessoas, que passarão a ser rastreadas pelo governo chinês. Não há evidência — ou sequer um mínimo indício — que dê tração a esse tipo de ideia, mas elas prosperam num ambiente de desinformação muito comum nos tempos atuais. Bolsonaro também alimenta essas teorias conspiratórias ao dizer que não confia na “vacina chinesa”. Apesar disso, em 16 de dezembro o governo federal anunciou que a vacina chinesa Coronavac foi incluída no plano nacional de imunização.
O Supremo Tribunal Federal decidiu em 17 de dezembro que os governos podem impor restrições a quem não tomar vacina. Isso não quer dizer que as pessoas serão imunizadas à força. Mas a partir de leis federais, estaduais e municipais governantes poderão restringir direitos. Poderão, por exemplo, impedir uma pessoa não vacinada de pegar um avião. Especialistas chamam atenção para a importância de governantes incentivarem a vacinação, não só para a autoproteção, mas também para a proteção de toda a sociedade.
A vacinação é um passo importante para frear o avanço do vírus ao redor do mundo. Com boa parte da população imunizada, menos pessoas serão infectadas e, consequentemente, casos graves e mortes diminuirão significativamente. Além disso, com menor circulação do vírus, será possível retomar com mais segurança atividades como aulas presenciais, eventos culturais e o funcionamento normal da economia.
Iniciar a vacinação é apenas um passo para que a vida possa ser retomada com alguma normalidade. Caso os governos consigam aplicar imunizantes em larga escala, o avanço da doença deve ser interrompido. Pesquisadores consideram que, no caso do coronavírus, uma imunidade que alcance uma taxa de 60% a 70% de pessoas vacinadas seria suficiente para frear as infecções. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), há esperança de que as vacinas tragam consigo o fim da pandemia . Mas esse é um processo que demora meses. Portanto, a manutenção de medidas como distanciamento social e uso de máscaras continua sendo importante mesmo após o início da vacinação. Caso não haja adesão em massa ao imunizante, os efeitos da vacinação não serão sentidos amplamente e o vírus continuará circulando.
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