Como o sutiã inspirou o design das máscaras N95
Mariana Vick
19 de março de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h01)Em 1961, Sara Little Turnbull desenhou formato de equipamento de proteção para profissionais da saúde enquanto trabalhava para a 3M. Também chamado de PFF2, modelo é o mais recomendado contra a covid
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Médica usa máscara N95 em hospital nos Estados Unidos
O agravamento da epidemia de covid-19 no Brasil levou ao aumento da divulgação de modelos de máscaras mais eficientes para filtrar as partículas do vírus no ar, como é o caso da N95 e da PFF2.
Com formato de concha ou de bico de pato e elásticos presos atrás da cabeça, as máscaras N95 (nome americano para esse tipo de produto) ou PFF2 (nome brasileiro) são constituídas por um material filtrante que veda o nariz, a boca e o queixo, e oferecem mais proteção do que as máscaras de tecido têm sido usadas pela maior parte da população desde o início da pandemia.
Embora tenha se popularizado na crise sanitária, a máscara N95 não é um modelo novo: sua criação remonta à década de 1960, nos EUA. Conforme se aprimorou, o produto passou a ser amplamente usado por profissionais de saúde para se proteger de infecções e por trabalhadores como os da construção, que usam essas máscaras para não inalar poeira.
A ideia que resultou no design da N95 na metade do século 20 partiu da designer de produto Sara Little Turnbull , que na época prestava consultoria para a 3M, uma das fabricantes de máscaras mais conhecidas hoje. O ponto de partida para o modelo foi um produto que Turnbull conhecia bem: o sutiã feminino.
A NPR, rádio pública americana, contou no podcast Throughline, em episódio veiculado em 2020, que a história que levou à criação da máscara N95 começou quando Turnbull montou sua consultoria, a Sara Little Design Consultant, para encontrar maneiras de adaptar os produtos do dia a dia às necessidades reais dos usuários.
A designer afirmou, em 1958, que a indústria americana criava designs que pareciam mais convenientes para os grandes compradores de seus produtos — como as lojas de varejo — do que para as pessoas que realmente iriam usá-los, segundo artigo publicado por Turnbull na revista HouseWares Review.
A provocação chamou a atenção da 3M, que no mesmo ano contratou Turnbull para atuar em seu departamento de fitas e embalagens para presentes. Naquela época, a empresa começava a testar o uso de TNT (sigla para “tecido não tecido”, um tipo de fibra sintética porosa) para criar produtos moldáveis e fitas mais rígidas do que as de tecido comum.
Com o TNT, Turnbull teve ideias para outros produtos além das fitas para presentes. Em 1958, a designer fez uma apresentação para executivos da 3M — a palestra foi chamada de “Why?” (por quê?) — em que defendeu por que a empresa deveria desenvolver mais objetos com o uso do não tecido. Entre eles, estava um sutiã com novo molde.
Na mesma época, Turnbull vinha cuidando de três familiares doentes. Visitando hospitais com mais frequência, a designer percebeu que os médicos e enfermeiros que encontrava frequentemente demonstravam desconforto com as máscaras que usavam — a maioria planas e apertadas no rosto.
Foi então que Turnbull pensou sobre o sutiã que havia apresentado à 3M e em como uma máscara com formato de concha poderia ser melhor para atender às necessidades dos profissionais de saúde. A 3M gostou da ideia, e em 1961 a empresa lançou sua primeira máscara baseada no design da taça de sutiã.
No início, a máscara apresentava problemas: ela não era capaz de proteger contra infecções, por isso a 3M a lançou como um produto para “bloquear a poeira”. Na década de 1970, porém, o governo americano criou os primeiros parâmetros de qualidade para esse tipo de produto. Em 1972, foi lançado o modelo da N95 como hoje a conhecemos.
Nascida em Nova York em 1917, Sara Finkelstein frequentou a Parsons School of Design e se formou em design do produto em 1939. Ela ganhou o apelido “ Little Sara ” de colegas de faculdade por causa de sua altura: 1,50 m. Quando começou a trabalhar, adotou “Little” em seu nome profissional.
Conhecida pelas ideias inovadoras, a designer trabalhou como consultora para empresas americanas por mais de seis décadas, e foi definida como “a arma secreta da indústria” no país. Foi uma das primeiras mulheres a ter sucesso na área de design nos EUA no pós-Segunda Guerra.
Além da máscara N95, suas criações incluem produtos para as indústrias de alimentos, utensílios domésticos, móveis, brinquedos, embalagens e cosméticos, entre outras. Sua lista de clientes tem empresas como Coca-Cola, Ford, Pfizer, Motorola e Nasa. A designer morreu em 2015, pouco antes de completar 98 anos.
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