Expresso

Como bolsonaristas e alvos da CPI da Covid reagiram ao relatório

Cesar Gaglioni

21 de outubro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h28)

Após leitura de documento na comissão no Senado, presidente desdenha de texto, filhos criticam parlamentares, ministros se omitem e bolsonaristas fazem barulho nas redes sociais

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FOTO: PABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS – 10.MAR.2020

Zambelli fala à tributa. Ao fundo, bandeira do Brasil

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) durante sessão no plenário da Câmara

Com a entrega do relatório da CPI da Covid no Senado na quarta-feira (20), membros e apoiadores do governo reagiram aos resultados da comissão, que pede responsabilização do presidente Jair Bolsonaro, três de seus filhos, ministros, ex-ministros, além de outros agentes públicos e privados.

A CPI, como indica o nome Comissão Parlamentar de Inquérito, é uma fase de apuração. Isso quer dizer que a comissão cumpre o papel apenas de investigação, ela não processa nem julga. Por isso seu relatório final precisa ser remetido a órgãos competentes para que eventuais medidas de responsabilização sejam tomadas. A CPI enviará suas conclusões a diferentes instâncias do Ministério Público. Procuradores podem aprofundar as investigações ou, se virem indícios suficientes de crimes, podem denunciar os suspeitos.

Neste texto, o Nexo apresenta a reação dos alvos da CPI e de apoiadores do governo.

As reações no governo e seus entornos

De acordo com o presidente Jair Bolsonaro, a CPI não gerou nenhum bem para sociedade brasileira, foi improdutiva em sua investigação e apenas resultou na produção de ódio e rancor.

“Como seria bom se aquela CPI tivesse fazendo algo de produtivo para nosso Brasil. Tomaram tempo de nosso ministro da Saúde, de servidores, de pessoas humildes e de empresários”, disse Bolsonaro em discurso no Ceará na quarta-feira (20). “Nada produziram, a não ser o ódio e o rancor entre alguns de nós. Mas sabemos que não temos culpa de absolutamente nada, fizemos a coisa certa desde o primeiro momento”, afirmou o presidente.

O relatório final da CPI pede o indiciamento de Bolsonaro sob suspeita de nove crimes: epidemia com resultado de morte, infração de medida sanitária preventiva, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação e crimes de responsabilidade e contra a humanidade.

Antes do pronunciamento de Jair Bolsonaro no Ceará, o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), disse que seu pai receberia a notícia dos indiciamentos recomendados pelo relatório final da CPI com gargalhadas — ele chegou a imitar sua risada. O relatório pediu o indiciamento de Flávio por incitação ao crime.

Falando à rádio Jovem Pan, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que o documento “parece ficção”. “Se for possível, eu vou fazer uma sugestão por meio de uma peça para que seja imputado ao senador Renan Calheiros [relator da CPI, senador pelo MDB de Alagoas] o crime de abuso de autoridade, que é o que aconteceria se um juiz agisse como ele agiu”, afirmou. No relatório, Calheiros pediu o indiciamento de Eduardo por incitação ao crime.

No Twitter , o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) falou sobre o filho de Calheiros, Renan Filho, governador de Alagoas. Em 2020, o chefe do Executivo alagoano falou sobre os testes que estavam sendo feitos com hidroxicloroquina, substância ineficaz contra a covid-19, quando ainda havia esperança de efetividade. “Será que ele esqueceu de incluir no relatório o que seu filho, governador de Alagoas, falou sobre o tal remédio proibido de mencionar o nome?”, disse. A CPI pede o indiciamento de Carlos sob suspeita de incitação ao crime.

Em conversa com jornalistas na quarta (20) , o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, disse que quer processar todos os senadores que votarem à favor do relatório. “A investigação provou que eu não participei, e ele [Renan Calheiros] insiste em fazer uma tese que não tem fundamento nenhum. Vai responder juridicamente. E os outros senadores que votarem a favor do relatório também”, afirmou.

A CPI pede o indiciamento de Barros sob suspeita de incitação ao crime, advocacia administrativa, formação de organização criminosa e improbidade administrativa, por suspeitas ligadas ao caso Covaxin e outros.

Na terça-feira (19), antes de Renan Calheiros apresentar seu relatório, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse em vídeo publicado nas suas redes sociais que entraria com pedido de habeas corpus no Supremo para poder falar e se defender na CPI da Covid. No texto de Renan, a deputadaé acusada de incitação ao crime.

Já a operadora de planos de saúde Prevent Senior emitiu uma nota na quarta-feira (20).“Infelizmente, no Brasil, criou-se o costume de acusar e condenar pessoas e empresas sem a precisão resultante do devido processo legal. Um verdadeiro linchamento público, sem que as denúncias aventadas fossem investigadas pelos senadores”, diz o texto.

A empresa é suspeita de usar pacientes como cobaias em um estudo que tentava provar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, de ter feito um pacto com o governo Bolsonaro para difundir o medicamento e de omitir a doença em atestados de óbitos, entre outras.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não quis falar sobre o relatório. “Não sou comentarista”, disse a jornalistas na quinta-feira (21). A CPI pede seu indiciamento pelos crimes de epidemia com resultado morte e prevaricação.

Os ministros Walter Braga Netto (Defesa), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), alvos de pedido de indiciamento pelo relatório, não tinham se manifestado até a tarde de quinta-feira (21).

Os ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Fábio Wajngarten (Comunicação Social) e Eduardo Pazuello (Saúde), alvos de pedido de indiciamento, também não tinham comentado.

Os médicos Paolo Zanotto, Osmar Terra (deputado) e Nise Yamaguchi, apontados como supostos membros do “gabinete paralelo” da Saúde também não se manifestaram. Eles são suspeitos de promover o uso de substâncias ineficazes contra a covid.

As reações de apoiadores

Apoiadores do governo Jair Bolsonaro reagiram mal à entrega do relatório. Usando a ferramenta Tweet Binder, o Nexo pôde analisar 20 mil mensagens sobre o tema publicadas no Twitter entre quarta (20) e quinta (21).

A conta que mais conquistou engajamento foi a do perfil Família Direita Brasil, que teve 8.546 interações no período analisado.

Entre perfis de apoiadores do presidente, 100% das mensagens sobre o relatório eram negativas. Dessas, 51% eram consideradas “muito negativas”, mais hostis que as somente negativas.

A ferramenta Tweet Binder funciona a partir de um algoritmo de interpretação de linguagem, que busca e organiza adjetivos das mensagens e faz uma análise de sentimento delas.

Outro perfil que obteve muito engajamento foi o da deputada federal Carol de Toni (PSL-SC). Ela conquistou cerca de 3.000 interações no período com críticas ao relatório.

Usando a linguagem de programação Python, o Nexo pôde analisar as 10.414 interações com as quatro publicações da página do programa “Os pingos nos is” , da rádio Jovem Pan, mais alinhada ao governo, feitas entre os dias 20 e 21 de outubro.

Das mensagens, 88% eram negativas ao relatório. As outras 12% eram de críticos da Jovem Pan. Entre as negativas, 39% eram muito negativas. O código feito para a análise pode ser encontrado neste link .

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