Expresso

Como a Europa responde ao novo agravamento da covid

João Paulo Charleaux

19 de novembro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h31)

Entre os casos da doença registrados no mundo no início de novembro, 60% foram no continente. Países estão voltando a adotar medidas sanitárias

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FOTO: STEPHANIE LECOCQ/POOL VIA REUTERS – 27.07.2021

Presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen, estica os elásticos de uma máscara descartável para encaixá-la no rosto, diante de uma bandeira azul do bloco

Presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen, fala sobre a estratégia europeia de vacinação, em Bruxelas

A Europa começou a viver na primeira quinzena de novembro de 2021 o início do que está sendo interpretado pelas autoridades locais como uma quarta onda da covid-19. O aumento no número de casos da doença ocorre no momento em que se aproxima o inverno , com baixas temperaturas e maior aglomeração em locais fechados.

De forma geral, o continente avançou rapidamente na imunização de sua população. Entre os países-membros da União Europeia, 66% das pessoas tinham tomado a segunda dose ou a dose única, nos dados compilados até esta sexta-feira (19). Em vários países, como Alemanha e França, esse percentual é superior a 75%. Contudo, o ritmo da vacinação diminuiu à medida que a campanha de imunização se aproximou de nichos antivacinais no continente.

Neste texto, o Nexo mostra a deterioração acelerada da situação sanitária em diversos países europeus e resume as medidas que estão sendo adotadas por cada um dos governos, na tentativa de contar uma quarta onda.

60%

dos novos casos de covid-19 registrados no mundo entre 1º e 7 de novembro foram na Europa

55%

das novas mortes por covid-19 registradas no mundo entre 1º e 7 de novembro foram na Europa

Áustria: o caso mais radical

A Áustria registrou média de mais de 12 mil novos casos e 39 mortes por dia, na semana de 12 a 18 de novembro. A primeira semana de novembro teve um aumento de 43% nos casos em relação à última semana de outubro. O governo anunciou nesta sexta-feira (19) confinamento total da população, por pelo menos dez dias, a partir de segunda-feira (22). O país tinha aplicado duas doses – ou dose única, quando é o caso – em 65,3% da população até esta sexta. O novo confinamento total será imposto a vacinados e não vacinados, e a imunização se tornará obrigatória no país a partir de 1º de fevereiro de 2022, sob pena de multa e, em caso de insistência, detenção.

“Em toda a Europa, acabou a temporada de verão. O fato de que os espaços fechados sejam menos ventilados é seguramente uma das chaves para entender o repique atual da pandemia. Os demais freios, representados pela cobertura vacinal e pelas medidas de distanciamento social não se mostram suficientes para conter a variante delta, que é muito contagiosa”

Antoine Flahault

diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra, em declaração dada ao jornal francês Le Monde, em 17 de novembro de 2021

França: por ora, só vigilânica

A França se diz à espera de sua quinta onda, com projeção de menor intensidade em relação às ondas anteriores e às ondas que se anunciam nos países vizinhos. O país registrou mais de 12 mil novos casos e 40 mortes, em média, por dia, entre 12 e 18 de novembro, com 75% da população vacinada – com duas doses ou dose única, quando é o caso – até 17 de novembro. A primeira semana de novembro teve um aumento de 37% dos casos em relação à última semana de outubro. O governo disse estar em “vigilância absoluta”, mas sem um novo confinamento no horizonte.

Alemanha: restrição a não vacinados

A Alemanha registrou média de mais de 43 mil novos casos e 192 mortes por dia na semana de 12 a 18 de novembro. A última primeira semana de novembro teve um aumento de 50% nos casos em relação à última semana de outubro. O país tinha aplicado duas doses – ou dose única, quando é o caso – em 68% da população, até 17 de novembro.

O Parlamento aprovou na quinta-feira (18) uma lei que proíbe trabalhadores não imunizados de usar o transporte público, a menos que apresentem testes diários que comprovem a não contaminação. O governo diz que não descarta vacinação mandatória nem um novo lockdown geral.

Bélgica: trabalho remoto

A Bélgica teve mais de 11 mil novos casos e 32 mortes, na média diária do período entre 12 e 18 de novembro, com quase 76% da população vacinada com duas doses ou dose única, quando é o caso. A primeira semana de novembro teve um aumento de 27% nos casos em relação à última semana de outubro. As autoridades disseram que “todos os indicadores estão no vermelho”, com uma “explosão nos casos de contaminação”. A partir de 12 de dezembro, todos os trabalhadores que puderem trabalhar de forma remota, farão jornada de quatro dias semanais em home office.

Holanda: confinando à vista

A Holanda registrou mais de 11 mil novos casos e 32 mortes na média diária registrada entre 12 e 18 de novembro, com mais de 75% da população imunizada com duas doses ou dose única, quando é o caso. A primeira semana de novembro teve um aumento de 42% de casos em relação à última semana de outubro. O país fará confinamento parcial a partir de meados de novembro. Por enquanto, as escolas seguem abertas e o trabalho remoto é estimulado, mas não imposto. O uso de máscaras em alguns lugares públicos voltou a ser obrigatório em novembro, com aplicação de multas e outras sanções aos infratores – o que restitui uma prática iniciada em dezembro de 2020, mas abolida em julho de 2021.

Possíveis explicações

Especialistas ouvidos por jornais europeus citam a variante delta, a chegada do inverno e a lenta imunização como fatores que favorecem a nova onda da covid-19 no continente.Um desses especialistas, o francês Arnaud Fontanet, diretor do Instituto de Saúde Global do Instituto Pasteur, separou os países europeus em grupos, para explicar como a pandemia se manifesta em diferentes contextos.

Os países da Europa do Leste, como Estônia, Letônia, Croácia, Eslovênia, Polônia, Hungria e Rússia, estão com índices ainda muito baixos de vacinação. Só 36% dos russos estavam com duas doses ou dose única até 19 de novembro, por exemplo. Na Polônia, esse índice é de 53%.

Um segundo grupo é formado por países do sul do continente, como Itália, Espanha e Portugal, onde as temperaturas demoram mais a baixar, quando comparadas aos países do norte da Europa, nos quais o inverno já se anuncia. As temperaturas mais altas favorecem o uso de espaços públicos abertos, enquanto no norte as pessoas já convivem em locais mais fechados e sem ventilação.

Além da clemência do clima, esses países mais quentes também colhem os frutos de uma boa taxa de imunização completa: 88% em Portugal, 90% na Espanha e 73% na Itália.

Bélgica, Holanda, Dinamarca e Alemanha fazem parte de um grupo de países europeus nos quais, a despeito das boas taxas de imunização, a epidemia voltou a atacar, por causa de um misto de baixas temperaturas no fim do outono com aberturas ocorridas no período de verão nas quais as medidas sanitárias foram praticamente extintas, como se a pandemia tivesse acabado.

Especialistas como Fontanet dizem que a nova onda vem para deixar bem claro que a vacinação é eficiente, mas não funciona se não for acompanhada de outras medidas, como o uso de máscara, a higienização das mãos, a ventilação dos ambientes e o distanciamento social.

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