A invasão militar da Rússia à Ucrânia explicada em 5 mapas
João Paulo Charleaux
24 de fevereiro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h23)Avanço de Putin sobre o território da vizinha Ucrânia teve início em 2014, com a anexação da Crimeia, e progrediu até bombardeios e investidas terrestres ordenados pelo Kremlin em 2022
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Tropas russas circulam nas ruas de Armyansk, na Crimeia
A Rússia iniciou na quinta-feira (24) um ataque à Ucrânia ao bombardear e invadir com tropas o país vizinho, num ato que eleva a sensação de insegurança no mundo a um de seus níveis mais altos desde o fim da Guerra Fria, em 1991.
O avanço de Putin sobre a Ucrânia não foi repentino. Ele ocorreu de forma planejada e escalonada ao longo dos últimos oito anos – teve início em 2014, quando a Rússia tomou para si o território ucraniano da Crimeia, e seguiu em 2022, com o apoio declarado de Moscou a um grupo de rebeldes separatistas ligados ao Kremlin. Esse grupo age em Donetsk e Luhansk, na região do Donbass, na fronteira entre os dois países.
Neste texto o Nexo refaz a cronologia das ambições russas sobre a Ucrânia a partir de cinco mapas que cobrem a evolução cronológica dos fatos desde o fim da União Soviética até o conflito atual.
Rússia e Ucrânia ganharam os contornos atuais em 1991, ano em que a União Soviética ruiu e as 15 repúblicas socialistas que a compunham se tornaram países independentes.
A Rússia ficou como a grande herdeira do espólio soviético, incluindo o arsenal nuclear. A Ucrânia se tornou o segundo maior país da Europa, atrás apenas da própria Rússia, mas seu poder é incomparavelmente menor que o dos russos.
Na divisão, a Rússia manteve para si a posse de um minúsculo enclave na península da Crimeia, chamado Sebastopol, onde estava estacionada uma frota que projetava o poderio soviético – e atualmente o poderio naval russo – sobre o Mar Negro.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as potências europeias, assim como os EUA e a URSS, tinham um inimigo em comum: as potências do Eixo, que eram Alemanha, Itália e Japão. Mas o fato de terem inimigos em comum não tornou esses países aliados incondicionais entre si.
Terminada a Segunda Guerra, em 1945, os EUA e as potências europeias ficaram com a parte ocidental da Europa, enquanto a URSS ficou com a parte oriental. O símbolo dessa divisão foi o Muro de Berlim, que partiu ao meio a capital da Alemanha, que tinha sido tirada das mãos dos nazistas.
Para consolidar militarmente essa união no campo ocidental, os EUA e as potências europeias criaram um grupo chamado Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A URSS e os países do Leste Europeu criaram, do lado contrário, o Pacto de Varsóvia. As duas organizações eram rivais entre si.
Com o colapso da URSS, em 1991, o Pacto de Varsóvia se desintegrou, mas a Otan seguiu existindo e incorporou, nos anos 1990, países do leste que antes estavam coligados com os soviéticos, entre os quais República Tcheca, Hungria, Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia. Esse movimento de expansão da Otan em direção ao leste da Europa é considerado hostil por Moscou.
Em 2013, a Ucrânia buscava uma aproximação crescente com o lado ocidental da Europa, distanciando-se da antiga influência de Moscou. No limite, havia em parte da sociedade ucraniana uma expectativa, nunca concretizada, de adesão à União Europeia e à Otan. O presidente ucraniano à época, Viktor Yanukovich, recuou de assinar acordos que iam nessa direção, dizendo-se pressionado pelo Kremlin.
Milhares de ucranianos saíram às ruas da capital, Kiev, para defender a aproximação do país com a Europa. Yanukovich renunciou. No leste do país, cresceu um movimento que defendia a separação da Ucrânia e a anexação de duas regiões ucranianas por parte da Rússia: a Crimeia e uma parte do Donbass.
Putin apoiou enviou tropas para a Crimeia em fevereiro de 2014 e, no mês seguinte, realizou um referendo no qual 97% da população local votou pela separação da Ucrânia e pela anexação à Rússia. O resultado nunca foi reconhecido pela própria Ucrânia nem pelas Nações Unidas, mas serviu de pretexto para que Putin tomasse essa porção do território do país vizinho para si.
Ao mesmo tempo em que anexou a Crimeia, em 2014, Putin passou a municiar grupos rebeldes que agiam em uma região da fronteira da Ucrânia com a Rússia chamada Donbass. Dentro dessa região do Donbass há duas localidades, Donetsk e Luhansk , que foram parcialmente tomadas por separatistas que defendem a anexação à Rússia.
O governo da Ucrânia não aceitou a declaração de independência feita pelos rebeldes de Donetsk e Luhansk, e enviou tropas para combatê-los ao longo dos últimos anos. O governo Putin deu passaporte russo para 800 mil pessoas que vivem nessa área em disputa e aumentou o respaldo aos grupos separatistas locais.
Em novembro de 2021, Putin estacionou mais de 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Em fevereiro de 2022, ele moveu um número semelhante de tropas para a aliada Belarus, que também faz fronteira com a Ucrânia. O movimento foi visto como o prenúncio de uma invasão.
Na segunda-feira (21), Putin fez um pronunciamento na TV no qual reconheceu a declaração de independência de Donetsk e Luhansk. O argumento é de que pessoas de origem russa estavam sofrendo violações de direitos humanos por parte de forças do governo ucraniano na região. Neste instante, ele falou abertamente sobre o envio de tropas russas à região. Putin disse que seriam “tropas de paz”. O secretário-geral da ONU disse que não : aquilo seria uma invasão.
Os oito anos de assédio da Rússia contra a integridade territorial da Ucrânia culminaram na quinta-feira (24) com o início de uma invasão com bombardeios feitos por via aérea e com fogo de artilharia, além de incursão terrestre, com cavalaria (tanques e outros veículos blindados) e infantaria (tropas) russas sobre solo ucraniano.
A invasão ordenada por Putin não ficou restrita às áreas em disputa, na região do Donbass. Ela chegou a todo o território ucraniano, incluindo a capital, Kiev, e as maiores cidades do país. Portos e aeroportos foram destruídos e a infraestrutura vital para a população civil – rodovias, pontes, telecomunicações, sistemas de água e luz – foi danificada.
No sul, nas localidades de Odessa e Kerson, houve desembarque de tropas anfíbias (transportadas por meios navais). No leste do país, o Exército ucraniano entrou em combate com tropas russas que cruzaram a fronteira.
Depois de iniciada a invasão russa, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou que qualquer ação militar contra um dos 30 países-membros do grupo receberá uma resposta unificada de toda a Aliança (a Ucrânia não é parte da Otan) – numa declaração que traçou uma linha a partir da qual a Otan consideraria uma resposta militar. Em relação à Ucrânia, todos os países do grupo manifestaram solidariedade, restrita em todo caso ao envio de dinheiro e tecnologia militar, além da aplicação de sanções econômicas a Moscou.
Putin havia dito que qualquer país que se colocasse entre a Rússia e os interesses em jogo na Ucrânia sofreria retaliações como nunca visto antes na história.
Colaboraram Lucas Gomes, Gabriel Zanlorenssi e Nicholas Pretto
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