Expresso

O rumo das pesquisas em 2022. E as tendências até o voto

Isabela Cruz

03 de setembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h41)

O ‘Nexo’ conversou com duas cientistas políticas sobre as possíveis variações do eleitorado nas semanas que antecedem a escolha presidencial, após meses de estabilidade na disputa

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FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS – 15.NOV.2020

Da porta de uma sala de aula onde está a urna, foto registra mulher na cabine eleitoral

Eleitora registra seu voto na urna eletrônica

A um mês das eleições , as pesquisas de intenção de voto permanecem registrando percentuais próximos aos marcados no início do ano eleitoral para o candidato favorito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Em segundo lugar, o presidente Jair Bolsonaro, do PL, obtém percentual semelhante há várias semanas.

Dias após o primeiro debate entre os candidatos, realizado no dia 28 de setembro, a alteração mais significativa, fora da margem de erro , se deu em relação à candidatura da senadora Simone Tebet, do MDB, segundo os institutos Datafolha e Ipespe. Ainda assim ela se mantém em quarto lugar, com baixo percentual.

Na pesquisa do Datafolha, por exemplo, feita entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro (BR-00433/2022), Lula tem 45% das intenções de voto e Bolsonaro, 32%. Ciro fica com 9%, e Tebet alcançou os 5%, um crescimento de 3 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de meados de agosto. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

A diferença entre os favoritos se mantém próxima do que sempre esteve desde abril. Veja isso no gráfico abaixo, que reúne os dados do Datafolha e de diversos outros institutos (a metodologia completa, os dados e os registros das pesquisas estão disponíveis no GitHub ).

As pesquisas ao longo do ano

Gráfico em linhas, uma para cada candidatura, mostra estabilidade da disputa ao longo do ano, especialmente a partir de maio. No entorno de cada linha, pontos representam as diferentes pesquisas eleitorais

Nesse cenário, o que está em jogo, por enquanto, é a ocorrência ou não de um segundo turno. De acordo com as cientistas políticas ouvidas pelo Nexo , a tendência é de que isso dependa muito mais da distribuição de votos entre brancos, nulos e as candidaturas da chamada terceira via, do que da variação de votos dos favoritos Lula especialmente, já que ele tem o eleitorado consolidado há mais tempo.

Confira abaixo mais do que as especialistas em pesquisas eleitorais disseram. São elas:

  • Carolina Almeida de Paula , diretora-executiva do DataIesp, vinculado ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
  • Marcia Ribeiro Dias , professora da Escola de Ciência Política da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Quais foram os movimentos relevantes nas pesquisas de intenção de voto do início de 2022 até este início de setembro, a um mês do primeiro turno?

Carolina Almeida de Paula Do final de maio, início de abril, para cá, com a desistência de João Doria [PSDB] e de Sergio Moro [União Brasil], temos estabilidade. Aquele momento foi o último marco de alguma alteração mais substantiva nos quadros da disputa, com a subida de Bolsonaro.

Desde então, há uma estabilidade muito grande, com a definição das preferências muito cedo. São várias as razões para isso: trata-se de dois nomes bastante conhecidos, que já foram presidentes. Isso faz com que o eleitor conheça bem os candidatos, não precisando de mais tempo para conhecer as campanhas. Os indecisos são aquelas pessoas que não querem nem um nem outro e não viram nenhuma alternativa. Eles podem escolher votar em algum dos nomes da disputa, mas a abstenção é um fato que pode aparecer.

Dentro das quebras, o que teve de mais significativo foram as disputas regionais e pelo voto dos evangélicos. O voto das mulheres não teve uma alteração muito significativa. Na questão regional, Bolsonaro conseguiu se recuperar nas regiões Centro-Oeste e Sul, mas isso ocorreu na saída da disputa de Moro e Doria.

Quanto à questão da religião, também houve uma queda [nas intenções de voto em Bolsonaro] especialmente no início do ano, quando a pandemia fica mais grave, mas depois ele se recupera. Faz um tempinho já que percebemos estabilidade mesmo dentro desses “targets” [alvos das campanhas eleitorais].

Marcia Ribeiro Dias Em janeiro de 2022, Lula já tinha atingido os 44% que ele mantém hoje – com alguma oscilação, mas sempre dentro da margem de erro. Então há uma estabilidade grande desde o início do ano. Um número muito alto de pessoas que dizem que votarão em Lula com toda certeza.

Essa estabilidade revela que há muita convicção por parte desse eleitorado. Não houve nenhuma oscilação significativa. Mas também não passa muito disso. Este é, aliás, o aspecto mais preocupante para Lula da sua intenção de voto: o fato de que, de janeiro a agosto, não houve mudança.

Já Bolsonaro teve, sim, uma evolução positiva na sua intenção de voto. Em janeiro ele estava na faixa dos 24% e agora ele está estabilizado no percentual próximo aos 30%, 32%. Parece que também atingiu seu teto.

Isso já dá a esses dois candidatos o controle da maior parte dos votos. Então, para que houvesse alguma ascensão de uma terceira força, haveria de ter uma mudança na intenção de voto dessas duas candidaturas. Da parte de Lula, é praticamente impossível [a perda de votos], visto que seus eleitores estão convictos desde janeiro.

Já da parte de Bolsonaro existe um eleitorado flutuante, sim. Penso que o eleitorado fixo dele não passa de 25%. Em janeiro, ele tinha 24%. Os demais se agregaram à campanha ao longo do ano. Pode ser que os escândalos de corrupção que estão se proliferando façam com que cresça uma terceira força alimentada pelos votos que Bolsonaro possivelmente venha a perder. Nesse caso, as chances são maiores para Simone Tebet do que para Ciro Gomes.

Existe alguma tendência revelada pelas pesquisas que pode mudar o quadro eleitoral, ou será necessário um fato excepcional para alterar o favoritismo de Lula?

Carolina Almeida de Paula Qualquer mudança seria algo excepcional, que não podemos nem imaginar, fora dos padrões de análise seja da política seja de cenários econômicos.

Havia uma expectativa de que o aumento do Auxílio Brasil poderia balançar o quadro. Mas o que percebemos, também nas pesquisas qualitativas que temos feito, e não só nas pesquisas quantitativas, é que as pessoas estão conseguindo separar quem dá o Auxílio, a permanência desse Auxílio e também o caráter eleitoral dessa medida.As pessoas não são inocentes no sentido de votar simplesmente porque receberam o Auxílio.

Um outro ponto importante da avaliação dessas pessoas que recebem o Auxílio Brasil é a percepção de que a economia não melhorou, de que esse aumento [do benefício] não compensa o aumento de outros custos de vida, como os alimentares.

A economia do dia a dia não mexeu com o aumento do Auxílio Brasil. Pelo tempo [em que o benefício em parcelas mais altas está sendo pago], desde o início de agosto, já era para ter dado algum sinal de que isso fosse influenciar.

Marcia Ribeiro Dias A pesquisa do Datafolha publicada na quinta-feira [1º] mostrou uma força ascendente, no campo da direita, que é a de Simonte Tebet [MDB]. Ela teve uma variação positiva além da margem de erro.

E existe uma outra força, que se situa no campo da esquerda, que é a de Ciro Gomes – uma candidatura conhecida e com pouca probabilidade de evoluir positivamente, uma vez que ela não guarda grandes surpresas para o eleitorado. Ainda falta um pouco, porém, para ele chegar no percentual de votos que teve em 2018, que foi de 12%. Na última pesquisa, ele teve uma oscilação positiva, mas dentro da margem de erro.

Ou seja, existe um potencial de crescimento [dessa terceira força], o que diminui a probabilidade de vitória no primeiro turno de Lula. Isso porque, aumentando o número de votos válidos, ele precisa de um percentual maior de votos para ganhar no primeiro turno.

Ocorre que, na última pesquisa, as candidaturas de Lula e de Bolsonaro não se mexeram. A de Lula teve uma oscilação negativa, mas dentro da margem de erro. O que mexeu foi a intenção de votos brancos e nulos, abstenções e indecisos. Esses, portanto, me parece que são os principais alimentadores das campanhas tanto de Ciro quanto de Simone. Se isso é verdade, eles também podem ter atingido um limite de crescimento.

Colaborou com o gráfico Mariana Froner .

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