Os desafios do ChatGPT, robô usado para trabalhos acadêmicos
Cesar Gaglioni
16 de janeiro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 21h23)Estudantes têm recorrido à inteligência artificial capaz de gerar textos para burlar tarefas propostas por professores. Ferramenta se difundiu na educação básica e superior
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Logotipo do centro de pesquisas OpenAI
Consideradas a maior revolução tecnológica desde a invenção da luz elétrica , as inteligências artificiais generativas ganharam popularidade ao longo de 2022. A principal delas é o ChatGPT , do centro de pesquisas OpenAI, que chegou às mãos do público em dezembro.
O ChatGPT parece um aplicativo de mensagens. Nele, você pode dar qualquer tipo de instrução para o robô, que vai analisar bilhões de páginas, e criar uma resposta em texto 100% original. Entre os usos estão a criação de cardápios, slogans, descrições de cenas para ficção e artigos sobre qualquer tema.
Essa última aplicação tem preocupado educadores ao redor do mundo. Como o ChatGPT é um modelo poderoso que trabalha com bilhões de parâmetros e pode discorrer sobre qualquer assunto disponível na internet, alunos do ensino básico e superior têm utilizado ele como atalho para não cumprir trabalhos acadêmicos.
Neste texto, o Nexo explica o que são as IAs generativas, como elas funcionam, quais preocupação elas geram e como esses problemas têm sido resolvidos.
O ChatGPT, da OpenAI, funciona a partir de um algoritmo chamado GPT-3, que é um modelo de Processamento de Linguagem Natural – conjunto de técnicas e princípios que permitem que uma máquina se comunique com um ser humano de forma natural. É o caso das assistentes de voz Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple.
Para além de assistentes de voz, técnicas de Processamento de Linguagem Natural podem ser usadas para gerar textos. Em 2022, o Nexo publicou pela primeira vez um texto que foi parcialmente escrito pela GPT-3.
O GPT-3 funciona a partir de um vocabulário de milhares de palavras, conhecimentos de gramática e a capacidade de criar centenas de bilhões de frases diferentes.
Ao receber um tema, o robô analisa o conteúdo sugerido e a forma de escrita. A partir disso, gera o texto. Quanto maiores os detalhes da sugestão, melhor o GPT-3 consegue criar um texto similar.
O trabalho de um robô como o GPT-3 pode ser impressionante em termos de resultados, mas está longe de ser equiparável à cognição humana na hora de formar raciocínios. Isso porque o algoritmo sabe, por exemplo, formar frases, mas não compreende exatamente por que as frases foram construídas daquele jeito. O que pode ser visto como uma bela poesia para um leitor é interpretado apenas como mais uma série de instruções pela máquina.
Em 1950, o matemático inglês Alan Turing desenvolveu o Teste de Turing – ou “O jogo da imitação”. Ele consiste em uma série de perguntas feitas para determinar se um robô consegue pensar de forma indistinguível de um ser humano. Até hoje, nenhum algoritmo conseguiu passar no desafio. No entanto, aos olhos leigos, pode ser difícil (ou quase impossível) detectar que um texto foi escrito por um robô e não por uma pessoa.
Alunos do ensino básico e superior passaram a usar o ChatGPT em trabalhos escolares como um “atalho” para não cumprir as tarefas propostas por professores.
Em Nova York, as escolas públicas proibiram o uso do ChatGPT em dispositivos conectados nas redes das unidades de ensino. “Devido a preocupações com impactos negativos na aprendizagem dos alunos e preocupações com a segurança e precisão do conteúdo, o acesso ao ChatGPT é restrito nas redes e dispositivos das escolas públicas da cidade de Nova York”, disse nota do departamento de educação da cidade no começo de 2023.
Na Universidade do Norte de Michigan, um aluno do curso de filosofia usou o ChatGPT para escrever aquele que foi considerado “o melhor trabalho da turma” pelo professor Antony Aumann. Na sequência, o aplicativo foi proibido na instituição. Não há registros públicos de algo similar acontecendo no Brasil até o momento.
O problema do ChatGPT parece ser uma versão avançada do que aconteceu no início dos anos 2000, quando alunos de diversos níveis passaram a copiar e colar textos prontos da internet para suas tarefas. A diferença é que o ChatGPT gera um texto único, que não pode ser considerado tecnicamente um plágio.
Na produção científica, o ChatGPT foi usado para escrever a introdução de um artigo publicado no repositório bioRxiv. O texto gerado pelo robô não foi detectado por identificadores de plágio nem pelos cientistas que o revisaram. Em texto do blog da revista Nature, cientistas não conseguiram determinar com precisão as implicações éticas desse tipo de aplicação da tecnologia.
Kevin Roose, colunista de tecnologia do jornal New York Times, disse acreditar que professores não deveriam lutar contra a tecnologia, e sim usá-la no processo de ensino .
“O ChatGPT pode ser um aliado poderoso para um professor. As respostas dadas pelo robô podem ser um primeiro passo para os alunos desenvolverem senso crítico, aprenderem a checar informações e ensinar princípios da computação”, disse em texto do dia 12 de janeiro.
Roose também argumenta que IAs generativas como o ChatGPT podem ser úteis para facilitar a vida dos professores na hora do preparo das aulas, criando planos de ensino e exercícios rapidamente com base em parâmetros dados pelos educadores.
Daniel Herman, professor de ensino médio da Califórnia, foi menos otimista em artigo escrito para a revista The Atlantic. “Tudo é inventado, de fato. As redações escolares. Inventadas. A gramática? Inventada. A própria escrita. Inventada. A partir de agora, a OpenAI está nos fazendo questionar se vale a pena preservar essas coisas dentro de um ambiente escolar.”
“Estamos em um momento como a invenção da calculadora, que me poupa muito tempo fazendo divisões longas, ou mais como a invenção do pianista, e, como consequência, [o ChatGPT está] nos roubando daquilo que só pode ser comunicado por meio da emoção humana?”
Mesmo sem um processo de pensamento equiparável ao ser humano, as inteligências artificiais generativas como o ChatGPT têm resultados impressionantes. Por isso, especialistas as têm considerado uma revolução.
O Fórum Econômico Mundial prevê que essa indústria pode gerar “trilhões de dólares anuais” em um futuro próximo, ao permitir a automação de algumas tarefas que são repetitivas, triviais ou suscetíveis a erro – como a construção de escalas de trabalho em empresas ou a criação de planilhas semanais de custos.
“As inteligências artificiais generativas são uma revolução tecnológica profunda , e vão impactar as mais diversas indústrias e potencialmente auxiliar algumas das questões mais complexas do mundo, como os sistemas de saúde e as mudanças climáticas”, afirmou Sylvain Duranton, colunista de tecnologia da revista Forbes em 7 de janeiro.
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