Expresso

A tecnologia que quer popularizar carros elétricos

Cesar Gaglioni

16 de fevereiro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h18)

Ford aproveita incentivos de pacote climático de governo americano para investir em fábrica com técnica que reduz custo de produção de baterias a partir do uso de outras misturas metálicas

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FOTO: REBECCA COOK/REUTERS – 16.09.2021

Foto de uma fábrica grande com várias máquinas e algumas pessoas trabalhando, no meio uma caminhonete grande sendo montada

Pré-produção de caminhonete elétrica da Ford em Michigan, nos EUA

A Ford anunciou na segunda-feira (13) a construção de uma nova fábrica de carros elétricos nos EUA, com investimento de US$ 3,5 bilhões. Junto da nova planta industrial, a empresa pretende implementar tecnologias ainda incipientes para a produção de baterias.

A ideia é que a tecnologia seja mais barata e dure mais tempo. A vida útil relativamente curta e os altos custos seguem como um impeditivo para a adoção massiva dos carros elétricos, que são menos poluentes do que os movidos a álcool, gasolina ou diesel e, dessa forma, contribuem menos para a mudança climática.

Neste texto, o Nexo detalha como funciona as novas tecnologias, o contexto dos investimentos da Ford e as perspectivas para o mercado de carros elétricos.

A nova fábrica da Ford

A nova fábrica da Ford será localizada no estado de Michigan, nos EUA. A construção do pátio industrial é fruto de uma parceria entre a montadora e a empresa chinesa Contemporary Amperex Technology, produtora global de baterias para carros elétricos.

O projeto vai custar US$ 3,5 bilhões de dólares. A expectativa é de que a produção comece em 2026, com 2.500 novos empregos para a região.

O anúncio da Ford é resultado direto de políticas do governo de Joe Biden para ampliar a produção de carros elétricos no país.

O democrata, por meio do IRA (sigla em inglês para Ato de Redução da Inflação), reduziu impostos e implementou empréstimos a juros baixos para empresas que queiram investir na produção de veículos elétricos e na ampliação do parque industrial americano.

FOTO: DIVULGAÇÃO/FORD

Bill Ford, CEO da Ford, em evento nos EUA

Bill Ford, CEO da Ford, em evento nos EUA

Os EUA passaram, ao longo da segunda metade do século 20, por um processo de desindustrialização . Uma das áreas mais afetadas é o chamado Cinturão da Ferrugem, porção de estados no nordeste do país que era conhecida pela presença de grandes indústrias.

As principais causas foram a competição internacional e a transferência de fábricas para países com mão de obra mais barata, como México e China, além do surgimento de novos segmentos econômicos, como o setor de tecnologia da informação.

A desindustrialização gerou desemprego e inflação crescente. Com o IRA, sancionado em agosto de 2022, Biden espera reverter ou mitigar o processo e dar novo fôlego à economia dos Estados Unidos, priorizando investimentos em segmentos que contribuam para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O conjunto de medidas foi considerado o maior pacote climático da história dos EUA.

Quais as novas tecnologias

Com a fábrica, a Ford pretende implementar duas tecnologias ainda incipientes para a produção de baterias:

  • LFP , sigla em inglês para fosfato de lítio e ferro
  • NCM , sigla para manganês, níquel e cobalto

Atualmente, a maior parte das baterias de veículos elétricos é feita com lítio ionizado e uma pequena porcentagem de NCM (m anganês, níquel e cobalto).

O problema da tecnologia atual que utiliza o lítio ionizado com um percentual de NCM é que o manganês pode se dissolver e causar degradação da capacidade total de carga, diminuindo a vida útil dela e podendo causar explosões.

Já na tecnologia LFP (f osfato de lítio e ferro), similar à usada em pilhas comuns, há menos degradação da capacidade total, o que gera uma vida útil mais longa para as baterias.

A Tesla, montadora de Elon Musk, começou a produzir veículos com tecnologia LFP em 2021. No entanto, os automóveis da marca ainda são carros de luxo, usados por uma pequena parcela da população. A Ford pretende popularizar e aumentar a circulação desse tipo de bateria.

A tecnologia NCM é um pouco mais cara e tem a vida útil menor, mas consegue lidar melhor com baixas temperaturas – algo importante para veículos que circulam em países com invernos rigorosos. Os outros tipos de bateria perdem cerca de 20% de seu potencial de carga quando expostas a temperaturas congelantes.

O frio faz com que as partículas com carga elétrica positiva e negativa tenham mais dificuldade em fluir dentro da estrutura, que é preenchida com um líquido eletrólito, que fica mais denso com o clima invernal.

Outro problema da tecnologia NCM é que o cobalto já foi chamado de “o diamante de sangue das baterias” , já que sua extração – especialmente na República Democrática do Congo, que detém 70% das reservas mundiais do material – tem relação próxima com trabalhadores em condição análoga à escravidão, além de poluir o solo e a água da região.

A Ford não se manifestou sobre a questão, e nem esclareceu como será feita a extração de cobalto para as novas baterias. Também não se sabe qual será a redução de custo para o consumidor final.

O mercado de carros elétricos

As expectativas para o mercado de veículos elétricos até 2030 são otimistas , segundo análise feita pela empresa de pesquisa de mercado britânica IDTechEx. “A eletrificação do transporte vai ser uma das maiores revoluções de mercado nas próximas duas décadas”, afirmou a empresa em estimativa. De acordo com a IDTechEx, o mercado de veículos elétricos vai estar avaliado em US$ 2,4 trilhões até 2041.

No Brasil, o mercado de carros elétricos ainda é incipiente e pequeno. Dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos mostram que o país encerrou 2022 com cerca de 49 mil carros movidos a bateria em todo o território nacional.

Em janeiro, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, deu sinais de que o governo pretende oferecer benefícios a montadoras de carros elétricos no país até 2026.

“É imperativa a redução da emissão de gases de efeito estufa, o estabelecimento de uma política de apoio a uma economia de baixo carbono, privilegiando tecnologias limpas e dando início a um processo produtivo eficiente, seguro e sustentável”, afirmou Alckmin durante evento em Brasília. Os planos para a implementação da ideia ainda são desconhecidos.

Os veículos elétricos, por não usarem combustíveis fósseis, não emitem gases do efeito estufa quando estão circulando. O aumento do uso desse tipo de automóvel tem relação direta com os esforços mundiais para zerar as emissões até 2050 e mitigar a mudança climática.

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