A tecnologia que quer popularizar carros elétricos
Cesar Gaglioni
16 de fevereiro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h18)Ford aproveita incentivos de pacote climático de governo americano para investir em fábrica com técnica que reduz custo de produção de baterias a partir do uso de outras misturas metálicas
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Pré-produção de caminhonete elétrica da Ford em Michigan, nos EUA
A Ford anunciou na segunda-feira (13) a construção de uma nova fábrica de carros elétricos nos EUA, com investimento de US$ 3,5 bilhões. Junto da nova planta industrial, a empresa pretende implementar tecnologias ainda incipientes para a produção de baterias.
A ideia é que a tecnologia seja mais barata e dure mais tempo. A vida útil relativamente curta e os altos custos seguem como um impeditivo para a adoção massiva dos carros elétricos, que são menos poluentes do que os movidos a álcool, gasolina ou diesel e, dessa forma, contribuem menos para a mudança climática.
Neste texto, o Nexo detalha como funciona as novas tecnologias, o contexto dos investimentos da Ford e as perspectivas para o mercado de carros elétricos.
A nova fábrica da Ford será localizada no estado de Michigan, nos EUA. A construção do pátio industrial é fruto de uma parceria entre a montadora e a empresa chinesa Contemporary Amperex Technology, produtora global de baterias para carros elétricos.
O projeto vai custar US$ 3,5 bilhões de dólares. A expectativa é de que a produção comece em 2026, com 2.500 novos empregos para a região.
O anúncio da Ford é resultado direto de políticas do governo de Joe Biden para ampliar a produção de carros elétricos no país.
O democrata, por meio do IRA (sigla em inglês para Ato de Redução da Inflação), reduziu impostos e implementou empréstimos a juros baixos para empresas que queiram investir na produção de veículos elétricos e na ampliação do parque industrial americano.
Bill Ford, CEO da Ford, em evento nos EUA
Os EUA passaram, ao longo da segunda metade do século 20, por um processo de desindustrialização . Uma das áreas mais afetadas é o chamado Cinturão da Ferrugem, porção de estados no nordeste do país que era conhecida pela presença de grandes indústrias.
As principais causas foram a competição internacional e a transferência de fábricas para países com mão de obra mais barata, como México e China, além do surgimento de novos segmentos econômicos, como o setor de tecnologia da informação.
A desindustrialização gerou desemprego e inflação crescente. Com o IRA, sancionado em agosto de 2022, Biden espera reverter ou mitigar o processo e dar novo fôlego à economia dos Estados Unidos, priorizando investimentos em segmentos que contribuam para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O conjunto de medidas foi considerado o maior pacote climático da história dos EUA.
Com a fábrica, a Ford pretende implementar duas tecnologias ainda incipientes para a produção de baterias:
Atualmente, a maior parte das baterias de veículos elétricos é feita com lítio ionizado e uma pequena porcentagem de NCM (m anganês, níquel e cobalto).
O problema da tecnologia atual que utiliza o lítio ionizado com um percentual de NCM é que o manganês pode se dissolver e causar degradação da capacidade total de carga, diminuindo a vida útil dela e podendo causar explosões.
Já na tecnologia LFP (f osfato de lítio e ferro), similar à usada em pilhas comuns, há menos degradação da capacidade total, o que gera uma vida útil mais longa para as baterias.
A Tesla, montadora de Elon Musk, começou a produzir veículos com tecnologia LFP em 2021. No entanto, os automóveis da marca ainda são carros de luxo, usados por uma pequena parcela da população. A Ford pretende popularizar e aumentar a circulação desse tipo de bateria.
A tecnologia NCM é um pouco mais cara e tem a vida útil menor, mas consegue lidar melhor com baixas temperaturas – algo importante para veículos que circulam em países com invernos rigorosos. Os outros tipos de bateria perdem cerca de 20% de seu potencial de carga quando expostas a temperaturas congelantes.
O frio faz com que as partículas com carga elétrica positiva e negativa tenham mais dificuldade em fluir dentro da estrutura, que é preenchida com um líquido eletrólito, que fica mais denso com o clima invernal.
Outro problema da tecnologia NCM é que o cobalto já foi chamado de “o diamante de sangue das baterias” , já que sua extração – especialmente na República Democrática do Congo, que detém 70% das reservas mundiais do material – tem relação próxima com trabalhadores em condição análoga à escravidão, além de poluir o solo e a água da região.
A Ford não se manifestou sobre a questão, e nem esclareceu como será feita a extração de cobalto para as novas baterias. Também não se sabe qual será a redução de custo para o consumidor final.
As expectativas para o mercado de veículos elétricos até 2030 são otimistas , segundo análise feita pela empresa de pesquisa de mercado britânica IDTechEx. “A eletrificação do transporte vai ser uma das maiores revoluções de mercado nas próximas duas décadas”, afirmou a empresa em estimativa. De acordo com a IDTechEx, o mercado de veículos elétricos vai estar avaliado em US$ 2,4 trilhões até 2041.
No Brasil, o mercado de carros elétricos ainda é incipiente e pequeno. Dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos mostram que o país encerrou 2022 com cerca de 49 mil carros movidos a bateria em todo o território nacional.
Em janeiro, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, deu sinais de que o governo pretende oferecer benefícios a montadoras de carros elétricos no país até 2026.
“É imperativa a redução da emissão de gases de efeito estufa, o estabelecimento de uma política de apoio a uma economia de baixo carbono, privilegiando tecnologias limpas e dando início a um processo produtivo eficiente, seguro e sustentável”, afirmou Alckmin durante evento em Brasília. Os planos para a implementação da ideia ainda são desconhecidos.
Os veículos elétricos, por não usarem combustíveis fósseis, não emitem gases do efeito estufa quando estão circulando. O aumento do uso desse tipo de automóvel tem relação direta com os esforços mundiais para zerar as emissões até 2050 e mitigar a mudança climática.
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