Expresso

Yanomami: origem, história, práticas e visões de mundo

Mariana Vick

19 de fevereiro de 2023(atualizado 25/02/2024 às 22h12)

Grupo afetado por invasão garimpeira vive em território entre o Brasil e a Venezuela há cerca de 1.000 anos. Comunidades conservam modo de vida tradicional e se opõem à visão da natureza proposta por não indígenas

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FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS – 1º.JUL.2020

Mulheres indígenas yanomami estão juntas, quase em fila. Seus cabelos são curtos e seus seios estão à mostra. Algumas delas sorriem. Atrás, é possível ver, borrada, uma floresta.

Indígenas yanomami em pelotão do Exército em Alto Alegre (RR)

Presentes há cerca de 1.000 anos no território que ocupam até hoje, numa área de floresta tropical densa entre o Brasil e a Venezuela, os Yanomami são um dos maiores povos indígenas da Amazônia que conservam seu modo de vida tradicional.

Espalhados em um território de cerca de de 230 mil km² nos dois países, no qual vivem 640 comunidades, eles têm uma longa história anterior à crise recente causada pela invasão do garimpo , marcada por costumes e mitos próprios e pelo desenvolvimento de uma relação íntima e sagrada com a floresta.

O Nexo explica a origem, a trajetória e as visões de mundo dos Yanomami, com base em informações de livros publicados por antropólogos e lideranças indígenas e também em documentos de organizações da sociedade civil. Mostra ainda como os Yanomami respondem à invasão garimpeira.

A origem e a geografia dos Yanomami

Formada por caçadores, coletores e agricultores de coivara (itinerantes), a sociedade Yanomami vive nas duas vertentes da serra Parima, cadeia de montanhas de 1.700 m de altitude que define a fronteira entre o Brasil e a Venezuela e é o divisor de águas entre o alto Orinoco, no sul venezuelano, e a margem esquerda do rio Negro, no norte do Brasil.

FOTO: ODAIR LEAL /REUTERS/ODAIR LEAL

Encontro do povo indígena Yanomami

Encontro do povo indígena Yanomami

Segundo uma das hipóteses mais aceitas por pesquisadores, os Yanomami são descendentes de um antigo grupo indígena (chamado de “proto-Yanomami”) instalado há um milênio no entorno da serra, onde as comunidades se isolaram por um longo período até os séculos 19 e 20.

Parte do grupo se dispersou para as planícies nesse período por causa de um processo de crescimento demográfico dos Yanomami, atribuído à adoção de novos cultivos (como a banana), à obtenção de ferramentas de metal por meio de trocas ou guerras com grupos vizinhos e à dizimação dessas outras comunidades pela fronteira colonial, que esvaziou territórios no entorno e abriu espaço para a migração.

Cerca de cinco séculos antes, os Yanomami já haviam iniciado um processo de diferenciação interna que gerou as atuais línguas do grupo. A família linguística Yanomami é composta de pelo menos quatro línguas (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam) que se subdividem em diversos dialetos.

FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS

Garota Yanomami no estado de Roraima

Garota Yanomami no estado de Roraima

Pesquisadores consideram que os Yanomami são muito diferentes, dos pontos de vista linguístico, genético e antropométrico (ramo da antropologia que estuda o corpo humano), de seus vizinhos imediatos, como os Ye’kuana, que também vivem entre o Brasil e a Venezuela.

26.780

é a quantidade de indígenas Yanomami no Brasil, segundo dados de 2019 da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena); na Venezuela, eles são pouco mais de 11.300, segundo dados de 2011

Demarcada em 1992 , a terra indígena Yanomami brasileira ocupa 96.650 km² no extremo norte do país, ao longo da fronteira venezuelana. Com uma grande diversidade de ecossistemas, a área — a maior demarcada no Brasil — é considerada pela comunidade científica prioritária em termos de proteção da biodiversidade da Amazônia .

Mapa mostra localização da Terra Indígena Yanomami, na fronteira de Brasil e Venezuela

A palavra Yanomami é uma simplificação do etnônimo Yañomami, que, seguido do plural thëpë, significa “seres humanos” em yanomami ocidental. O termo foi inicialmente adotado na Venezuela para nomear o conjunto da etnia e usado no Brasil a partir dos anos 1970.

Como as comunidades se organizam

Cada comunidade yanomami é constituída em geral por um conjunto de parentes cognáticos (que advêm do mesmo tronco, seja masculino, seja feminino) cujas famílias são unidas por laços de intercasamento repetidos por duas ou mais gerações, idealmente entre primos cruzados (filhos da tia paterna ou do tio materno).

Essas famílias vivem juntas em casas comunais em forma de cone ou de cone truncado (caso dos Yanomami orientais e ocidentais) ou em aldeias compostas de casas retangulares (caso dos indígenas que vivem nas regiões norte e nordeste do território).

FOTO: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS – 09.09.2012

Indígenas Yanomami em Irotatheri, na Venezuela, região que poderia se tornar parte do Triplo A

Cada casa coletiva ou aldeia se considera uma entidade econômica e política autônomas. Ao mesmo tempo, todas mantêm relações com comunidades vizinhas, consideradas aliadas frente a grupos mais distantes. O espaço social fora desses limites é visto com desconfiança.

Base da economia local, a floresta está no centro das atividades exercidas pelos Yanomami. Nas regiões mais próximas à casa ou à aldeia, eles costumam se dedicar a pequenas coletas de alimentos, pesca, caça de curta duração e atividades agrícolas. Nas áreas mais distantes, fazem expedições coletivas de caça e coleta, principalmente durante a fase de maturação das novas roças.

4 a 6 meses

é quanto os Yanomami podem passar acampados em abrigos provisórios para atividades em locais afastados da casa ou da aldeia, segundo o Instituto Socioambiental

“Os Yanomami manejam mais de 160 espécies vegetais silvestres comestíveis, conhecem minuciosamente o comportamento de mais de 80 animais de caça, pescam cerca de 50 tipos de peixes, coletam 30 variedades diferentes de mel silvestre, 11 espécies de cogumelos, dezenas de invertebrados e cultivam mais de uma centena de alimentos, com destaque para a banana, a mandioca, a batata-doce, a taioba, o cará, a cana e o milho”, escreveram o líder indígena Davi Kopenawa e o pesquisador do Instituto Socioambiental Estêvão Senra em artigo publicado em 8 de fevereiro no jornal Folha de S.Paulo.

FOTO: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS

Casas indígenas agrupadas em um círculo. Ao redor, há uma densa floresta verde.

Comunidade yanomami

Como é comum entre caçadores-coletores e agricultores, os Yanomami gastam em média menos de quatro horas de trabalho diárias para satisfazer suas necessidades materiais, enquanto o restante do tempo é dedicado a atividades sociais e de lazer.

Entre as cerimônias típicas do grupo, está a de colheita do fruto da pupunheira e o chamado reahu (festa de funeral), que celebra a morte de um indivíduo. Segundo disse a antropóloga Alcida Rita Ramos numa entrevista à Agência Pública em 2022, embora haja pequenas variações regionais, esses rituais são marcados pela cremação do cadáver e por um grande evento:

“Congregando várias comunidades vizinhas e até mesmo distantes, anfitriões e convidados desempenham as diversas fases da cerimônia que dura mais de uma semana, incluindo cantos, danças, sessões xamanísticas e o que chamamos de diálogos cerimoniais. No último dia, o mais solene, os ossos do morto são pulverizados, adicionados a mingau de banana e ingeridos pelos parentes mais próximos”

Alcida Rita Ramos

antropóloga e professora emérita da UnB (Universidade de Brasília), em entrevista à Agência Pública em 2022

O papel dos xamãs para o grupo

Grande parte da vida yanomami está ligada aos xamãs. Líderes espirituais das comunidades, eles fazem a conexão entre o que os indígenas chamam de mundo visível e mundo invisível, protegendo seus parentes de doenças e de outros males com auxílio dos xapiri, as entidades (espíritos) yanomami.

Esse trabalho também envolve rituais. Para ver e chamar os xapiri, os xamãs precisam inalar um pó alucinógeno chamado yãkoana, feito de resina ou fragmentos secos e pulverizados da casca interior de uma árvore. A inalação é feita por meio de um tubo de palmeira: numa das pontas, um xamã sopra o pó; na outra, outro o inala.

FOTO: PABLO LEVINAS/SURVIVAL BRASIL

Homem de camisa social com cocar na cabeça

Davi Kopenawa Yanomami, escritor, ativista e xamã Yanomami

Davi Kopenawa, xamã e principal líder político dos Yanomami no Brasil, falou sobre o xamanismo em “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”, livro que escreveu em coautoria com o antropólogo francês Bruce Albert. O primeiro xamã foi o filho de Omama, demiurgo (criador) que, segundo a mitologia yanomami, deu origem ao povo indígena:

“[Omama] disse a ele [seu filho] estas palavras: ‘Com estes espíritos, você protegerá os humanos e seus filhos, por mais numerosos que sejam. Não deixe que os seres maléficos e as onças venham devorá-los. Impeça as cobras e escorpiões de picá-los. Afaste deles as fumaças de epidemia xawara. Proteja também a floresta. Não deixe que se transforme em caos. Impeça as águas dos rios de afundá-la e a chuva de inundá-la sem trégua. Afaste o tempo encoberto e a escuridão. Segure o céu, para que não desabe’”

Davi Kopenawa

xamã e líder yanomami, no livro “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”, escrito em coautoria com Bruce Albert

Kopenawa conta que Omama criou a terra, a floresta, o vento e os rios. Mais tarde, ele criou os xapiri para que a humanidade pudesse se vingar das doenças e se proteger da morte, inventada pouco antes por seu irmão mau, Yoasi. Segundo os xamãs, os xapiri estão em todos os lugares, vistos sob a forma de miniaturas humanoides, vestindo ornamentos brilhantes.

A visão sobre a terra e a floresta

Apesar de estar na base da economia yanomami, a floresta não é para eles um espaço de exploração de recursos, mas uma entidade viva, que está intimamente ligada à sua cosmologia. Kopenawa conta em “A queda do céu” que os espíritos xapiri, por exemplo, colhem seus cantos a partir de árvores:

“Omama plantou essas árvores de cantos nos confins da floresta, onde a terra termina, onde estão fincados os pés do céu […]. É a partir de lá que elas distribuem sem trégua suas melodias a todos os xapiri que correm até elas. São árvores muito grandes, cobertas de penugem brilhante de uma brancura ofuscante. Seus troncos são cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros”

Davi Kopenawa

xamã e líder yanomami, no livro “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”, escrito em coautoria com Bruce Albert

Essa floresta é chamada de Hutukara. Segundo a mitologia yanomami, Omama a criou no “primeiro tempo”, quando havia apenas os yarori (ancestrais sobrenaturais que hoje são os animais de caça) e uma floresta frágil. Para criar outra mais sólida, Omama derrubou o céu sobre a antiga área e a partir dele ergueu a nova terra, onde também pôs as árvores, as montanhas, os rios e os animais.

“Os Yanomami não existem à toa. Não caíram do céu. Foi Omama que os criou para viver na floresta”, escreve Kopenawa no livro escrito com Bruce Albert. “O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria”, diz em outra passagem do texto.

FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS – 1º.JUL.2020

Jovens e crianças indígenas interagem em uma área verde. Um deles olha para a câmera.

Indígenas yanomami, em Roraima

Segundo a narrativa, quando criou a floresta, Omama escondeu os minérios sob o chão. Para os Yanomami, eles são as lascas do céu que caiu no primeiro tempo. “São coisas maléficas e perigosas, impregnadas de tosses e febres, que só Omama conhecia”, escreve Kopenawa.

Além de guardar as epidemias (que os Yanomami chamam de xawara), os metais servem para fincar os pés do céu no solo, evitando que ele saia do lugar. Sem as estacas, a terra teria ficado arenosa e quebradiça, e o céu teria desabado, assim como no princípio.

Esse fenômeno esmagaria os Yanomami se acontecesse, segundo Kopenawa. “Quando, às vezes, o peito do céu emite ruídos ameaçadores [como trovões], mulheres e crianças gemem e choram de medo”, conta em “A queda do céu”. Para sustentá-lo, as comunidades recorrem aos xamãs.

A visão sobre a chegada do garimpo

Essa visão de mundo explica em grande parte a resistência dos Yanomami ao avanço do garimpo em seu território, que é ilegal. Kopenawa diz que a extração de recursos promovida pelos brancos (que os indígenas chama de napë, termo originalmente usado para “inimigo”) pode destruir a floresta:

“Os brancos não entendem que, ao arrancar minérios da terra, eles espalham um veneno que invade o mundo e que, desse modo, ele acabará morrendo”

Davi Kopenawa

xamã e líder yanomami, em entrevista para a BBC Wildlife em 1990

Depois de séculos isolados ou convivendo apenas com outros grupos indígenas, os Yanomami tiveram os primeiros contatos com a sociedade nacional (não indígena) a partir de 1910, quando o Serviço de Proteção ao Índio, órgão do governo federal anterior à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), se instalou na região.

Outros grupos ocuparam a área a partir desse contato. Junto com os funcionários públicos, adentraram o território missionários, viajantes e caçadores. Mais tarde, a ditadura militar (1964-1985) foi à região para construção de obras. O garimpo chegou depois, entre os anos 1970 e 1980.

FOTO: AMANDA PEROBELLI/REUTERS – 07.FEV.2022

Pessoa abre a mão para a câmera. Na palma da mão, há pequenas lascas de ouro. Não se vê o rosto da pessoa.

Garimpeiro manuseia ouro após, segundo ele, deixar terra indígena Yanomami, em Alto Alegre (RR)

Essa ocupação, como se cumprisse a previsão narrada pelos Yanomami, provocou um choque epidemiológico na terra indígena, acometida por epidemias como de gripe e malária. O garimpo também contaminou rios e peixes com mercúrio, o que provocou insegurança alimentar e mortes por desnutrição e intoxicação, num cenário parecido com o atual.

20%

da população Yanomami morreu entre 1987 e 1993 em decorrência do garimpo ilegal, segundo estimativa da organização Survival

Com a demarcação da terra indígena em 1992, o governo federal expulsou os cerca de 40 mil garimpeiros que ocupavam a região no fim do século 20. O grupo, no entanto, voltou a ocupar a região com intensidade a partir de 2016, incentivado pela diminuição da proteção de terras indígenas e pelo apoio de governos como o de Jair Bolsonaro à mineração.

FOTO: FERNANDO FRAZÃO /AGÊNCIA BRASIL 02.02.2023

Imagem aérea mostra rios contaminados com coloração laranja cercado por mata fechada verde

Rios contaminados pelo garimpo ilegal na região do Surucucu, na terra Yanomami

Kopenawa e outros líderes yanomami ganharam projeção internacional ao decidir denunciar essas invasões. Para eles, é preciso falar com os brancos sobre os Yanomami, para que entendam a importância da floresta para os indígenas e para eles próprios, próprios, já que a destruição ambiental também os afeta.

Em vídeo publicado em parceria com o Instituto Socioambiental em 2020, no contexto da pandemia de covid-19, xamãs yanomami relacionaram o desmatamento e o garimpo com a emergência de novas doenças e com a mudança climática , que não afeta só as terras indígenas.

Kopenawa retornou na época ao tema da queda do céu. Segundo ele, até hoje os xamãs têm mantido o equilíbrio ecológico, mas, sozinhos, eles não vão conseguir impedir a destruição das florestas. Governos, grandes corporações e o “homem da mercadoria” (como os Yanomami chamam os brancos) precisam fazer o mesmo.

O lugar dos sonhos para os Yanomami

Pesquisadores têm se debruçado sobre o lugar dos sonhos para os Yanomami. Segundo o livro “O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos Yanomami”, escrito pela antropóloga Hanna Limulja, os indígenas concebem os sonhos como experiências reais, diferentemente, por exemplo, da psicanálise, que os vê como representação do desejo individual.

FOTO: REUTERS – 22.MAR.1998

Mulher indígena de cabelos muito curtos e acessórios nas orelhas e abaixo da boca está de frente para a câmera, séria. Ela olha para a esquerda.

Mulher yanomami em comunidade na região do Demini, em Roraima

Próxima dos Yanomami desde 2008, Limulja conta no livro que, para eles, os sonhos são um instrumento de conhecimento do mundo. “Os Yanomami sabem que o que vivenciam em sonhos é diferente do que o que experimentam em estado de vigília. No entanto, aquilo que experimentam sonhando é considerado tão importante quanto as experiências da vida desperta”, diz.

“Da mesma forma que o mundo é dotado de elementos que não alcançamos a olho nu como, por exemplo, esqueletos de insetos ou estruturas microscópicas de uma folha, os Yanomami entendem que os sonhos permitem ver mundos invisíveis”

Hanna Limulja

antropóloga e autora de “O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos Yanomami”, em texto do livro

Davi Kopenawa descreve alguns de seus sonhos em “A queda do céu”. Segundo ele, quando era criança, viu espíritos pela primeira vez enquanto dormia: “Primeiro, eu via a claridade cintilante dos xapiri se aproximando, depois eles me pegavam e me levavam para o peito do céu”, conta.

“Não era à toa que eu sonhava que voava com tanta frequência. Os xapiri não paravam de carregar minha imagem para as alturas do céu com eles. É o que acontece quando eles observam com afeto uma criança adormecida para que se torne um xamã. Dizem a si mesmos: ‘Mais tarde, quando ela crescer, dançaremos ao seu lado!’; e continuam prestando atenção”

Davi Kopenawa

xamã e líder yanomami, no livro “A queda do céu: palavras de um xamã yanomami”, escrito em coautoria com Bruce Albert

Segundo Limulja, quando um yanomami sonha, embora seu corpo esteja repousado, o pei utupë (sua imagem vital) se desprende e viaja para outros lugares, onde ele pode encontrar parentes próximos, distantes e mortos. Para o grupo, os sonhos estão ligados aos outros, e não ao próprio ego.

1

Foi apresentado como opção para o prêmio Nobel da Paz em 2020.

Resposta:

raoniO cacique Raoni Metuktire O cacique Raoni Metuktire O cacique Raoni Metuktire

A data de nascimento de Raoni Metuktire é incerta: em 1930, 1940 ou 1942, nascia de pai do povo Metuktire, da etnia Kayapó, em uma vila hoje chamada Kapot, no estado do Mato Grosso. Advogou a favor da criação de terras indígenas no Brasil, como o Parque Nacional do Xingu, estabelecido em 1961, e contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, inaugurada em 2019, no Pará. Para isso, contou com o apoio de diversas personalidades internacionais, como músicos e cineastas. Junto ao cantor britânico Sting, por exemplo, de quem é amigo desde 1987, participou de encontros, palestras e entrevistas em 17 países onde difundia suas pautas ambientais. Já com o diretor belga Jean-Pierre Dutilleux foi selecionado ao Festival de Cannes e indicado ao Oscar de melhor documentário pelo filme “Raoni”, que mostrou a luta de indígenas kayapó pela preservação das terras e costumes.

Durante suas turnês, encontrou-se com líderes como o rei da Bélgica Leopoldo 3º, os presidentes francês François Mitterrand e brasileiro Juscelino Kubitschek, e os papas João Paulo 2º e Francisco. Em setembro de 2019, foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, por quem foi chamado de “peça de manobra” de governos estrangeiros com interesses econômicos na Amazônia. No mesmo mês, Raoni teria sua
candidatura proposta ao Nobel da Paz de 2020.

2

Em 1987, participou da Assembleia Constituinte, protestando pelos direitos dos povos indígenas ao pintar o rosto de preto.

Resposta:

ailtonkrenakO escritor Ailton KrenakO escritor Ailton Krenak

Ambientalista e escritor,
Ailton Krenak é uma das principais lideranças indígenas do país. Ele nasceu em 1953 no estado de Minas Gerais, na região do médio rio Doce, onde fica o território da etnia Krenak (o grupo se estende do Nordeste até o leste de Minas). Militante desde a juventude, tornou-se conhecido quando, em 1987, fez um pronunciamento na Assembleia Constituinte, em Brasília, protestando pelos direitos dos povos indígenas e
pintando o rosto com tinta preta de jenipapo. Após o episódio, Krenak continuou a se manifestar em defesa dos direitos indígenas, dialogando com movimentos sociais e o poder público. Por sua liderança, recebeu o título de Professor Doutor Honoris Causa em 2016 pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), em Minas. Em 2019, publicou o livro “
Ideias para adiar o fim do mundo”, que defende os saberes indígenas e a diversidade como antídoto para a
crise do clima que tem posto sociedades e o meio ambiente à prova.

3

Foi o primeiro indígena eleito a um cargo político no Brasil.

Resposta:

Mário JurunaMário Juruna, primeiro indígena eleito a um cargo político no BrasilMário Juruna, primeiro indígena eleito a um cargo político no BrasilHomem com terno e óculos ergue a mão enquanto fala em púlpito

Eleito em 1982 pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista),
Mário Juruna nasceu em 1943, na aldeia Namunjurá, no hoje município de Araguainha, no Mato Grosso. Adulto, quando o grupo foi acolhido pela Missão Salesiana de São Marcos, em Barra do Garças, também em Mato Grosso, foi cacique da aldeia. Antes de ser eleito, ficou conhecido por carregar um gravador no qual
registrava as promessas de políticos de alto escalão. Como deputado federal,
protagonizou episódios célebres como quando pediu a demissão de todo o ministério do governo do general João Figueiredo
em discurso no Dia do Índio; acusou o empresário Calim Eid, coordenador da campanha presidencial de Paulo Maluf, de tentar suborná-lo para que votasse no candidato; e presidiu a Comissão do Índio, responsável por modificar a composição da diretoria da Funai (Fundação Nacional do Índio), garantindo a formação de um conselho diretor que fiscalizasse a atuação da entidade nas áreas indígenas, a qual ele criticava por ser administrada por militares, e não índios. Não se reelegeu em candidaturas posteriores, mas atuou como assessor da Funai até 1994. Oito anos depois, viria falecer deixando 14 filhos de três esposas.

4

Foi a primeira mulher indígena a se candidatar a vice-presidente.

Resposta:

Sônia GuajajaraSônia Guajajara, primeira mulher indígena a se candidatar a vice-presidenteSônia Guajajara, primeira mulher indígena a se candidatar a vice-presidenteMulher com pinturas no corpo veste azul. Ao fundo, diversas pessoas com celulares batem palmas. Uma moça de cocar aparece em destaque atrás também

Uma das vozes mais ativas do movimento indígena no país,
Sônia Guajajara nasceu em 1974 no seio do povo Guajajara/Tentehar, que habita a Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Militante desde jovem, participa de movimentos pelo meio ambiente e pelos direitos dos povos indígenas, além de ser integrante do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). A ativista ganhou projeção no Brasil ao participar, nos últimos anos, de articulações contra projetos que restringiam os direitos indígenas e atacavam o meio ambiente no Congresso Nacional. Por seu trabalho, também ficou conhecida no exterior, participando de eventos como as
COPs (Conferências do Clima), onde comparece desde 2010. Em 2018, fez parte da chapa do PSOL para candidatura à Presidência, ao lado de Guilherme Boulos, militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Ambos receberam
0,58% dos votos válidos no primeiro turno. Ainda por seu ativismo, Guajajara recebeu o Prêmio Ordem do Mérito Cultural, concedido em 2015 pelo governo federal.

5

Foi a mulher que encostou um facão na bochecha de um representante do Estado, durante protesto contra o projeto da usina de Belo Monte, em 1989. A imagem do momento rodou o mundo.

Resposta:

tuiraA indígena Tuíra Kayapó coloca facão sobre o rosto do presidente da EletronorteA indígena Tuíra Kayapó coloca facão sobre o rosto do presidente da Eletronorte

A indígena
Tuíra Kaiapó nasceu em uma família do povo Kayapó, que vive entre o sul do Pará e o norte do Mato Grosso, em meio aos afluentes do rio Xingu. Ela ficou conhecida quando, em 1989, no 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), colocou uma lâmina de seu facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, que chefiava o projeto da construção da antiga usina de Kararaô — hoje, usina de Belo Monte, já concluída. Momentos antes do gesto que repercutiu no mundo, Tuíra contrapunha-se à construção da obra no Xingu. A ativista diz que desde a infância
foi incentivada pelos avós e os pais a se tornar guerreira, defendendo o território onde vivia. Ao lado de outros fatores, a ação da indígena naquele dia ajudou a levar o governo a adiar a construção da usina, que tinha tanta rejeição que só foi iniciada décadas depois, em 2011. Anciã, hoje Tuíra ainda protesta pelos direitos indígenas, como o fez em 2019 no chamado
Acampamento Terra Livre, em Brasília.

6

Ex-vereador, é um dos principais líderes de uma etnia que está no centro de conflitos violentos por terra no Mato Grosso do Sul.

Resposta:

Otoniel Guarani KaiowáOtoniel Guarani Kaiowá, uma das principais lideranças da etnia Guarani-KaiowáOtoniel Guarani Kaiowá, uma das principais lideranças da etnia Guarani-KaiowáHomem com cocar na cabeça é entrevistado. Vários microfones e mãos se posicionam para ouvi-lo

O ativista
Otoniel Ricardo é uma das principais lideranças da etnia Guarani-Kaiowá, que habita o estado do Mato Grosso do Sul. Ao lado de outros povos, os Guarani-Kaiowá vivem em terras que reivindicam para si, mas que não foram demarcadas — motivo pelo qual há anos a região onde vivem é alvo de disputa com produtores rurais. Ataques são constantes em regiões como a de Caarapó e Dourados, e indígenas têm sido vítimas de
assassinatos, sequestros, tortura e outros crimes atribuídos a invasores. Integrante da Aty Guasu, assembleia de lideranças dos Guarani-Kaiowá, Otoniel conduziu diversos protestos que tentam chamar a atenção do Estado para a violência em suas terras. “Nós estamos sendo atacados, estão nos matando, e cadê a Justiça?”, provocou ele durante o chamado de Ocupa Funai, ato nacional de 2016, quando indígenas ocuparam mais de 20 sedes do órgão nos estados. Otoniel foi também vereador em Caarapó pelo PT entre 2009 e 2012.

7

Foi a primeira mulher indígena eleita para o Congresso Nacional.

Resposta:

Joênia WapichanaJoênia Wapichana é primeira mulher indígena eleita para o Congresso NacionalJoênia Wapichana é primeira mulher indígena eleita para o Congresso NacionalMulher com colar colorido olha para o lado da câmera. Ao fundo, bandeiras de vários países

A deputada federal
Joênia Wapichana foi eleita ao cargo pela Rede Sustentabilidade em 2018, tornando-se a primeira mulher indígena a ocupar uma das cadeiras do Congresso. Ela nasceu em 1974 na comunidade indígena Truaru da Cabeceira, onde vive a etnia Wapichana, em Roraima, e passou a juventude em Boa Vista. Antes de se tornar deputada, Wapichana foi considerada a primeira mulher indígena a formar-se em direito no Brasil, quando obteve o diploma em 1997 pela UFRR (Universidade Federal de Roraima). Ela pensava, na época, em trabalhar para defender os direitos dos povos indígenas no Brasil. Conseguiu: em 2008, tornou-se,
mais uma vez, a primeira advogada indígena a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal em um julgamento histórico, que definiu os limites da reserva indígena
Raposa Serra do Sol, em Roraima. Como deputada, Wapichana diz defender pautas como direitos indígenas, desenvolvimento sustentável, transparência e combate à corrupção.

8

É conhecido como o Dalai Lama da Floresta.

Resposta:

Davi Kopenawa YanomamiDavi Kopenawa Yanomami, escritor, ativista e xamã YanomamiDavi Kopenawa Yanomami, escritor, ativista e xamã YanomamiHomem de camisa social com cocar na cabeça

Escritor, ativista e xamã,
Davi Kopenawa Yanomami nasceu por volta de 1955 na região da Serra do Demini, na fronteira do Amazonas e Roraima com a Venezuela. Uma região habitada pela etnia Yanomami por onde só se chega de Boa Vista depois de duas horas de voo de monomotor ou dez dias de barco. Depois de anos de luta, em 1992 veio o reconhecimento do território na Amazônia com uma área maior que Portugal. Segundo, a organização Survival International, é também a maior área indígena coberta por floresta do mundo. Sua militância já soma mais de 30 anos, e veio depois de episódios violentos de invasão garimpeira, que reduziu a população Yanomami substancialmente entre 1950 e 1980. Coleciona uma série de prêmios internacionais,
como o Global 500 Award das Nações Unidas e em 1989, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que promove pessoas e projetos que tenham como objetivo preservar a natureza da destruição humana. O ativista Chico Mendes já recebeu esse prêmio. Em 2019, recebeu o Right Livelihood Award,
conhecido como “Nobel Alternativo”, que também celebrou outras três personalidades, como a ativista sueca Greta Thunberg.

9


Foi um dos principais defensores do reconhecimento da Terra Indígena de Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Resposta:

Jacir de Souza Macuxi nasceu em 1947, na Terra Indígena de Raposa Serra do Sol, formalizada em 2005 em Roraima. Foi um dos principais defensores para o reconhecimento formal da região. Com 30 anos foi escolhido tuxaua, uma espécie de líder de sua comunidade, e
convenceu os demais tuxauas da região das Serras a criarem conselheiros indígenas para combater o avanço do garimpo e o impacto negativo que exerciam por meio do alcoolismo, prostituição, violência e drogas. Com o sucesso da ideia, o resto do Estado passou a criar seus próprios conselheiros, embrião para o surgimento do Conselho Indígena de Roraima. Em 2009, recebeu o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente pela luta que desempenhou de mais de 30 anos pela Terra Indígena.

10

Homenageada com o Prêmio Equador da ONU, é líder de uma etnia na Amazônia cuja história é marcada pelos antigos caçadores de cabeças, representantes de um povo voltado à guerra.

Resposta:

Maria Leusa MundurukuMaria Leusa Munduruku, homenageada com o Prêmio Equador da ONUMaria Leusa Munduruku, homenageada com o Prêmio Equador da ONUMulher segura filho. Ambos estão com pinturas corporais. Ao fundo, perto do rio, barco está ancorado

A liderança
Maria Leusa Munduruku, nascida em uma família do povo Munduruku, que habita terras no Amazonas, no Pará e no Mato Grosso, recebeu o chamado Prêmio Equador, concedido pela ONU para quem combate a mudança climática, na COP (Conferência do Clima) de Paris, em 2015. A razão era seu ativismo, ao lado de seu povo, contra a instalação de hidrelétricas que poderiam alagar suas terras às margens do rio Tapajós, na Amazônia. Na época, um projeto do governo federal planejava construir sete obras do tipo na região. A maior delas, a usina de São Luiz do Tapajós, teria potência máxima de 8.040 megawatts, podendo alagar mais de 70 mil hectares de floresta. Após mobilizações, o projeto foi arquivado em 2016. Antes da colonização, os Munduruku tinham fama de guerreiros, notadamente por sua prática de caçar cabeças humanas, que simbolizavam poder, segundo seus representantes. Agora, o povo luta suas guerras não mais por meio da força, mas da
estratégia política. A principal ameaça, segundo eles, são governos que buscam restringir seu direito à terra.

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