Expresso

Como a energia solar pode ampliar o acesso elétrico na Amazônia

Mariana Vick

04 de maio de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h23)

Quase 1 milhão de pessoas não têm acesso à eletricidade em áreas remotas da região. Estudo avalia potencial e desafios de levar sistemas fotovoltaicos para comunidades 

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FOTO: BRUNO KELLY/REUTERS – 22.SET.2015

Homem que usa chapéu e blusa azul de manga comprida ajoelha-se sobre um painel solar e o limpa com um pano. Ao fundo, há um rio e uma área de floresta.

Homem limpa painel solar na reserva Vila Nova do Amanã, no Amazonas

Estudo do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), organização da sociedade civil que produz pesquisas sobre o tema, publicado nesta quinta-feira (4), avalia o potencial e os desafios de levar energia solar para quem ainda não tem acesso à eletricidade na região da Amazônia Legal.

Partindo de dados sobre o consumo local de energia e estimativas sobre a implementação de sistemas fotovoltaicos na região, a pesquisa busca apresentar soluções para uma aparente contradição da Amazônia: por um lado, a região exporta a maior parte da eletricidade do Brasil por meio de usinas hidrelétricas; por outro, parte de sua população é desconectada do sistema público de energia.

Neste texto, o Nexo explica o que é a energia solar, mostra os dados sobre a falta de acesso à eletricidade na Amazônia Legal e explica qual pode ser o papel da energia solar para suprir essa necessidade, com base nas informações do estudo. Mostra também as políticas do governo federal sobre o tema e os desafios para implementar esse tipo de energia.

O que é a energia solar

A energia solar é a energia elétrica ou térmica gerada por meio da utilização do sol. Sua produção pode se dar por meio de painéis fotovoltaicos, que usam a luz do sol para gerar eletricidade, e por meio de aquecedores solares, feitos de placas capazes de absorver a radiação solar e gerar calor.

A geração de energia solar é relativamente recente no Brasil e ganhou impulso a partir da década de 2010. É possível gerá-la de duas formas :

  • de forma centralizada , por meio de grandes usinas solares com alta capacidade de produção, e
  • de forma distribuída , por meio de pequenas unidades de produção, como casas com painéis fotovoltaicos no telhado

A energia solar é renovável (pois utiliza um recurso inesgotável, o sol) e limpa (pois não emite gases de efeito estufa). É também considerada uma alternativa para a descarbonização da matriz energética no contexto da mudança climática , causada pelas emissões de gases poluentes que vêm de outras fontes de energia, como o petróleo, o gás e o carvão.

O que marca a exclusão elétrica na Amazônia

Estimativas do Iema mostram que mais de 990 mil pessoas que vivem na Amazônia Legal não têm acesso à energia elétrica. O número equivale a 3,5% da população dos nove estados da região (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso).

Essas pessoas se concentram em comunidades remotas, localizadas em áreas distantes das sedes das cidades e das redes de distribuição de energia, como terras indígenas , unidades de conservação (onde costumam viver comunidades ribeirinhas) e assentamentos rurais.

Mapa mostra áreas dos estados da Amazônia Legal onde não há acesso à energia elétrica.

A baixa densidade populacional das comunidades remotas, além de restrições geográficas e ambientais do interior da Amazônia, impedem a extensão das redes de distribuição de eletricidade para essas áreas, o que faz a falta de acesso persistir até hoje, segundo o instituto.

A população dessas comunidades não é a mesma que é atendida pelos chamados sistemas isolados de energia elétrica dos estados da Amazônia Legal. Embora as áreas atendidas pelos sistemas isolados também tenham dificuldade de acessar a energia elétrica consumida no resto do Brasil, elas ao menos têm acesso a algum tipo de energia.

Quais são as diferenças

Sistema Integrado Nacional

É o conjunto de instalações e equipamentos que possibilitam a conexão elétrica entre as regiões do Brasil. Essa conexão permite, por exemplo, que a energia produzida em usinas hidrelétricas da Amazônia seja consumida no Sudeste. A extensão dessa rede de transmissão é de cerca de 142 mil km.

Sistemas isolados

Áreas urbanas e rurais que têm dificuldade de conexão com o Sistema Integrado Nacional podem contar com os chamados sistemas isolados . Esses sistemas se concentram no Norte do Brasil e são supridos, em geral, por usinas termelétricas a diesel. Cerca de 3 milhões de habitantes da Amazônia Legal são atendidos por essas usinas.

Sem acesso à energia

Depois disso, estão as pessoas que vivem sem acesso nenhum à energia elétrica. É o caso de quase 1 milhão de pessoas que vivem na Amazônia Legal e não são atendidas nem pelos sistemas isolados. Para driblar esse cenário, parte dessas pessoas compra geradores a diesel individuais, além de usar velas e lamparinas .

Como a energia solar pode resolver o problema

A energia solar é uma tecnologia considerada adequada para as regiões remotas da Amazônia Legal porque pode ser gerada a nível local, não emite poluentes e ruídos durante sua produção e exige pouca manutenção ao longo da operação.

A geração de energia por meio de sistemas fotovoltaicos off-grid (ou seja, autônomos), aliados ao uso de baterias para armazenar energia em períodos noturnos ou com ausência de luz solar, por exemplo, elimina a dependência das comunidades da Amazônia da rede elétrica pública e de combustíveis poluentes, como o diesel.

A implementação desse tipo de modelo é uma das principais apostas de projetos recentes de organizações da sociedade civil e do governo federal na área de energia. Criado em 2020, p programa Mais Luz para a Amazônia, que busca universalizar o acesso à eletricidade em comunidades remotas, instalou mais de 8.000 unidades na região.

8.828

unidades de sistemas fotovoltaicos aliados a baterias foram instaladas na Amazônia até novembro de 2022, beneficiando 35 mil pessoas, segundo dados do Ministério de Minas e Energia

Reportagem do portal Mongabay sobre comunidades contempladas pelo programa mostra que sua implementação tem tido efeitos positivos . Além de ter melhorado a qualidade de vida, a saúde, a alimentação e a educação das populações da Amazônia, a instalação dos painéis solares se tornou uma fonte de renda e emprego.

O que falta para a universalização

Estudo do Iema publicado nesta quinta (4) mostra que, para atender à meta de universalizar o acesso à energia elétrica em comunidades remotas da Amazônia até 2030, o governo federal vai precisar instalar de 3 milhões a 12 milhões de equipamentos na região.

A pesquisa considera dois cenários: um em que os sistemas usam baterias de chumbo-ácido, que são mais comuns e baratas, mas menos eficientes e duráveis (por isso, precisam ser substituídas mais vezes), e outro em que usam baterias de íon-lítio, que são mais eficientes e duráveis, mas podem causar impactos ambientais negativos no momento do descarte.

3 milhões

é a quantidade prevista de equipamentos instalados no caso do uso de baterias de íon-lítio para gerar 180 kWh/mês de energia elétrica

12 milhões

é a quantidade prevista de equipamentos instalados no caso do uso de baterias de chumbo-aço para gerar 45 kWh/mês de energia elétrica

A instalação desses equipamentos e sua reposição ao longo do tempo tem desafios. Entre eles, está o fornecimento de componentes e serviços para a Amazônia, dadas as grandes distâncias entre os centros de serviços e as comunidades remotas e dificuldades logísticas.

Outro desafio citado pelo estudo é a prevenção de riscos ambientais ligados ao descarte de baterias e outros itens dos sistemas fotovoltaicos. Esse é um assunto que não tem sido debatido no planejamento dos projetos de energia solar na Amazônia, segundo a pesquisa.

Estima-se que podem ser produzidas entre 71 mil e 237 mil toneladas de resíduos no fim da vida útil dos sistemas fotovoltaicos, que pode ser de no máximo 25 anos. O sistema com bateria de chumbo-ácido gera cerca de 7.000 toneladas ao ano, quase o dobro dos resíduos eletrônicos coletados no Brasil em 2021. Já o sistema com bateria de íon-lítio corresponde a 54% disso.

Colaborou Mariana Froner com o mapa

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