Por que o fósforo é determinante para a vida extraterrestre
Valentina Candido
20 de junho de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h26)Descoberta do elemento em oceano de lua de Saturno renova busca por organismos vivos no local. Satélite é considerado o mais propício para isso no Sistema Solar
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Núvens de gelo no espaço do oceano interno de Encélado, onde foi obtido o material com altas concentrações de fósforo
Cientistas alemães e japoneses identificaram a presença do elemento químico fósforo na forma de moléculas de fosfato em Encélado, uma lua do planeta Saturno. A descoberta foi publicada em um artigo da revista Nature no dia 14 de junho.
Encélado é a sexta maior lua de Saturno e abriga um oceano de água líquida sob uma superfície congelada. O novo estudo torna o astro o único lugar fora da Terra conhecido por conter todos os seis elementos necessários para a vida, e revive a possibilidade de haver desenvolvimento de organismos vivos no local.
Neste texto, o Nexo explica os estudos sobre Encélado e por que o fósforo é um elemento determinante para os indícios de vida extraterrestre.
Por causa da existência de água e da descoberta de outros elementos químicos importantes no seu ambiente, Encélado era vista como um dos locais mais propícios dentro do Sistema Solar para a busca de vida fora da Terra. Um estudo publicado em 2018, no entanto, havia freado essa teoria.
Nele, cientistas estimaram que o oceano de Encélado, assim como outros oceanos de satélites usados na busca por vida extraterrestre, tinha quantidades muito baixas de fósforo quando comparado com os oceanos da Terra, sobretudo na forma de fosfato — forma orgânica a partir da qual os organismos conseguem absorver o elemento.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisa havia identificado as possíveis fontes de fósforo em oceanos extraterrestres e calculado a concentração total do elemento nesses ambientes. Esse cálculo se baseava na hipótese de que as características do oceano deEncélado alterava a solubilidade do fósforo, o que reduzia as chance de ele ser encontrado.
Com esses resultados, os pesquisadores haviam sugerido que a probabilidade de haver vida em partes do Sistema Solar e da galáxia também era pequena, uma vez que a falta do elemento limita o desenvolvimento de organismos.
Agora, outros pesquisadores conseguiram entrar em contato com uma poeira cósmica que tem origem emEncélado. Ao analisar o material, eles revelaram que o cálculo publicado em 2018 estava errado – ao contrário do que havia sido quantificado, o oceano é rico em fósforo.
O fósforo é um elemento químico que faz parte de estruturas encontradas em diversos seres vivos. Ele está, por exemplo, na constituição dos ácidos nucleicos, estruturas que compõem o DNA e o RNA.
Ele não é o único elemento químico importante para a vida. Carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre também são base para a construção das moléculas comuns aos organismos vivos. Por isso, esses seis elementos são chamados de bioessenciais.
Alguns elementos bioessenciais são muito mais raros de serem encontrados fora da Terra. Enquanto hidrogênio, carbono e oxigênio são comuns em outros planetas, o fósforo é o menos abundante dos bioessenciais.Por isso, é considerado um nutriente limitante : a falta dele normalmente determina que não é possível surgir organismos vivos no local.
A descoberta em Encélado marca a primeira vez que o fósforo é encontrado num oceano em outro planeta. Ao mesmo tempo, todos os outros cinco elementos bioessenciais já haviam sido identificados na lua de Saturno.
Para analisar a formação do oceano de Encélado, os pesquisadores analisaram a composição das nuvens que são expelidas para o espaço pelos vulcões de gelo que ficam na superfície da lua de Saturno. Essas nuvens, que vira uma espécie de poeira cósmica, são formadas pelas águas do oceano que está sob o gelo.
O material analisado indicou que as águas não só tem fósforo disponível na forma de fosfatos de sódio, mas as concentrações do elemento são pelo menos 100 vezes maiores que nos oceanos da Terra.
No artigo publicado em 2023, os cientistas ainda não conseguem explicar concentrações tão altas de fosfato, mas eles sugerem que isso pode estar associado à formação sódica do oceano. Nessa perspectiva, outros lugares dentro do Sistema Solar que têm essa composição também podem ser ricos em fósforo e, portanto, propensos para a vida.
Na história da Terra, por exemplo, há evidências de que o aumento da diversidade biológica do planeta está relacionado com a maior disponibilidade de fósforo na natureza.
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