Por que árvores da Mata Atlântica estão mudando de lugar
Pedro Bardini
09 de agosto de 2024(atualizado 09/08/2024 às 21h02)Cientistas analisaram árvores de regiões montanhosas e planas do bioma em Santa Catarina. Resultado evidencia a crise climática
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Árvores da região de montanha da Mata Atlântica catarinense
Um estudo publicado em julho na revista científica Journal of Vegetation Science analisou a movimentação de árvores da Mata Atlântica de Santa Catarina. Nove cientistas colaboraram com a produção do artigo, que comparou e analisou mais de 600 espécies num período de dez anos.
42%
foi a quantidade de árvores que mudou de lugar, segundo o estudo
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores cruzaram informações da localização das espécies e da temperatura ideal versus a temperatura real do local. Depois, eles avaliaram as mudanças ocorridas entre 2008 e 2018. Árvores foram analisadas numa área de dois a 1.160 metros de elevação, abrangendo 96 áreas de florestas de transição da planície à montanha da Mata Atlântica.
Os cientistas não observaram migração na maioria dos casos. Das espécies que se moveram, 27% apresentou migração ascendente e 15% descendente.
O estudo ainda identificou um aumento de 0,25ºC por década nos últimos 50 anos na região da floresta. Ou seja, um aumento total de 1,25°C.
Em áreas específicas de planície, identificou-se uma diminuição de 0,36 °C, enquanto que as montanhosas apresentaram um aumento de 0,34 °C.
O estudo explica que as árvores das florestas montanhosas – geralmente adaptadas a temperaturas mais frias – se moveram para cima a fim de evitar as altas temperaturas que estão atingindo as montanhas. Quanto maior a altitude, mais fria a temperatura. Entretanto, com o aumento da temperatura, mesmo áreas de altitude mais elevadas estão esquentando.
“Isso pode significar que espécies que precisam de temperaturas mais frias estão em risco de extinção à medida que o mundo continua a aquecer”, disse Rodrigo Bergamin, principal autor do estudo, em comunicado divulgado pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
Bergamin também disse que fatores além da temperatura, como competição entre espécies, explicam a decorrência de árvores de florestas de planície estarem se movendo para baixo.
De acordo com as Nações Unidas, um dos principais efeitos das mudanças climáticas é o aumento da temperatura da superfície global. Por isso, o estudo de Bergamin é o primeiro a dar evidências de mudanças climáticas na Mata Atlântica catarinense.
A elevação de temperatura da superfície global é causada conforme a concentração dos gases de efeito estufa aumenta – o que geralmente é ocasionado por fatores relacionados à ação humana como, por exemplo, o desmatamento florestal. Quando as árvores são derrubadas, elas liberam o carbono armazenado durante a fotossíntese.
Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, restam 24% da floresta original, concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Desses, somente 12,4% são florestas maduras e bem preservadas. Grande parte do desmatamento no bioma contribuiu para o aumento da temperatura local, observada no estudo de Bergamin.
Além de favorecer a competição entre espécies das áreas florestais da Mata Atlântica, as temperaturas elevadas causam incêndios com mais facilidade.
Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente do que a anterior. O ano de 2023 foi confirmado como o ano mais quente desde 1850 pela Organização Mundial de Meteorologia. De acordo com levantamento da organização, a temperatura de 2023 foi 1,45 °C superior à média do período pré-industrial.
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