Meta e TikTok em transe: a migração para outras redes
Lucas Zacari
17 de janeiro de 2025(atualizado 19/01/2025 às 15h31)Pixelfed e Red Note têm atraído americanos em meio a decisões controversas da empresa de Mark Zuckerberg e à obrigação de venda da operação da plataforma chinesa nos EUA para um dono local
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O aplicativo RedNote
O Pixelfed, uma rede social de fotos sem anúncios, de código aberto, descentralizada e com feed cronológico, lançou seu aplicativo para iOS nessa terça-feira (14). A versão para Android estava disponível desde o dia 10 e, até a manhã dessa sexta-feira (17), a plataforma contava com quase 200 mil usuários.
Outro aplicativo que tem aumentado o número de usuários americanos foi o RedNote. A rede social chinesa – que é chamada originalmente Xiaohongshu (“pequeno livro vermelho”, em tradução livre) – é semelhante ao Tik Tok e alcançou a primeira posição da App Store de aplicativos gratuitos para download na segunda-feira (13). Nesse dia, o RedNote contou com quase três milhões de novos usuários ativos, segundo análise da empresa de estatística Similarweb.
A migração de usuários acontece enquanto redes sociais tradicionais passam por turbulências. A Meta – dona do Facebook, Instagram e Whatsapp – anunciou que irá encerrar o programa de moderação de conteúdo. Enquanto isso, a ByteDance empresa dona do Tik Tok, tem até domingo (19) para vender a rede social para um dono americano ou ser banida do país.
Neste texto, o Nexo mostra como acontece a migração de usuários americanos para as redes sociais alternativas.
O Pixelfed faz parte de um universo de redes sociais com conteúdo e seguidores intercambiáveis, chamado de fediverse. Todas elas foram feitas a partir do protocolo aberto ActivityPub. Na ciência da computação, protocolos são um conjunto de regras que possibilitam a comunicação, a transferência de dados e a conexão entre dois ou mais dispositivos diferentes.
Alguns exemplos de redes sociais que fazem uso do ActivityPub são o Mastodon, uma espécie de X (antigo Twitter); o PeerTube, para vídeos; e o Lemmy, semelhante aos fóruns do Reddit. O Threads, da Meta, está adicionando partes desse protocolo em seu código para torná-lo conectado com as redes sociais do fediverse.
Esse modelo permite que o usuário possa importar dados e listas de seguidores entre redes sociais. Além disso, é possível visualizar e fazer comentários sobre uma foto publicada no Pixelfed diretamente no Mastodon, por exemplo.
O Pixelfed foi criado pelo canadense Daniel Supernault em novembro de 2018, e suas primeiras versões estavam disponíveis somente para computadores. O código aberto da plataforma está disponível no Github, site de compartilhamento de projetos de desenvolvimento colaborativo.
A dinâmica é muito semelhante à do Instagram: os usuários compartilham fotos e vídeos em seu perfil, além de conversar com outras pessoas. No entanto, a rede social afirma que não há algoritmos ou anúncios para determinar o que será entregue para cada um, com as postagens sendo exibidas de forma cronológica.
Ao fazer o se registrar na plataforma, os usuários do Pixelfed podem entrar em algum dos servidores já cadastrados pela comunidade – o principal deles é o pixelfed.social –, ou criar um novo. Já existe, por exemplo, um servidor brasileiro, mas com menos de 200 usuários até essa sexta-feira (17).
40,6 milhões
é o número de postagens já feitas no pixelfed.social
De acordo com o site de estatísticas do pixelfed.social, houve um aumento de cerca de 51,7% de novos usuários desde o dia 13 de janeiro. O servidor teve um aumento de 131.717 para 199.820 cadastrados.
O aumento de usuários aconteceu após a Meta deletar publicações que contivessem o endereço da nova rede social. A alegação dada no Instagram e no Facebook é que as postagens eram spams e que estariam levando a conteúdo enganoso.
Em resposta ao site de notícias de tecnologia Engadget, um representante da Meta afirmou que a atitude foi um erro e que as publicações seriam restauradas.
Além disso, houve um aumento de usuários no Pixelfed após a Meta anunciar que irá encerrar seu programa de moderação de conteúdo. Em aceno ao presidente eleito Donald Trump, a big tech encerrará o serviço de checagem de informações nas suas redes sociais nos Estados Unidos, retirou temas LGBTI+ de seu aplicativo de mensagens e mudou as suas diretrizes sobre discurso de ódio.
Daniel Supernault, criador do Pixefed, por sua vez, foi na direção contrária de Mark Zuckerberg a e lançou uma Carta de Direitos da Plataforma Digital logo após o anúncio da Meta. O documento traz princípios éticos para as redes sociais, garantindo privacidade, dignidade e justiça no ambiente online.
A Suprema Corte dos Estados Unidos chancelou nesta sexta-feira (17) a lei de nacionalização do Tik Tok em prol da segurança nacional. A decisão acontece dois dias antes do prazo final para a empresa chinesa ByteDance encontrar um comprador americano ou a rede social ser banida do país.
O TikTok acabou saindo do ar neste sábado (18). O aplicativo saiu das lojas virtuais da Apple e do Google e os usuários americanos encontraram a seguinte mensagem: “Uma lei que proíbe o TikTok foi promulgada nos EUA. Infelizmente, isso significa que você não pode usar o TikTok por enquanto. Estamos felizes que o presidente Trump indicou que trabalhará conosco em uma solução para restabelecer o TikTok assim que assumir o cargo. Fiquem ligados”
Apesar de a proibição da rede social ter sido um raro consenso partidário entre democratas e republicanos no Congresso, o presidente eleito Donald Trump prometeu suspendê-la após tomar posse na segunda-feira (20). Em publicação na Truth Social, Trump sugeriu a venda de 50% das ações da operação americana do TikTok, num regime de copropriedade com a ByteDance.
Com a proximidade do banimento do Tik Tok, os americanos encontraram no RedNote uma alternativa de rede social de vídeos curtos. Criada como um guia de compras em 2013, a plataforma evoluiu para uma rede social com conteúdo, principalmente, de viagens, maquiagem e moda – a função de compras segue no aplicativo.
300 milhões
é o número de usuários mensais no RedNote, com predominância de mulheres na faixa dos 20 a 30 anos
A rede social consegue atrair grandes personalidades mundiais para fazer publicidade. O jogador francês Kyllian Mbappe, atualmente no Real Madrid, passou a fazer parte do Xiaohongshu em 2024 e fez propagandas indicando-a como o melhor local para se pesquisar dicas de estilo de vida.
Os novos usuários americanos criaram a “tiktokrefugee” (“refugiados do Tik Tok”, em tradução livre) para se identificar no aplicativo. A hashtag contava com mais de 111 mil postagens até sexta-feira (17).
Os usuários chineses que já estavam no aplicativo deram boas-vindas aos americanos do RedNote. Há uma série de vídeos ensinando como mexer no aplicativo ou de explicações culturais sobre a China.
Outro tópico levantado nas postagens é como lidar com a censura chinesa. Nos comentários, fala-se, principalmente, em evitar conteúdos políticos. Uma reportagem da emissora americana CBS News afirma que, ao pesquisar o nome do presidente chinês Xi Jinping ou os termos “Free Hong Kong”, nenhum conteúdo era apresentado.
Segundo reportagem da revista americana Time desta quinta-feira (16), o RedNote já começou a se preparar para o grande afluxo de novos usuários, procurando urgentemente moderadores de conteúdo em inglês.
Apesar da entrada de americanos, é provável que o RedNote passe por um processo semelhante de banimento ao que o Tik Tok está sofrendo em solo americano. A lei que proibiu a operação do aplicativo da ByteDance é aplicada para toda plataforma com mais de um milhão de usuários mensais, que permita o compartilhamento de conteúdo e seja de uma empresa sediada em países não aliados, como Coreia do Sul, China, Irã e Rússia.
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