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Pebolim, totó, Fla-Flu ou pacau? A história do futebol de mesa

Eduardo de Souza Gomes

27 de janeiro de 2019(atualizado 28/12/2023 às 02h26)

Entenda quais são as origens do pebolim no Brasil e como a modalidade busca se profissionalizar

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ARTIGO ORIGINAL

Pebolim, Totó, Fla-Flu ou Pacau? Um breve histórico do campo esportivo no Brasil

Ludopédio

7 de janeiro de 2019

Autoria: Eduardo de Souza Gomes

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FOTO: FOTO-RABE/DIVULGAÇÃO

Pebolim, Totó, Fla-Flu ou Pacau? A história do futebol de mesa

Pebolim, Totó, Fla-Flu ou Pacau? As variações culturais existentes em cada região deixam dúvidas acerca do nome correto a ser utilizado quando nos referimos ao “Table Soccer” em terras brasileiras, modalidade de futebol de mesa muito difundida por todo o mundo desde o século 20 (não confundir com o futebol de botão, outra modalidade esportiva que também é conhecida no Brasil como futebol de mesa).

Oficialmente, o nome utilizado no Brasil para designar esse esporte é o “pebolim”, o que não impede que em determinadas localidades seus praticantes, profissionais ou não, o chamem de totó (no Rio de Janeiro e parte do Nordeste), Fla-Flu (no Rio Grande do Sul) ou até mesmo pacau (em Santa Catarina). Além disso, em diferentes países, a nomenclatura também se modifica: matraquilhos em Portugal; futbolín na Espanha; metegol na Argentina; foosball nos EUA; baby-foot na França e Tischfussball na Alemanha.

Como forma de facilitar o entendimento, e sem desconsiderar as variações regionais existentes, utilizarei o nome “pebolim” na sequência do texto, por entender ser essa a nomenclatura oficial utilizada pela federação que gere o esporte no país. Entretanto, vale a pena pensarmos: quando e onde essa prática, tão popular em bares, clubes e escolas de todo o mundo, surgiu e se difundiu?

As origens do pebolim são confusas e indefinidas. Ainda carecendo de maiores pesquisas sérias, muitas são as versões apontadas como referências acerca dos primórdios do pebolim no mundo. As versões mais aceitas sobre o início da modalidade, são as que apontam a Espanha como palco inicial. Todavia, os alemães também reivindicam o pioneirismo no desenvolvimento desse esporte.

Os espanhóis defendem, segundo André Martins Gonçalves, a hipótese de que o pebolim teria sido inventado no calor do momento da Guerra Civil Espanhola.

Alexandre de Fisterra, o responsável, teria criado o jogo para que crianças feridas, impossibilitadas de jogar futebol assim como ele, pudessem praticar uma variação do esporte. Segundo essa versão, o galego teria patenteado a invenção em 1937, mas perdeu os papéis da patente.

Na Alemanha, a hipótese defendida é a de que, já em 1930, o esporte era praticado no país. Divergências de versões à parte, o que se sabe concretamente é que apenas em 2002 foi criada uma federação internacional para gerir a modalidade: a International Table Soccer Federation (ITSF). Desde então, é essa a entidade representativa do pebolim em todo o mundo, sendo a organizadora das Copas do Mundo e demais campeonatos mundiais.

No Brasil, a modalidade chegou nos anos 1950, período marcado pelo nacional-desenvolvimentismo e pelo aumento das trocas culturais no país, notadamente no que se diz respeito à consolidação de um mercado. A chegada de distintas manifestações fez com que esse esporte se popularizasse em bares, clubes e escolas, porém ainda com base nas mesas não profissionais. Mas qual a diferença entre as mesas profissionais e as não profissionais?

As mesas profissionais se diferenciam pelo material do boneco, pela precisão na realização de chutes e passes, tal como na formação dos “jogadores”. Enquanto nas mesas não profissionais, popularmente chamadas no Brasil de “mesas canoas”, a formação dos bonecos de linha é, normalmente, a 3-4-3, na mesa profissional se utiliza a formação 2-5-3, valorizando assim o número de bonecos no meio de campo do jogo. Vários são também os modelos de mesas profissionais, sendo a americana “Tornado” e a alemã “Leonhart” dois dentre os mais conhecidos.

Somente em 2007 o Brasil passou a ter uma federação que busca difundir o esporte com mesas profissionais, a Febrape – Federação Brasileira de Pebolim, inicialmente conhecida como Associação Brasileira de Pebolim. Com sede em São Vicente, região litorânea do estado de São Paulo, desde sua criação a entidade já conseguiu enviar equipes brasileiras para seis mundiais e três Copas do Mundo, principais competições de pebolim. O presidente da federação desde sua fundação, Clayton Fonseca, destaca que buscou no exterior referências para desenvolver o esporte no país: “trouxemos tudo o que aprendemos para o Brasil e começamos a organizar torneios oficiais a fim de apontar nossos melhores jogadores para representar lá fora.”

Atualmente um dos principais desafios da Febrape é conglomerar jogadores que estejam interessados a jogar o pebolim. Ainda sendo um esporte com um campo incipiente e poucos financiamentos, muitos entendem que esse é um cenário não muito favorável para adentrarem na modalidade profissionalmente, preferindo apenas os jogos amadores nas “mesas de bar”. Portanto, mais do que organizar torneios nacionais e/ou estaduais, aos quais são utilizados para se desenvolver os rankings e formar a equipe nacional que disputa os campeonatos mundiais, a federação tem se preocupado em organizar um grupo de pessoas que esteja, antes de tudo, interessada em simplesmente jogar pebolim: “o papel e os objetivos da Febrape são atrair jogadores de todo o Brasil, descobrir novos talentos, unir e preparar jogadores que demonstrem potencial e que queiram levar o esporte a sério para competir na Copa do Mundo e nos Mundiais realizados nos EUA e na Europa. […] Estar cada vez mais visível a todos utilizando os meios possíveis para a atração tanto de jogadores já existentes quanto de novos adeptos.”

Portanto, esse desafio de ampliar o número de adeptos da modalidade tem sido o principal foco dos amantes desse esporte pelo país. A partir de redes sociais (como Facebook e, principalmente, grupos de WhatsApp), a Febrape estabelece um canal de comunicação com todos os interessados em disputar campeonatos profissionais ou, simplesmente, jogarem o pebolim de forma despretensiosa. Esse movimento tem estimulado a formação de grupos em distintos estados, para além das realidades paulista e capixaba, que são, até o momento, as mais avançadas nacionalmente.

Como exemplo, podemos citar o caso do Rio de Janeiro. Nos últimos anos, vários campeonatos estão sendo realizados a nível estadual na localidade, contando com a participação de competidores de diferentes municípios. Inicialmente organizados por Marcio Belmonte ainda com a “mesa canoa”, ultimamente os competidores do estado estão se aperfeiçoando e disputando suas competições em mesas profissionais, após o contato inicial de dois de seus maiores nomes locais, Luciano Santos e Misael Silva, com as mesas desenvolvidas pela Febrape em São Paulo.

A partir do incentivo dos atletas Luciano e Misael em 2018 foi realizado o 1º Torneio Intermunicipal de Totó do Rio de Janeiro, contando com participantes de variados municípios fluminenses (Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Nilópolis, Nova Friburgo e Guapimirim) e realizado em duas edições (setembro e novembro de 2018), nas categorias individual iniciante, individual livre e duplas.

Percebe-se, com o avanço de mesas profissionais pelos estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro e outros, um avanço qualitativo no desenvolvimento desportivo dos atletas que disputam a modalidade pelo Brasil. Esse movimento tem incentivado, também, a busca pela criação de federações estaduais que possam, ligadas à Febrape, melhor difundir e organizar campeonatos que conglomerem novos atletas em cada região do país. Clayton Fonseca destaca que a falta de patrocínio, muitas das vezes impede a federação de viajar o Brasil e levar o aprendizado e crescimento da prática do pebolim como esporte para todos os cantos, como gostaríamos, e de fazer divulgação em mídia para atrair mais adeptos. Até hoje, todos os competidores que tiveram a oportunidade de disputar grandes torneios foram com recursos próprios. Devido a isso, não conseguimos enviar nossos melhores jogadores, apenas os que tinham recursos suficientes para arcar com as despesas por si próprios.

Buscar desenvolver o hábito de se jogar o pebolim, tal como fortalecer as competições profissionais em diferentes estados pelo país, é um dos caminhos centrais para o estabelecimento dessa modalidade no BRasil, consolidando assim jogadores que possam não só disputar os campeonatos mundiais com regularidade.

Este texto é uma republicação de artigo publicado no site ludopédio

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