
Lavar as mãos diminui o número de micróbios e ajuda a prevenir a disseminação de doenças
Conforme a ameaça do coronavírus cresce, os centros de controle e prevenção de doenças e outros órgãos de saúde pública estão destacando a importância de lavar as mãos .
A prevenção se torna essencial para deter a disseminação do vírus, uma vez que não há vacina para preveni-lo e nem antivirais para tratá-lo. Como uma solução tão simples e não tecnológica pode fazer diferença?
Lembre-se: o coronavírus se espalha facilmente por microgotas da respiração, tosse e espirros . Como nossas mãos tocam muitas superfícies, elas podem pegar micróbios, incluindo vírus. Então, tocando nossos olhos, narizes e bocas com as mãos contaminadas, os patógenos podem infectar o corpo.
Como microbióloga , penso muito sobre micróbios, como bactérias e vírus, e como eles interagem com hospedeiros animais, seja para mantê-los saudáveis, seja para causar doenças. Fiquei chocada ao ler um estudo que indicava que 93,2% de 2.800 entrevistados em uma pesquisa não lavavam as mãos depois de tossir ou espirrar .
Por isso, é importante explicar como lavar as mãos diminui o número de micróbios nelas e ajuda a prevenir a disseminação de doenças contagiosas.
Uma abordagem forte
Bactérias e vírus são diferentes de diversas formas. Bactérias são organismos unicelulares que podem se reproduzir sozinhos, enquanto vírus são constituídos por um núcleo de material genético encapsulado por uma camada proteica e só podem se reproduzir unindo-se a células hospedeiras. Como vírus não têm as organelas necessárias para se reproduzir, eles “sequestram” o maquinário celular das células hospedeiras para fazer múltiplos novos vírus.
Essas diferenças são o motivo de antibióticos não matarem vírus. Esses medicamentos atacam estruturas específicas nos componentes celulares de bactérias, ausentes em vírus.
Apesar das diferenças, no entanto, o melhor jeito de prevenir doenças causadas tanto por bactérias e vírus é lavar as mãos efetivamente.
Existem duas estratégias para diminuir o número de micróbios nas suas mãos.
O primeiro é diminuir a biomassa total de micróbios – isto é, diminuir a quantidade de bactérias , vírus e outros tipos de microorganismos. Fazemos isso ensaboando e enxaguando com água. A química do sabonete ajuda a remover microorganismos das nossas mãos ao acentuar as propriedades escorregadias da nossa própria pele.
A segunda estratégia é matar os micróbios. Fazemos isso usando produtos com um agente bactericida como álcoois, cloro, peróxidos, clorexidina ou triclosano. No entanto, a eficácia desses agentes pode variar de acordo com o micróbio.
Sabão e água são suficientes?
Alguns trabalhos acadêmicos mostram que sabonetes antibacterianos são mais eficazes em reduzir alguns tipos de bactérias em mãos sujas do que sabonetes sem agentes bactericidas.
No entanto, há um problema. Algumas células bacterianas nas nossas mãos podem ter genes que possibilitam que elas sejam resistentes a um certo tipo de agente bactericida. Isso significa que, depois de o bactericida matar algumas das bactérias, algumas variedades podem prosperar.
Além disso, os genes que permitem às bactérias serem resistentes podem ser passados para outras bactérias, originando variedades mais resistentes.
Importante em tempos de coronavírus: agentes bactericidas não matam vírus. Com isso em mente, você pode querer ficar com o velho sabonete e água.
De volta à escola
Para lavar as mãos, o Centro de Controle de Doenças dos EUA recomenda :
Molhar as mãos com água limpa
Aplicar sabonete e ensaboar/esfregar cada canto das mãos de 20 a 30 segundos (aproximadamente o tempo de cantar “parabéns para você” duas vezes)
Enxaguar bem com água corrente limpa
Secar as mãos com um papel limpo ou secar ao vento.
Durante os 20 a 30 segundos ensaboando, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda incorporar seis movimentos para cobrir todas as partes das mãos.
Se sabonete e a água não estiverem disponíveis, o Centro de Controle de Doenças recomenda utilizar um desinfetante a base de álcool , com um indíce de ao menos de 60% de álcool. Álcoois têm um largo espectro de atuação bactericida e são menos seletivos à resistência se comparados a outros agentes bactericidas. Embora desinfetantes a base de álcool possam não funcionar em todas as classes de germes, a OMS recomenda seu uso para matar vírus que possam estar nas suas mãos.
Nem todos os micróbios são germes
A presença de alguns micróbios não é necessariamente algo ruim. Na verdade, muitos dos micróbios que vivem em nós são essenciais para a nossa saúde.
Vivemos em um mundo microbial: t rilhões de diferentes micróbios colonizam a nossa pele, intestino e orifícios. Coletivamente, esse consórcio de bactérias, arquéias, fungos e vírus são chamados de microbiota. Uma abundância de pesquisas sugere que as associações de hospedeiros animais com a sua microbiota são fundamentalmente importantes para a biologia do hospedeiro.
Nossa microbiota pode nos proteger de germes ao treinar o nosso sistema imunológico e pela resistência à colonização – a característica da microbiota intestinal de bloquear a colonização de patógenos. Existem evidências sugerindo que bactérias comensais regulam vírus invasores e, em alguns casos, têm um papel supressor de infecções . Por exemplo, bactérias podem prevenir a infecção pelo vírus da gripe comprometendo ou encurralando-o diretamente, ou produzindo metabolitos que diminuem a estabilidade dos viriões.
Embora precisemos de mais pesquisas para entender as interações complexas entre comunidades microbiais com células hospedeiras, trabalhos consistentes mostram que uma população diversa de micróbios e um equilíbrio dessa comunidade é importante para a nossa saúde.
Além de lavar as mãos
Então, qual é a mensagem principal?
Não há dúvidas de que lavar as nossas mãos com sabonete líquido e água é efetivo para reduzir a disseminação de microorganismos infecciosos, incluindo aqueles resistentes a agentes antimicrobianos.
Quando você não tem a oportunidade de lavar as mãos depois de tocar superfícies suspeitas, use um desinfetante a base de álcool. Evite levar as mãos à boca, nariz e olhos.
Além disso, mantenha uma microbiota saudável limitando as condições de estresse, dormindo o suficiente e fertilizando os seus micróbios intestinais com uma gama de alimentos naturais. Não é apenas um mundo pequeno, mas também um mundo sujo.
Michelle Sconce Massaquoi é candidata ao doutorado em microbiologia na Universidade do Oregon.