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A evolução dos ovos de páscoa, da galinha ao chocolate

Serin Quinn

07 de abril de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h21)

Pesquisadora da Universidade de Warwick, no Reino Unido, explica como surgiu a tradição de presentear com alimentos durante a Páscoa

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ARTIGO ORIGINAL

Easter eggs: their evolution from chicken to chocolate

The Conversation

Março de 2023

Autoria: Serin Quinn

Tradução: Mariana Marques

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FOTO: PRAKTYCZNY PRZEWODNIK/FLICKR

Ovos de Páscoa

Ovos de Páscoa

Muitas tradições da Páscoa – incluindo os pãezinhos quentes e carne de carneiro no domingo – derivam de crenças cristãs medievais ou até mesmo pagãs anteriores. O ovo de Páscoa de chocolate, no entanto, é uma versão mais moderna de uma tradição centenária.

Os ovos de galinha são alimentos da Páscoa há séculos. Eles simbolizam o renascimento e a renovação, o que os torna perfeitos para comemorar a história da ressurreição de Jesus, bem como a chegada da primavera no hemisfério norte.

Embora hoje em dia os ovos possam ser consumidos durante o período de jejum da quaresma, na Idade Média eles eram proibidos junto com a carne e os laticínios. Os chefs medievais frequentemente encontravam maneiras surpreendentes de contornar isso, até fazendo ovos falsos para substituí-los.

Para a Páscoa – período de celebração – os ovos e as carnes voltaram à mesa.

Mesmo depois que os ovos foram permitidos nas refeições do jejum, eles mantiveram um lugar especial na festa da Páscoa. O autor do livro de receitas do século XVII, John Murrell, recomendou “ovos com greene sawce”, uma espécie de pesto feito com folhas de azedinha (erva-vinagreira).

Em toda a Europa, os ovos também eram dados como dízimo para as igrejas locais na sexta-feira santa. Talvez o hábito de dar ovos de presente tenha surgido a partir desse costume. A prática desapareceu em muitas áreas protestantes após a Reforma, mas algumas aldeias inglesas mantiveram a tradição até o século XIX.

Não se sabe exatamente quando as pessoas começaram a decorar seus ovos, mas as pesquisas apontam para o século 13 , quando o rei Edward I deu ovos embrulhados em folhas de ouro aos seus cortesãos.

Alguns séculos depois, sabemos que as pessoas em toda a Europa estavam tingindo seus ovos de cores diferentes. Geralmente escolhiam o amarelo, usando casca de cebola, ou o vermelho, usando rabanete ou beterraba. Acredita-se que os ovos vermelhos simbolizam o sangue de Cristo. Um autor do século XVII sugeriu que essa prática remontava aos primeiros cristãos da Mesopotâmia, mas é difícil ter certeza.

Na Inglaterra, a forma mais popular de decorar era com pétalas, que davam estampas coloridas. O Museu Wordsworth no Lake District ainda tem uma coleção de ovos feitos para os filhos do poeta na década de 1870.

Dos ovos tingidos aos ovos de chocolate

Embora tingir ovos ainda seja uma atividade comum na Páscoa, hoje em dia os ovos são mais associados ao chocolate. Mas quando essa mudança aconteceu?

Quando o chocolate chegou à Grã-Bretanha no século XVII, era uma novidade excitante e muito cara. Em 1669, o c onde de Sandwich pagou £ 227 – o equivalente a cerca de £ 32.000 hoje – por uma receita de chocolate do rei Carlos II.

Hoje, o chocolate é considerado um alimento sólido, mas na época era uma bebida, geralmente temperada com pimenta malagueta seguindo as tradições astecas e maias. A bebida era diferente de tudo que os ingleses já haviam experimentado. Um autor chamou de “American Nectar” : uma bebida para os deuses.

O chocolate logo se tornou uma bebida famosa entre a aristocracia, muitas vezes escolhido como uma forma de presente, um hábito que perdura até hoje. Também foi apreciado nos cafés londrinos recém-inaugurados. O café e o chá também haviam acabado de ser introduzidos na Inglaterra, e todas as três bebidas estavam mudando rapidamente a forma como os britânicos interagiam socialmente uns com os outros.

Os teólogos católicos conectaram o chocolate com a Páscoa, mas com a preocupação de que beber chocolate fosse contra as práticas de jejum durante a quaresma. Após um debate acalorado, foi acordado que o chocolate feito com água pode ser aceitável durante os jejuns. Pelo menos na Páscoa – uma época de festa e celebração – o chocolate era bom.

O chocolate ainda era caro no século 19, quando a Fry’s (agora parte da Cadbury) fez as primeiras barras de chocolate sólidas em 1847 , revolucionando o comércio do alimento.

Na era vitoriana, o chocolate se tornou muito mais acessível, mas ainda uma espécie de extravagância. Trinta anos depois, em 1873, a Fry’s desenvolveu o primeiro ovo de Páscoa de chocolate como um mimo de luxo, fundindo as duas tradições de presentear.

Mesmo no início do século 20, esses ovos de chocolate eram vistos como um presente especial, e muitas pessoas nem comiam os que ganhavam. Uma mulher no País de Gales guardou um ovo de 1951 por 70 anos e um museu em Torquay comprou recentemente um ovo que estava guardado desde 1924 .

Foi apenas nas décadas de 1960 e 1970 que os supermercados começaram a oferecer ovos de chocolate mais baratos , na esperança de lucrar com a tradição da Páscoa.

Com as crescentes preocupações sobre a produção de chocolate a longo prazo e a escassez de ovos provocada pela gripe aviária, as futuras Páscoas podem parecer um pouco diferentes. Mas se há algo que os ovos de Páscoa nos podem mostrar é a adaptabilidade da tradição.

Serin Quinn é pesquisadora do Departamento de História da Universidade de Warwick

A seção “Externo” traz uma seleção de textos cedidos por outros veículos por meio de parcerias com o Nexo ou licenças Creative Commons.

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